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Evento fomenta cultura e turismo

publicado: 02/09/2025 08h46, última modificação: 02/09/2025 08h46
Passando por Dona Inês, o Festival de Inverno das Serras permitiu uma imersão nas artes e na gastronomia locais
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Outra atração foi a visita ao ateliê de Sérgio Teófilo, artista plástico quilombola que reaproveita a madeira para confeccionar itens de decoração | Foto: Roberto Guedes inspirados na biodiversidade do município

por Teresa Duarte*

Do dia 27 a 31 de agosto, o Festival de Inverno das Serras movimentou a economia e a cultura do município de Dona Inês. A cidade foi a quinta a sediar o novo evento itinerante, que já passou por Serra da Raiz, Barra de Santa Rosa, Cuité e Araruna, seguindo para sua última parada neste ano, Cacimba de Dentro, que receberá a agenda especial de 10 a 14 de setembro. Promovida pelo Fórum de Turismo do Curimataú, a iniciativa conta com o apoio das prefeituras dos municípios-sedes e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Paraíba (Sebrae-PB), com patrocínio do Banco do Nordeste e do Governo do Estado, mediante a Secretaria da Cultura (Secult) da Paraíba.

Na última sexta-feira (29), em meio aos visitantes que chegavam a Dona Inês para o fim de semana, a Empresa Paraibana de Turismo (PBTur) levou um grupo de jornalistas para vivenciar alguns atrativos da diversificada programação no município, com música, teatro, cinema, oficinas, cortejos culturais e turismo de aventura. O roteiro foi iniciado no ateliê do artesão e escultor Sérgio Teófilo, seguido do Café Quilombola na Associação do Quilombo Cruz da Menina. Depois, o passeio prosseguiu para um delicioso jantar à base de umbu, incluindo um momento relaxante, com a apresentação de um concerto da Orquestra Prima — desenvolvida pelo Programa de Inclusão Através da Música e das Artes, do Governo do Estado. Além de uma feira de gastronomia e artesanato, o dia contou com shows musicais de Beto Pholux, Tadeu Mathias e Renata Arruda.

Organização

A culinária foi, de fato, um dos destaques entre os atrativos do festival — não apenas por causa do jantar servido no Bar da Cícera, que se especializou, a partir de uma consultoria do Sebrae-PB, no manejo do umbu, mas também pelos sabores únicos experimentados no Quilombo Cruz da Menina. E, mais do que os encantos gastronômicos, o local é um destino inesquecível para quem gosta de ouvir relatos e conhecer as lutas dos povos originários, mergulhando em um dia de profunda imersão na arte, na história e nas tradições ancestrais que moldaram a comunidade quilombola local.

Ao visitar a Associação da Comunidade dos Remanescentes do Quilombo Cruz da Menina, o grupo de jornalistas pôde conversar com uma de suas integrantes, Dione Maria Silva, que explicou como a entidade surgiu para fortalecer e valorizar o quilombo. “A associação foi criada em 2008 e conta, atualmente, com cerca de 170 integrantes. A trilha quilombola veio para agregar as nossas tradições ao turismo, gerando fonte de renda para a nossa comunidade, por meio dos mais diversificados produtos, a exemplo da gastronomia, do artesanato, das histórias etc”, afirmou.

Dione trabalha na produção de doces e cocadas de tipos variados, que são comercializados na associação. Já as irmãs Rafaela e Ramona Henrique, também associadas, dedicam--se a promover uma experiência turística que reúne sabores, música e paisagem natural: é o Café Quilombola, que acontece diante do monumento local Cruz da Menina. A área oferece uma vista belíssima, de onde os visitantes podem apreciar as serras da região e um lindo pôr do sol, enquanto são servidas delícias como um café típico com tapioca de coco, pé de moleque, cocadas, torradas, beiju e geleia de frutas, entre outras. Tudo isso pode ser desfrutado ao som de uma banda de pífanos, formada pelos jovens Douglas Darlan, José Wesley Mane e Gilcleyson Teófilo, moradores da comunidade.

O roteiro turístico pelo Quilombo Cruz da Menina ainda abrange uma visita à Capela Cruz da Menina, conduzindo os turistas pela história religiosa da região. Conforme Rafaela Henrique, o templo foi erguido em memória de uma criança chamada Dulce, que chegou à área com sete anos de idade, em companhia dos pais, solicitando água e comida a um fazendeiro local; contudo, o pedido foi negado e a criança faleceu, sendo sepultada no terreno onde se construiu a capela.

Talento

Já na Trilha Quilombola: do Barro à Chita, os turistas têm a oportunidade de conferir o trabalho feito pelo artista plástico quilombola Sérgio Teófilo, famoso por suas esculturas em madeira que celebram a biodiversidade da região. Ele lembra que começou a trabalhar aos 14 anos, envolvendo-se em várias atividades ao longo do tempo: na agricultura, nas usinas de cana-de-açúcar e na construção civil.

O salto em sua carreira ocorreu em 2009, quando Sérgio inscreveu-se em um curso de cerâmica no Quilombo Cruz da Menina e, graças às peças que criou durante a capacitação, participou de uma feira em Porto Alegre (RS), vendendo todas as suas obras em pouco tempo. A partir daí, Sérgio expandiu seu talento para o nicho artístico da madeira, passando a trabalhar com imburana-velada. O material é extraído de cercas vivas, encontradas nos terreiros da comunidade e reaproveitado na confecção de itens de decoração, ligados à fauna e à flora locais.

Tudo é feito com muito amor e a diversidade de cores e traços faz todo o diferencial das peças únicas, fazendo com que Sérgio tenha sido merecedor dos muitos prêmios que já ganhou.Atualmente, o artista é bastante requisitado para participar de exposições, documentários e eventos do mercado imobiliário.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de setembro de 2025.