Durante a manhã de ontem, foi feita a entrega oficial das edições da obra Fogo Morto, de José Lins do Rego, que foram transcritas em Braille pela Editora da União. As obras, com sete volumes cada, foram repassadas para o Instituto dos Cegos de João Pessoa, ao Instituto de Assistência e Educação aos Cegos do Nordeste, em Campina Grande, e à Biblioteca Juarez da Gama Batista, da Fundação Espaço Cultural da Paraíba – Funesc. A solenidade foi realizada no Museu José Lins do Rego.
O anúncio da obra Fogo Morto em versão Braille, aconteceu durante a 41a Semana Cultural Zé Lins, realizada em junho. Gerluce Limeira, bibliotecária e representante do Instituto dos Cegos de João Pessoa, acredita que essa seja a primeira de muitas outras obras que serão traduzidas para o Braille. “Nós temos muita dificuldade em conseguir livros escritos em Braille porque são escassos e muito antigos”, explicou.
“Ter uma obra dessas escrita aqui na Paraíba, é uma maravilha. Ficamos felizes e parabenizamos a Editora da União pela iniciativa porque é através da obra escrita que temos a oportunidade de conhecer a ortografia das palavras. Tenho certeza que será o primeiro de muitos materiais que vamos conseguir fazer em parceria.”, disse Gerluce. Na ocasião, também foi lançado o folder do Museu José Lins do Rego na versão Braille.
Durante o evento de entrega, a diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação, Naná Garcez, informou que outras obras de José Lins do Rego serão selecionadas para passar pelo processo de transcrição em Braille. “Para nós é uma grande satisfação entregar essas obras para os institutos e assumi o compromisso de fornecer alguns artigos de José Lins do Rego, publicados no Jornal A União entre 1940 e 1957, onde ele produzia críticas literária, artigos de opinião”, disse.
Para Adenise Queiroz, coordenadora pedagógica do Instituto de Assistência e Educação aos Cegos do Nordeste, existem muitas barreiras para que pessoas cegas tenham acesso à literatura. “Não só em Campina Grande, ou na Paraíba, mas no Brasil inteiro, existe uma grande dificuldade nesse sentido. Mais uma vez a Editora da União sai na frente e concede às pessoas cegas da Paraíba essa rica oportunidade de ter acesso aos bens culturais paraibanos, é muito enriquecedor ter isso em mãos”, disse a coordenadora, lembrando que é preciso potencializar esse acesso.
“Especialmente às novas gerações que estão muito próximas dos modelos virtuais. É preciso, sobretudo, tornar essas obras mais acessíveis, sentir o cheiro dos livros e das obras, isso faz toda a diferença”, finalizou Adenise, citando uma frase do criador do método Braille, Louis Braille: “Só os cegos conseguem tocar as palavras”.
Carminha Diniz, diretora do Museu José Lins do Rego, afirmou que é muito importante ter esse tipo de acessibilidade para as pessoas que gostam de ler a obra de José Lins. “Tanto para mim, quanto para a equipe do museu, isso é muito gratificante”, lembrando que da expectativa de lançar, em Braille, outras obras do autor. Para Tatiana Cavalcante, diretora da Biblioteca Juarez da Gama Batista, no Espaço Cultural, “isso é um sonho que se concretizou através de parcerias muito ricas. Esperamos que outras obras também passem por esse processo com outros autores paraibanos”, afirmou.
A obra Fogo Morto, lançada em 1943, retrata as transformações econômicas na Paraíba através do ciclo da cana-de-açúcar e é uma das mais conhecidas de José Lins do Rego. A tradução para o Braille foi realizada por Hanna Pachu, com revisão de Otto de Sousa. Participaram do lançamento Bia Cagliani, diretora da Fundação Espaço Cultural e William Costa, diretor de Mídia Impressa da Empresa Paraibana de Comunicação.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 20 de setembro de 2023.