Explorar a fotografia como ferramenta de autoconhecimento e de autovalorização é o ponto de partida do projeto de extensão Luz Negra: Jornalismo Antirracista, desenvolvido pelo curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Criada em 2018, a iniciativa, atualmente vinculada ao Programa Celso Furtado de Inovação Educacional e Desenvolvimento Regional, da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), já impactou mais de 470 estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio de escolas estaduais de Campina Grande e de municípios vizinhos.
Neste mês, em homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, o projeto promove quatro exposições fotográficas resultantes do ciclo de oficinas realizadas, ao longo dos últimos dois meses, nas escolas participantes.
Durante as atividades, os alunos aprendem sobre a história da fotografia e exploram o uso das lentes como instrumento de reflexão e transformação social, abordando temas como cultura negra, combate ao racismo, representatividade afro-brasileira e a valorização da beleza negra, tanto na mídia quanto na vida cotidiana.
Rostand Melo, professor e coordenador do Luz Negra, explica que muitos estudantes encerram as oficinas com uma compreensão mais profunda sobre quem são e como se reconhecem na sociedade. “Temos observado um aumento significativo, tanto na autoestima quanto na autoidentificação dos participantes. Durante os encontros, debatemos bastante a questão da identidade e percebemos que, muitas vezes, alunos que, no início, não se declaravam negros ou pardos, passam a se reconhecer dessa forma, ao fim das atividades. Isso é muito gratificante, porque mostra que conseguimos quebrar estigmas e estereótipos que impediam esses adolescentes de enxergar sua identidade de maneira positiva”, destacou o docente.
As exposições tiveram início ontem e permanecerão abertas à visitação até o dia 28 de novembro. Participam da iniciativa a Escola Cidadã Integral Técnica (Ecit) Bráulio Maia e a Escola Cidadã Integral (ECI) Solon de Lucena, em Campina Grande; a Ecit Plínio Lemos, em Puxinanã; e a Ecit Francisco Ernesto do Rêgo, localizada em Queimadas.
Experiência coletiva
Na Ecit Bráulio Maia, 30 alunos do 1o e do 2o ano do Ensino Médio participaram da oficina, sob a orientação de seu professor de Arte e História, Matheus Ramalho. Na análise do docente, a experiência representa uma oportunidade de expressão e diálogo para os estudantes.
“Acaba sendo um momento em que eles podem conversar sobre temas que nem sempre tiveram espaço para discutir — e isso é muito importante, especialmente na adolescência. Além disso, aprendem sobre a história da fotografia, experimentam diferentes tipos de câmeras e compreendem a técnica por trás das imagens. Muitos ficaram encantados ao conhecer câmeras analógicas, pois nem sabiam que, antes, as fotos eram feitas com filme”, relatou Matheus.
Após cinco encontros, os alunos optaram por realizar uma sessão de fotos no estilo editorial de moda, com o tema “A Estética da Periferia”. Durante a produção, puderam assumir diferentes papéis — como diretores de cena e modelos —, explorando elementos característicos da moda periférica, como camisetas de time, correntes, brincos e penteados black, valorizando a identidade e o estilo das comunidades urbanas.
“Para mim, foi uma questão de representatividade, de me ver em lugares dos quais, historicamente, pessoas negras não faziam parte. Acredito que nós somos formados pelo espelhamento — quando nos vemos em mais espaços, passamos a acreditar que pertencemos a eles”, afirmou Anne Louize da Silva, estudante do 1o ano que participou do projeto como modelo.
Para Thalita da Silva, que também cursa o mesmo ano, o ensaio foi essencial para fortalecer sua autoestima e autopercepção. “Valorizou muito a minha confiança. A foto feita com câmera profissional fica muito mais bonita e destaca detalhes que a do celular não consegue mostrar”, avaliou a estudante.
Vários rapazes também posaram para as imagens da exposição, que foram coletivamente selecionadas pelas turmas envolvidas. O aluno Felipe Lira ressaltou o impacto de se ver representado nas fotografias: “Fomos retratados como realmente somos, com nosso cabelo afro e nossa beleza negra”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de novembro de 2025.