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Crescimento populacional em queda

publicado: 21/09/2023 09h45, última modificação: 21/09/2023 09h45
IBGE revela que população da PB teve alta de 5,5% em 12 anos e que ritmo vem caindo, seguindo tendência nacional
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João Pessoa foi a cidade com maior aumento no número de habitantes, saindo de 723.515 pessoas para 833.932 entre 2010 e 2022, um crescimento de 110.417 - Foto: Roberto Guedes

por Juliana Cavalcanti*

A população paraibana registrou nos últimos anos um ritmo de crescimento menor do que nas décadas anteriores. Ou seja, a população aumenta em quantidade, mas a porcentagem desse aumento em relação aos outros anos vem sendo reduzida a cada levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este cenário é verificado em todo o Brasil e apresenta diversas consequências econômicas e sociais, sendo uma delas, o impacto negativo na previdência social.

Brasil cresceu 6,5%
Os dados populacionais paraibanos são distintos do cenário nacional: no Brasil, o ritmo de crescimento entre 2010 e 2022, foi de 6,5% enquanto que a Paraíba cresceu 5,5% e o Nordeste 2,9%. “As regiões que cresceram mais em termos percentuais foram as regiões Centro-Oeste e Norte devido a expansão das atividades agropecuárias . Depois, vem a região Sul, Sudeste e o Nordeste, que foi a região que cresceu menos. Porém, dentro do Nordeste a Paraíba foi o segundo maior crescimento, perdendo apenas para Sergipe”, finalizou o representante do IBGE.
O representante do IBGE reforça que novas projeções de que a população venha a diminuir nos próximos Censos Demográficos ainda não foram divulgadas, mas as projeções anteriores já apontavam que daqui a algumas décadas a população total do Brasil e da Paraíba vão realmente cair em termos de quantidade. “Por enquanto o que se observa é a continuidade desse processo de redução no ritmo de crescimento da população”, comentou.

De acordo com o professor de geografia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), João Damasceno, o Brasil se aproxima de situações já verificadas na Europa e na Ásia, principalmente na China e no Japão, países que estão enfrentando um crescimento negativo de sua população. “Isso vai implicar nas condições das aposentadorias. Na França, por exemplo, aconteceu exatamente isso: estão querendo aumentar o tempo de contribuição porque o número de pessoas que estão entrando no mercado de trabalho está sendo menor do que a quantidade de pessoas que estão saindo desse mercado de trabalho”, comentou.

Segundo o especialista, se mais pessoas se aposentam e menos pessoas entram no mercado de trabalho, os reflexos negativos serão percebidos nas propostas para planos decenais da previdência social, interferindo economicamente na população. “Estamos começando a acender um sinal de atenção, pois as gerações que estão chegando não estão tendo condições de vislumbrar uma seguridade social maior do que as gerações atuais. Isso implica na condição econômica”, afirma.

A redução no ritmo de crescimento da população está associada às mudanças na dinâmica familiar e econômica e até a própria pandemia da Covid-19 iniciada no ano de 2020 interferiu neste processo. Neste sentido, o analista do IBGE, Jorge Souza Alves, aponta que a Paraíba vivencia hoje um cenário de redução das taxas de natalidade e mortalidade, mas de aumento da expectativa de vida e de habitantes idosos.

A pandemia da Covid-19 afetou as decisões das pessoas, alterando os resultados demográficos: aumentando as taxas de mortalidade devido à doença (taxa apenas minimizada com as ofertas de vacina) e também adiando as decisões de casamento, maternidade/paternidade, dentre outras situações.

Os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022 do IBGE mostraram um crescimento da população paraibana entre 2010 e 2022, que passou de 3.766.528 pessoas, em 2010, para 3.974.495, em 2022. Isso representa um aumento de 207,9 mil habitantes e um crescimento médio anual de 0,45%. O Estado teve alta de 5,5% em 12 anos e no cenário nacional, a Paraíba é o 13º estado mais populoso do país.

No entanto, a taxa de crescimento mais elevada no Estado foi entre 1940 e 1950 (1,9% de crescimento médio anual). Já entre 1960 e 1970, a taxa foi de 1,76% ao ano e nos anos seguintes, ocorreu uma redução no ritmo de crescimento populacional, isto é, a população cresceu, porém em um ritmo menor do que nas décadas anteriores. “Essa taxa foi se reduzindo, até chegarmos a essa taxa de crescimento anual de 0,45%. Esse ritmo segue uma tendência nacional e regional motivada por fatores demográficos”, avaliou o analista.

Fluxo migratório e condições das famílias interferem, diz professor

De acordo com o professor da UEPB, João Damasceno, algumas situações interferem para esse aumento ou redução do crescimento populacional em algumas localidades. Uma delas é o fluxo migratório para as cidades onde existem mais condições de sobrevivência.

“João Pessoa, por exemplo, está crescendo porque as pessoas perceberam que esta é uma capital que tem uma condição de vida melhor. A população de João Pessoa hoje está envelhecendo mais, tanto por conta da população paraibana (e brasileira) que está envelhecendo, mas também devido àqueles que estão optando por se aposentar vir morar na capital paraibana”, destaca.

Outra situação citada pelo professor está relacionada às condições das famílias, pois a tendência é que aquelas com um nível educacional maior diminuam o número de filhos por casal.
Para o analista do IBGE, os resultados revelados esse ano pelo Censo Demográfico estão relacionados à dinâmica social dos municípios, mas ainda é preciso acrescentar dados sobre o movimento migratório que, muitas vezes obedece a lógica econômica: mais pessoas podem migrar de um lugar para outro em busca de oportunidades de trabalho, por exemplo. Os números relacionados à migração ainda serão divulgados nos próximos meses pelo órgão.

Dados revelam maior expectativa de vida e envelhecimento dos habitantes

Os dados atuais do IBGE, conforme o analista Jorge Souza Alves, ressaltam uma nova dinâmica econômica, social e cultural, no qual a mulher está mais ativa no mercado de trabalho (muitas vezes sendo a chefe da família), menor taxa de mortalidade proporcionada pelos avanços da Medicina e investimentos em políticas públicas na área da saúde (como a descoberta de medicamentos e vacinas), redução nas taxas de natalidade; aumento do nível de escolaridade da população; maior quantidade de mulheres e homens trabalhando e redução do número de filhos pelas famílias que fizeram essa opção nas últimas décadas, dentre outras mudanças que alteraram o perfil etário da população, aumentando a chamada expectativa de vida.

Uma certa diminuição da população já é esperada nos próximos anos, mas hoje o destaque é o crescimento da população considerada idosa (60 anos/65 anos ou mais). Na Paraíba, entre 2012 e 2022, a população com 60 anos ou mais passou de 450 mil pessoas em 2012 para 548 mil pessoas no ano passado.

Entre 2012 e 2022, a população com 60 anos ou mais passou de 450 mil pessoas em 2012 para 548 mil no ano passado

Essa tendência relacionada à população idosa se verifica em todas as unidades da Federação. “Quando você compara a proporção de pessoas com essa idade em relação ao total da população, então, a proporção dessas pessoas passou de 11,7% para 13,5% em 10 anos. É um crescimento expressivo e a tendência é ainda de crescimento absoluto e relativo da população idosa não só na Paraíba, como no Nordeste, como em todo o Brasil”, ressaltou Jorge Souza.

Neste contexto, o pesquisador da Universidade Estadual da Paraíba reforça que diante do ritmo atual, existe uma expectativa de que o crescimento populacional seja negativo nos próximos anos no Brasil e atualmente o cenário é de um maior envelhecimento populacional. No caso da Paraíba, atualmente, o cenário é de uma dinâmica econômica, positiva em alguns setores, mas deficitária em outros. Por isso, a situação do Estado diante desse maior envelhecimento e como seria possível se preparar para essa nova condição envolve a adaptação às condições de mercado. “Então, vai depender muito do modelo econômico que vai se estabelecer nesses recortes territoriais para discutirmos essa questão do envelhecimento nos próximos anos”, adiantou João Damasceno.

Aumento foi diferente entre as regiões

Na Paraíba, o crescimento populacional foi muito intenso na mesorregião da Mata paraibana, notadamente nos municípios de João Pessoa, Conde e Cabedelo. Por outro lado, Bayeux perdeu população. “Todas as mesorregiões cresceram, mas a que cresceu mais intensidade foi a Mata paraibana que engloba os municípios do Litoral. Além disso, houve um ritmo de crescimento muito pequeno na mesorregião do Sertão. Futuramente, quando sairem os resultados do Censo Demográfico referentes a migração é que será possível confirmar a migração das cidades pequenas para as de porte médio e grande ou das áreas rurais para áreas urbanas”, afirmou o analista do IBGE, Jorge Souza Alves.

Os municípios paraibanos com as maiores populações, acima de 50 mil residentes, em 2022, eram: João Pessoa (833.932); Campina Grande (419.379); Santa Rita (149.910); Patos (103.165); Bayeux (82.742); Sousa (67.259); Cabedelo (66.519); Cajazeiras (62.239); Guarabira (57.484); e Sapé (51.306).

Além do crescimento vegetativo, em João Pessoa pode ter acontecido uma migração, segundo o analista do IBGE

Por outro lado, as cidades com as populações abaixo de dois mil moradores, eram: São José do Brejo do Cruz (1.699); Parari (1.720); Quixaba (1.743); Coxixola (1.824) e Riacho de Santo Antônio (1.955).

Segundo o Censo Demográfico 2022, o crescimento paraibano foi mais intenso no Litoral, principalmente na cidade de João Pessoa, cidade com maior aumento de habitantes, saindo de 723.515 pessoas para 833.932 entre 2010 e 2022, um crescimento de 110.417. “Tudo indica que João Pessoa além do chamado crescimento vegetativo (os habitantes locais tiveram filhos) pode ter havido uma migração das cidades do interior para a capital e quem sabe até a migração das pessoas que moram em João Pessoa e saem para outros Estados tenha sido menor do que aqueles que resolvem se mudar para a capital”, lembrou Jorge Souza.

Os demais crescimentos populacionais aconteceram no Agreste (3%) e pela Borborema (2,5%). Por outro lado, o Sertão Paraibano registrou queda (-2,9%) no total de habitantes.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de setembro de 2023.