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Especialista no tratamento de pessoas com câncer, a instituição atende a pacientes da Paraíba e de outros estados

Hospital Laureano completa 60 anos

publicado: 24/02/2022 09h01, última modificação: 24/02/2022 09h01
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Foto: Ortilo Antônio

por Beatriz de Alcântara*

“O Hospital Napoleão Laureano foi extremamente importante na minha vida. Se não fosse o Laureano e o SUS, eu estaria enterrado”. As palavras fortes são do jornalista Wellington Farias, natural de Serraria, no Brejo paraibano. Há cerca de dois anos, Wellingtom, (65), descobriu um câncer na bexiga, já em estado avançado e, hoje, se encontra curado e em recuperação. Depois de nove cirurgias, incluindo uma urostomia para substituir a bexiga que precisou ser retirada, Wellington declara que nasceu de novo – e o HNL, que completa 60 anos neste 24 de fevereiro, foi o berço desse renascimento.

O diagnóstico aconteceu “por acaso”, durante um dia comum, quando identificou sangue presente na urina. Para Wellington, uma das piores fases foi passar pela série de exames e idas ao médico para descobrir qual era o problema. “Eu pedi para o médico não me dizer o resultado. Não soube de imediato que era câncer. Mas eu sou um cara que a pior hora é de entregar os exames e saber o resultado. Depois, eu encaro com uma relativa tranquilidade”, contou Farias.

Foto: Wellington Farias/Arquivo Pessoal

O tratamento contra o câncer aconteceu no Hospital Napoleão Laureano, referência no combate à doença, no estado da Paraíba. Entre cirurgias e sessões de quimioterapia, Farias relembra que pôde contar com a sorte de ter muitas pessoas especiais em seu caminho, como seus médicos Porfírio Fernandes e Christiane Marinho, que estiveram junto a ele, em momentos distintos do processo de cura.

Em relação a doutor Porfírio, Farias não poupa elogios e diz que “teve a sorte de cair na mão de um grande médico”. A relação de confiança que se estabeleceu com o médico é algo próximo do que Wellington chama de toque divino na sua vida. “Eu estou vivo graças a muitos fatores, mas ele foi a mão de Deus na história. Fiz nove cirurgias com esse médico e ele queria salvar minha bexiga, e ele ia, mas por conta da pandemia, quando abandonei o tratamento, não teve jeito”, explicou o jornalista.

O início da pandemia da Covid-19, na Paraíba, coincidiu com o período do seu tratamento. precisou adiar os cuidados hospitalares em quatro meses, a fim de evitar o contágio. Durante esse espaço de tempo, o câncer se agravou e, infelizmente, a retirada da bexiga se tornou inevitável.

Tratamento custeado pelo SUS

Outra gratidão de Wellington, que ele faz questão de enfatizar, é que todo seu tratamento foi custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Depois de complicações trabalhistas, ele havia perdido o plano de saúde e chegou ao HNL “sem privilégio nenhum”, como ele mesmo disse. “Fui fazer esse tratamento sem condição nenhuma. Estava ‘liso’. O SUS bancou tudo. Inclusive, a bolsinha que substitui minha bexiga, a urostomia, é uma coisa muito cara e o SUS custeia tudo. Vou todo mês, recebo vários equipamentos. Para se ter uma ideia, uma vez faltou um spray e precisei comprar, foi 220 reais, e tudo isso é dado pelo SUS”, afirmou Farias.

Ao todo, foram nove cirurgias e cerca de seis sessões de quimioterapia. Nessa segunda etapa do tratamento, Wellington relembra que contou com a médica Christiane e que enfrentou essa fase com relativa facilidade, do ponto de vista emocional. “Geralmente as pessoas que têm diagnóstico de câncer tomam remédio e algumas entram em depressão profunda, mas eu não tomei nada disso. Tive só alguns momentos de tristeza. Parte fundamental do processo de recuperação e desse psicológico fortalecido se deu à família, de acordo com Wellington Farias. Seu núcleo familiar é composto por três filhos, sendo um do primeiro casamento, sua esposa Eloise Elane, e sua neta, Helena, a grande paixão de sua vida. “Ela chegou num momento em que eu estava me curando do câncer. A chegada dela, a notícia de que ela nasceria, me deu um ânimo muito grande. Eu já não sou de ficar para baixo e com a chegada dela, aí foi que melhorou”, disse ele, um avô muito orgulhoso.

O dia em questão foi quando o jornalista descobriu que estava curado. Com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas, Wellington Farias ressalta que foi a maior e melhor notícia de sua vida. “Fui para as redes sociais e botei que ia dar a maior notícia que já dei em 43 anos de profissão: estou curado de um câncer avançado e agressivo”, falou o jornalista, muito emocionado.

Nasceu de um sonho do seu idealizador

Assim como aconteceu com Wellington Farias, a vida de centenas de paraibanos, e até mesmo pessoas de outros estados, é transformada diariamente dentro das paredes do Hospital Napoleão Laureano. Construído há 60 anos, em 24 de fevereiro de 1952, o HNL nasceu de um sonho de seu idealizador, o próprio Napoleão Laureano, quando, cerca de dois anos antes, já buscava investimentos e apoio para fundar o que seria o centro de referência no tratamento do câncer na Paraíba, incluindo apelos ao presidente da época, Getúlio Vargas.

De acordo com Márcia Gadelha, coordenadora do Centro Cultural da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), a construção do Hospital Napoleão Laureano mudou muita coisa na capital e em toda a Paraíba, visto que as pessoas não tinham um centro de referência no tratamento do câncer antes disso, era necessário buscar em outros estados. “Com o Hospital Laureano, o acesso ao tratamento do câncer se tornou mais fácil para todos, principalmente as pessoas de classes sociais mais baixas, (...) pois no caso das pessoas menos abastadas, elas tinham muitas dificuldades em [se deslocar para] ter esse atendimento”, afirmou.

Com o decorrer do tempo, o hospital também se tornou uma espécie de hospital-escola, devido à presença de muitos estagiários e internos de medicina e enfermagem. “Isso só fez o hospital crescer e [garantiu] que conseguisse ter um serviço de muita qualidade, prestando esse serviço de qualidade para essas populações carentes [e de todas as classes sociais]”, observou Gadelha.

O idealizador desse projeto, Napoleão Rodrigues Laureano, natural do município de Natuba, na Paraíba, nasceu em agosto de 1914 e faleceu aos 36 anos, em maio de 1951. Formou-se médico pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e se especializou em cirurgia oncológica no Rio de Janeiro. De volta à Paraíba, abriu um consultório em João Pessoa que tratava de “doenças das senhoras, operações, partos, tratamento cirúrgico das cicatrizes e outros defeitos congênitos ou adquiridos”, conforme anúncio publicado no Jornal A União em 1944.

Além de médico, Napoleão Laureano também era uma figura muito engajada politicamente. Em 1945, se filiou à União Democrática Nacional (UDN), partido onde foi eleito vereador, ingressando na Câmara Municipal de João Pessoa, com mais de 900 votos. Lá, passou pela Mesa Diretora sendo o primeiro presidente da CMJP em sua nova fase, entre 1949 e 1951, quando foi afastado em razão do câncer. Atualmente, o prédio da Câmara Municipal da capital recebe seu nome, sendo reconhecida como a Casa Napoleão Laureano.

Por toda sua história diante da CMJP, Márcia Gadelha relembra que Napoleão Laureano é o patrono da Câmara. Na luta relativa ao câncer, a coordenadora comenta que o fato do médico e político ter sido diagnosticado com a doença o sensibilizou ainda mais na causa. “As implicações disso foram de ter um atendimento em um centro de referência [aqui na Paraíba], de uma melhoria no sentido de tornar a saúde e o tratamento do câncer mais popularizado, coisa que não acontecia porque era em outros estados”, reiterou ela.

Centro de estudo e salas humanizadas

Atualmente, a estrutura do HNL conta com ambulatório, urgência e ala pediátrica, com especialidades de Fonoaudiologia, consultórios médicos, setor de Fisioterapia, Assistência Social, Farmácia e Nutrição. Há também uma área com centro de estudos e salas humanizadas para cuidados paliativos. No segundo piso, encontram-se a enfermaria e o setor de Enfermagem.

A diretoria do hospital conta com Thiago Lins, como diretor-geral; Marcílio Cartaxo, como vice-diretor; Afro Rocha, como diretor administrativo e financeiro; e Rodrigo Marmo, enquanto diretor técnico.

Para atender aos paraibanos e demais pessoas que chegam até lá, o Hospital Napoleão Laureano se divide entre a rede pública e privada de saúde, sendo 90% dos pacientes atendidos através do SUS e 10% por meio dos planos de saúde. Conforme dados de 2017 divulgados pelo HNL, o hospital atende, por ano, a uma média de 36 mil pacientes em tratamento de quimioterapia. No mesmo período, realiza atendimento ambulatorial de 120 mil crianças e adultos.

Em relação à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), são cerca de 160 internações mensais; e, no geral, 520 cirurgias e 450 hospitalizações todo mês no hospital. No ano de 2019, o HNL realizou 1.026.069 procedimentos.

No Centro Cultural da CMJP, é possível encontrar registros históricos da construção do hospital, desde fotografias e parte documental, como o decreto que estabeleceu a obra de fundação do HNL e a ata de sua inauguração. Também é possível encontrar uma série de citações e grandes mensagens do patrono sobre a luta por mais dignidade no tratamento das pessoas com câncer. 

 *Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de fevereiro de 2022