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Falta prevenção e crescem casos de doenças oculares

publicado: 09/07/2017 00h05, última modificação: 08/07/2017 10h07
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Muitas pessoas têm problemas de visão e não sabem, o que acaba prejudicando a situação e levando até mesmo à cegueira - Foto: Flickr/AmyLovesYah_

tags: óculos de grau , compra , joão pessoa , camelôs , problemas


Adrizzia Silva
- Especial para A União

Nesta segunda, 10 de julho, é comemorado o Dia Mundial da Saúde Ocular. Sendo um dos sentidos mais importantes, a visão requer alguns cuidados e, antes de tudo, a prevenção é fundamental. Embora a realização de exames preventivos regularmente não seja um hábito muito cultivado, muitas pessoas têm problemas de visão e não sabem, o que pode prejudicar a situação e levar até mesmo à cegueira. Tomando-se os devidos cuidados, desde o nascimento, as principais doenças da visão podem ser evitadas.

“Levar as crianças para fazer exames oftalmológicos deve ser rotina na vida dos pais”. É o que afirma o médico oftalmologista e responsável pelo setor de Oftalmologia da Maternidade Frei Damião, Luiz Antônio Trigueiro. Esse cuidado se torna ainda mais importante ao verificar os dados do levantamento ‘Condições de Saúde Ocular no Brasil’, realizado pelo Conselho de Oftalmologia. De acordo com o documento, 29 mil crianças cegas devido às doenças oculares poderiam ter sido tratadas precocemente e evitado a perda da visão.

Segundo Luiz Trigueiro, a atenção com a saúde ocular deve acontecer durante todas as fases da vida. Tem início na gestação, nos cuidados com a mãe durante o pré-natal, e nos recém-nascidos submetidos ao ‘teste do olhinho’, capaz de detectar, ainda na maternidade, doenças da visão. No entanto, doenças mais sérias podem ser diagnosticadas com exames específicos e consultas ao oftalmologista. Depois, as avaliações são semestrais até os dois anos de idade, na sequência, são anuais ou a cada dois anos.

“Ainda quando a criança é bebê, já é possível diagnosticar se há, por exemplo, catarata e glaucoma congênitos. Um pouco mais tarde o retinoblastoma, um tumor maligno que pode causar a morte ou grande dificuldade de enxergar, pois não permite o desenvolvimento da visão”, alerta Trigueiro. Todavia, “os problemas mais comuns na visão são os vícios de refração, em que as pessoas necessitam de grau, como a hipermetropia, astigmatismo, miopia e estrabismo”.

Sintomas como ardência, lacrimejamento, piscar em excesso, dores de cabeça, coceira nos olhos e dificuldade na escola são sinais de alerta. “Algumas crianças que não enxergam bem têm dificuldades na alfabetização, não têm um bom desempenho escolar e podem ter diagnóstico de déficit de atenção. Um exame oftalmológico de rotina feito num momento correto pode vir a ser determinante no desenvolvimento, no aprendizado e até no futuro da criança”, lembra o especialista.

Atualmente, muitas escolas exigem no início do ano letivo um laudo comprovando a acuidade visual de cada aluno. “É preciso ter muita atenção, pois, algumas vezes, apenas um dos olhos pode ter um grau mais elevado e o outro enxergar bem, situação que pode ter sido provocada por uma doença genética, congênita ou pelo simples fato de ser míope ou hipermetrope de somente um olho”, explica.

O oftalmologista é o único profissional habilitado para realizar exames de visãoEm João Pessoa, a Secretaria Municipal de Saúde, através de atividades do Programa de Saúde na Escola (PSE), conduzido pelas Escolas e PSFs da capital, realiza exames periódicos nas crianças, com o objetivo de detectar alguma patologia o mais breve possível. “É muito importante o exame prévio por meios das triagens nas escolas, para identificar e corrigir de forma adequada qualquer patologia”, afirma Trigueiro.

O diagnóstico precoce é muito importante para o tratamento ser iniciado imediatamente, de forma a não deixar sequelas, pois o desenvolvimento funcional da visão, segundo o médico, ocorre em média até os oito anos de idade. “A partir de então aumenta muito a possibilidade do tratamento não obter o sucesso desejado, gerando uma limitação visual para o resto da vida”, comenta.

O médico ainda explica que a partir da adolescência e até os 40 anos, o cuidado deve ser intensificado. Além de algumas disfunções comuns, é importante destacar que cerca de sessenta milhões de pessoas sofrem de problemas visuais devido ao uso do computador, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se, ainda, que este número vem aumentando em um milhão a cada ano.

Indicações médicas alertam que, para cada 40 minutos do uso do computador, deve-se dar um descanso de 10 minutos para os olhos. O monitor do computador deve permanecer a 50 ou 60 centímetros de distância e um pouco abaixo da linha dos olhos. Ainda de acordo com a OMS, alguns sintomas da presença de problemas, decorrentes do uso incorreto do computador, são olhos secos, vermelhos e irritados, dores de cabeça, dores nas costas e no pescoço e dificuldade de focalização.

Contudo, a visão pode sofrer alterações naturalmente com o passar dos anos. “Depois dos 40 anos de idade a incidência de glaucoma (lesão do nervo óptico que pode provocar a cegueira) começa a aumentar, devido a estrutura anatômica do globo ocular que passa a ter algumas modificações. A partir dos 55 anos, o cristalino também deixa de funcionar, então isso já inicia a formação de uma catarata. Essas são patologias que pessoas de mais idade estão mais propícias, além de todos os outros problemas durante a juventude”, esclarece o Luiz Trigueiro.

Quando descobertos precocemente, grande parte desses problemas podem ser tratados ou prevenidos com as orientações de um especialista. Pessoas que já sofrem de doenças como diabetes, hipotireoidismo, colesterol alto, hipertensão, depressão e artrite e que tomam medicamentos regularmente, estão sempre mais sujeitas a efeitos colaterais que resultam em doenças oculares importantes. Sendo assim, o médico recomenda que, ao menos uma vez por ano, esse tipo de paciente faça uma consulta com um oftalmologista.

O Atendimento Oftalmológico em João Pessoa é realizado no Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS) – Jaguaribe e também em serviços conveniados com o SUS, como algumas clínicas particulares, Hospital Universitário e Hospital Edson Ramalho. E para acessar o atendimento especializado, o usuário deve se dirigir ao PSF mais próximo de sua casa, onde será avaliado e poderá ser encaminhado para o Atendimento Oftalmológico.

Optometristas e ópticos práticos não podem fazer exames nem prescrever lentes 

Para o presidente da Sociedade Paraibana de Oftalmologia (SPO), Rodrigo Almeida, alguns problemas demandam maior atenção, como nos casos de pacientes usuários de lentes de contato, que passaram por cirurgia refrativa, como miopia, glaucoma de difícil controle e portadores de retinopatia diabética ou degeneração macular relacionada à idade (DMRI).

Nesses casos as consultas com o oftalmologista devem ser regulares, para acompanhamento, e não apenas anuais. “Destacamos que é possível prevenir e tratar muitas enfermidades e quando o cuidado é iniciado precocemente as chances são ainda maiores”, lembra o presidente, acrescentando que no dia a dia algumas medidas são simples e contribuem para evitar doenças oculares.

“Mantenha os olhos sempre higienizados, utilize óculos de sol para se proteger do vento e das ações de raios UVA e UVB e evite coçá-los com frequência. No caso de olho seco, o profissional pode indicar lágrimas artificiais adequadas. Mediante qualquer queixa, como dor, olhos vermelhos ou falhas na visão, procure um oftalmologista”, orienta.

Outra questão bastante importante, levantada por Rodrigo, é o fato de que o único profissional capacitado para avaliar corretamente as condições de saúde ocular e, consequentemente, receitar, se for o caso, os óculos adequados para cada paciente, é o médico oftalmologista. “Optometristas e ópticos práticos não podem realizar exames, consultas e prescrever lentes e óculos. A importância do oftalmologista não se limita ao bom diagnóstico sobre a necessidade ou não do uso de lentes corretivas. Ele é habilitado a fazer o exame de grau dos óculos com dilatação de pupila (cicloplegia) e a medição da pressão ocular, exames fundamentais para o acompanhamento do paciente ao longo da vida”, esclarece.

É comum a abordagem com propagandas que anunciam ‘exame grátis’, ‘consulta grátis’, ‘facilitamos sua consulta’, ‘faça seus óculos e ganhe descontos’. Nesse sentido, a população é levada a erro ao realizar exames de vista com outros profissionais ou técnicos que usurpam a função do especialista. “Esses profissionais estão proibidos por lei de realizar exames e consultas, bem como de atender a população e/ou manter consultório”, afirma.

Também é habitual a compra de óculos prontos (principalmente os de sol) em camelôs ou farmácias, e isso é uma operação de risco. “Os óculos prontos vendidos nesses locais possuem o mesmo grau para os dois olhos, e são fabricados como produtos de massa, desconsiderando outras características individuais, como a distância entre as pupilas, que diferem de indivíduo para indivíduo. Além de que, não oferecem a proteção adequada quanto aos raios UV”, alerta.

O mesmo é válido para as lentes de contato estéticas. Além de todos os cuidados de assepsia ao utilizá-las. Bem como óculos em 3D, principalmente quando compartilhado constantemente, como em cinemas. Problemas como conjuntivite podem ser adquiridos durante esse processo se não tiver uma higienização adequada do objeto.

Teste do reflexo vermelho deve ser rotina nos recém-nascidos  

O teste do olhinho foi instituído por uma lei e deve ser realizado em maternidades públicas e particulares até a alta dos bebês

O Teste do Olhinho, também chamado de ‘teste do reflexo vermelho’, é um exame de triagem essencial para a avaliação da visão do recém-nascido, uma vez que possibilita a detecção de alterações oculares de forma precoce, possibilitando a orientação e a busca do tratamento adequado para cada caso quando necessário. Assim como o teste da orelhinha e do pezinho, é um teste simples e rápido que deve ser realizado até os 30 dias após o nascimento, entretanto é preferível que seja efetuado antes da alta médica da criança.

“Nessa avaliação é possível diagnosticar doenças como catarata congênita, possível descolamento de retina que nasça já com ele, glaucoma congênito, retinoblastoma, retinopatia na prematuridade, infecções intraoculares, traumas de parto e suspeitar da possibilidade de baixa visão. Esse teste é muito importante, pois o tratamento precoce de algumas dessas doenças pode evitar consequências que seriam desastrosas para visão e vida do bebê, ou até mesmo permitir o desenvolvimento normal da visão”, afirma o médico oftalmologista Luiz Trigueiro.

Na Maternidade Frei Damião, o teste do olhinho é complementado com o ‘exame do fundo de olho’, sendo possível o diagnóstico de outros problemas oftalmológicos que não seriam identificados através de teste do olhinho convencional. Segundo Trigueiro, esse exame é ainda mais importante em bebês prematuros e tem o objetivo principal de detectar a retinopatia da prematuridade, devendo ser repetido sempre que necessário, até que toda a retina esteja vascularizada. “Uma vez diagnosticado com essa patologia, deve-se tratar de forma imediata, com laserterapia”, afirma.

De acordo com números da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, 50% dos casos de doenças oculares graves ainda são descobertas quando os recém-nascidos já perderam parte da visão ou ficaram completamente cegos. “Dessa forma, podemos perceber o quanto o Teste do Olhinho é indispensável e que deve ser difundido como uma prática de fundamental importância para a saúde ocular dos bebês”, diz Luiz Trigueiro.

Vale lembrar que esse exame foi instituído por lei e deve ser realizado em maternidades públicas e particulares até a alta do recém-nascido. Além disso, desde 2010, o seu pagamento por parte dos planos de saúde, tornou-se obrigatório segundo Agência Nacional de saúde Suplementar (ANS).

“Se a criança não tiver passado pelo exame na maternidade, deve-se conversar com o pediatra responsável, na primeira consulta de acompanhamento de desenvolvimento do bebê”, alerta o oftalmologista, reforçando ainda que, caso o exame detecte algo, é importante procurar um oftalmologista para que ele possa analisar e determinar o melhor tratamento.

Preço é o que mais conta na compra

Como é comum encontrar ambulantes vendendo óculos pelo centro da cidade, o jornal A União entrevistou alguns pessoenses para saber se eles costumam comprar óculos dessa forma. Todos afirmaram usar ou já terem comprado em camelôs e afirmaram ter algum sintoma de problema na visão. Confira na íntegra o que eles disseram:

"Eu não acho adequado comprar esses óculos de camelô porque não faz bem. Até porque quando a gente coloca no rosto, a nossa vista, pelo menos a minha, eu sinto algo diferente, o olho fica ardendo. O mais adequado é comprar na ótica, um original. Dá para perceber que prejudica a visão, com o tempo os olhos começam a coçar e arder", disse a agricultora Joseane da Silva.

O mecânico Severino Kelson afirmou entender que comprar óculos de rua não é o correto, porque os produtos, segundo ele, não tem a mesma qualidade de um original, comprado numa ótica. "Apesar de eu já ter comprado e estar fazendo uso, como agora, tenho a consciência de que isso não é o correto. Pode até ser mais barato, mais prático e às vezes até mais bonitos, mas não têm qualidade". 

"Eu acho que esses óculos, que são vendidos dessa forma, prejudicam a saúde. Você não sabe com o que tá lidando, e se já tiver problema na vista pode piorar. Eu já comprei, pra falar a verdade, mas não posso mais usar porque os meus olhos começam a arder, a saírem lágrimas, é horrível. E o que eu mais tive, principalmente, foi dor de cabeça, não vale à pena", afirmou a estudante Emily da Silva. 

O autônomo Diego de Oliveira disse usar óculos comprados na rua e afirmou nunca ter tido problemas. "Olha, eu percebo que quando compro esses óculos, uns têm proteção, outros não. Os que têm proteção dos raios solares geralmente são mais caros. De vez em quando sinto um pouco a visão embaçada, mas na maioria das vezes não sinto nada. Bom, até agora não tive nenhum problema mesmo, além disso. Compro aqui porque são bem mais em conta", observou.