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cachaças e queijos

Iguarias atraem público ao Espaço Cultural

publicado: 25/10/2024 08h17, última modificação: 25/10/2024 08h17
Eventos simultâneos destacam delícias fabricadas dentro e fora da PB
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Mais de 180 marcas de bebidas, oriundas de 18 estados, participam de festival | Fotos: Carlos Rodrigo
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Salão expõe laticínios de origem 100% paraibana | Fotos: Carlos Rodrigo
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por João Pedro Ramalho*

Uma dose de cachaça e um pedaço de queijo. Essa combinação, apreciada por amantes de botecos e frequente em muitas festividades, reúne dois artigos de destaque na produção econômica paraibana. E os moradores de João Pessoa podem harmonizar tais sabores em dois eventos que acontecem no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, de forma simultânea, até amanhã: a Feira das Melhores Cachaças do Brasil e o Salão do Queijo da Paraíba. O acesso aos estandes com as bebidas e os laticínios é gratuito e fica liberado das 14h às 21h.

A feira com os destilados integra a quarta edição do Festival Brasil Cachaças, cuja programação teve início na última quarta-feira (23), com o 4o Seminário Cachaças do Brasil. Ontem, o dia foi reservado para rodadas de negócios, voltadas para o setor de produção e de comercialização da bebida. Segundo a promotora do evento, Fernanda Melo, mais de 180 marcas de cachaças, oriundas de 18 estados brasileiros, participam da feira, que deve receber, ao todo, um público de aproximadamente 6.500 pessoas.

Para Fernanda, o festival é uma oportunidade de reforçar a importância do produto para a identidade nacional. “O Brasil Cachaças traz todos os valores da bebida genuinamente brasileira: valores históricos, culturais, antropológicos, econômicos e também sensoriais, que vão desde os aromas até os sabores e os saberes. A cachaça é o destilado verde e amarelo, o destilado verdadeiramente brasileiro, e a gente tem muito orgulho disso”, afirma.

Uma das participantes da feira é Adeylza Andrade, proprietária da Cachaça Paramirim, na cidade baiana de mesmo nome. Essa é a segunda que vez ela expõe seus produtos na Brasil Cachaças. Agora, há o desejo de expandir seu alcance. “A nossa expectativa é de fechar novos negócios e expandir mais pela região Nordeste. A gente tem muitos vínculos até Aracaju, mas, de Sergipe para João Pessoa, e para os demais estados, não temos muito mercado. Mas a gente já conheceu um distribuidor e [a negociação] está começando a engrenar”, relata.

Do município de Guapó, em Goiás, veio o empresário Carlos Augusto Guedes, dono da Cachaça da Posse. Ele conta que tem expectativas diferentes para os negócios, a depender do modelo de comercialização. “Geralmente, em todas as feiras de que participo, a venda no atacado ocorre posteriormente. A gente expõe aqui e, quando a pessoa acha caro, eu posso até dar uma garrafa para ela. Aí, se ela tem um mercado, vai levar essa garrafa e dar para os clientes. Eu tenho certeza de que eles vão achar a cachaça boa, e a pessoa vai encomendar umas cinco caixas. Já para os dias da feira, eu trouxe duas caixas de cada produto e quero focar na venda no varejo”, esclarece.

 Manifesto

Além das rodadas de negócios e da venda de itens individuais, a feira também recebeu o lançamento do Manifesto da Cachaça, uma iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). O documento expressa uma preocupação com os impactos sobre o setor produtivo que o atual texto da Reforma Tributária, em tramitação no Senado, pode causar. O presidente do Ibrac, Carlos Lima, explica que o projeto de lei prevê um imposto híbrido, calculado com base na quantidade de álcool puro, no valor total da bebida e no teor alcoólico. Esse último fator, contudo, não fazia parte da proposta original.

“O setor da cachaça entende que é necessário e importante o Brasil ter uma reforma tributária. Nessa reforma, foi criado um imposto seletivo, que vai ser aplicado sobre alguns tipos de produtos, mas a Câmara dos Deputados alterou a redação desse imposto que veio do Poder Executivo. Essa alteração prejudica diretamente o setor da cachaça e favorece o segmento da cerveja. E a Paraíba, como um dos principais estados produtores de cachaça, vai perder muito, caso esse texto não seja alterado pelo Senado”, argumenta Carlos.

Queijeiros se unem em busca de certificado

Enquanto as cachaças vendidas no Espaço Cultural vêm de diferentes estados do Brasil, os queijos e demais laticínios lá expostos têm origem 100% paraibana. A primeira edição do Salão do Queijo da Paraíba reúne, assim, produtores de vários municípios do estado, com o objetivo de diagnosticar o cenário atual do setor e viabilizar, até 2025, a certificação dos itens fabricados pelos queijeiros. Essa certificação inclui o enquadramento no conceito “Além da Linha”, indicativo de que o produto está em condições melhores que as estabelecidas na legislação.

O coordenador do Salão do Queijo, José Otávio, acredita que a iniciativa amplia o alcance dos produtores no mercado, o que garante uma maior qualidade de vida. “A gente identificou que, para poder ir ao mercado, precisava cumprir algumas exigências, e a mais importante delas é que esse produto seja certificado. Porque, sem o serviço de inspeção certificar que aquele material de origem animal foi fiscalizado e não causa dano à saúde humana, ele não pode ser comercializado. Mas 90% de nossas queijeiras não têm a certificação, mesmo produzindo itens de altíssima qualidade. E o mais importante de tudo é que essa atividade proporciona que o pequeno produtor das regiões mais secas do estado, como o Cariri, o Curimataú e o Sertão, ganhe dinheiro e continue no campo”, defende.

Um produtor que aguarda pela certificação é José Wandeilson, de Tacima. Quem visita seu estande pode conhecer as criações da queijaria Flor do Campo, como os queijos coalho e manteiga e a manteiga da terra. “A gente está obtendo o registro, e espera que, até o fim deste ano, receba a certificação. Com isso, a gente vai adentrar na capital e com o pessoal já conhecendo a nossa marca, por meio do Salão. Inclusive, já fizemos algumas vendas, e alguns comerciantes também vieram nos visitar e pegar nosso contato, para fazer uma parceria”, comenta José Wandeilson.

A obtenção das certificações, porém, não é o único atrativo do Salão do Queijo da Paraíba. Amanhã, o evento vai indicar os vencedores do 2o Concurso de Queijos e Produtos Lácteos da Paraíba. A premiação irá reconhecer, com medalhas e certificados, os três melhores produtos em 15 categorias.

Ao todo, foram 290 itens inscritos para a competição. Entre eles, estão os queijos trazidos pelo Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Laticínios (PDLat), vinculado ao campus de Bananeiras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Segundo a pesquisadora e técnica em Agroindústria, Laíza Soliely, os itens expostos, como queijos condimentados e queijos de cabra, são produzidos nos cursos e voltados, majoritariamente, para o público interno. No Salão, a expectativa dela é dupla. “Viemos em busca do registro comercial, mas também queremos ser premiados. Todo mundo [no PDLat] espera virem nossas famosas medalhinhas, porque a gente trouxe produtos selecionados e feitos com matéria-prima de qualidade”, declara Laíza.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de outubro de 2024.