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Famílias relembram prejuízos das enchentes causadas pelas chuvas em várias comunidades ribeirinhas

Jaguaribe: tensão em morar às margens do rio

publicado: 16/06/2022 08h59, última modificação: 16/06/2022 08h59
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Foto: Roberto Guedes

por Juliana Cavalcanti*

As comunidades ribeirinhas de João Pessoa, em sua maioria, estão nas proximidades do Rio Jaguaribe. Nestes locais, o medo dos acidentes provocados pelo aumento do nível das águas após as chuvas é algo constante. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil da capital aponta que a Comunidade São Rafael representa uma grande preocupação, pois as casas foram construídas em um nível mais baixo.

De acordo com o diretor de Minimização de Desastres da Defesa Civil da capital, Antônio Esteves, o desassoreamento e principalmente a retirada de sujeira tem ajudado a reduzir os alagamentos nas moradias localizada nas margens do Rio Jaguaribe. “As máquinas da Defesa Civil constantemente estão fazendo serviços no Rio Jaguaribe que é a nossa prioridade porque tem o maior número de pessoas nas comunidades ribeirinhas”, declarou.

Perda de veículos ou móveis, risco de doenças, acidentes, dificuldades para sair de casa e cumprir ações diárias dentre outras situações são consideradas comuns pelos moradores destas regiões durante o inverno. No entanto, muitos constaram que as ações preventivas no Jaguaribe ajudou a evitar vários alagamentos e mesmo com o alto volume de chuvas, não houve grandes problemas nessas áreas. “O rio está mais limpo e não tivemos grandes alagamentos esse ano. Recentemente, o nível das águas baixou porque foi feita uma dragagem. Antes, tinha muita sujeira”, conta o líder comunitário da Comunidade São Rafael, Edvaldo da Silva.

Ele explica que os moradores já perderam muitos móveis e objetos por causa das águas do rio invadindo as casas. “A gente ficava muito preocupado, mas nunca foi feita uma limpeza efetiva do rio. E era uma solução simples”, acrescenta.

A Comunidade São Rafael é localizada próximo a Padre Hildon Bandeira e são dois ambientes que compartilham problemas semelhantes como o alagamento das casas e a sujeira acumulada nas ruas após as chuvas. Além destas, as comunidades Santa Clara e Tito Silva também enfrentam diversos transtornos.

De acordo com Antônio Esteves esses locais hoje registram uma menor quantidade de inundações devido a maior limpeza do Rio Jaguaribe, o que garantiu a melhor passagem de suas águas. “O Rio Jaguaribe está fluindo corretamente pelo leito e consequentemente para o Rio Paraíba e o oceano”, completou.

Além do trabalho dos órgãos públicos, as intervenções dos moradores também ajudaram. Segundo a dona de casa Thaís Cunha, os vizinhos ajudam a limpar a vegetação que se acumula ao lado da ponte na Comunidade São Rafael. “As águas não chegaram até as nossas casas, o que é algo raro. Todo ano, a gente já sabia que enfrentaria problemas. Com a dragagem, apenas o mato fica engalhado na ponte e o pessoal daqui mesmo tira”, apontou.

A força–tarefa dos moradores, aliás, é algo determinante para alguns bairros, pois vários se organizam e antes de acionar a Prefeitura já resolvem os problemas mais urgentes. Antônia vive há mais de 40 anos no bairro São José e ressalta que mesmo sendo um problema antigo, hoje a situação está mais fácil: “Antigamente, as pessoas se mudavam porque não aguentavam as águas dentro das casas. Qualquer chuva, por menor que fosse, já acabava com tudo”.

Poluição urbana é fator de preocupação

Para o diretor de Minimização de Desastres a da Defesa Civil municipal, Antônio Esteves, o maior problema hoje é a sujeira que muitas pessoas deixam chegar até os rios. “A própria população deixa algumas coisas, como um sofá que pode fechar a passagem de uma ponte e a água subir. Por isso, a maior parte das ações são de limpeza do lixo e da vegetação que a gente chama de ‘pasta’. Esta é criada pela poluição”, informou.

Sobre isso, o líder comunitário do bairro São José, Geraldo Domingos, observa  que nos 27 anos que mora na região já viu o rio subir vários metros de água e mesmo as casas mais altas, eram atingidas. “As casas eram cheias de água e muitos tiveram que se mudar porque não aguentaram. Hoje, já estão retornando, pois viram que o local agora estava adequado para morar”, relatou.

No entanto, reconhece que a sujeira ainda é muito grande e novas ações precisam ser realizadas para que a comunidade tenha maior qualidade de vida. Geraldo acredita que a limpeza precisa acontecer em todas as áreas ribeirinhas para que o problema seja solucionado com eficácia.

“Se não houvesse a abertura do mangue, com certeza ainda estávamos cheios d’água porque não tinha passagem. Na última chuva, ela ficou meio metro abaixo da ponte e antes era a partir de um metro acima. O São José é uma das áreas mais críticas onde a sujeira e o capim não deixam a água passar”, defendeu.

Áreas de risco

Conforme Antônio Este ves, João Pessoa tem ao todo, 42 áreas de risco monitoradas pelo órgão. Elas estão localizadas principalmente nos bairros do Alto do Mateus, Roger, São José, Castelo Branco e Trincheiras. Os alagamentos nas comunidades ribeirinhas e os acidentes nas regiões de barreiras(desmoronamentos) estão entre as maiores preocupações dos habitantes destes locais durante o inverno.

Ele acrescenta que a Defesa Civil trabalha durante o ano todo para diminuir os transtornos e as ações estão nas visitas diárias em diversos bairros, o desassoreamento e limpeza dos rios e da mesma forma nas ruas, bueiros, galerias, canais, tubulações e todo equipamento que recebe águas pluviais.

Além do Rio Jaguaribe, outra preocupação da Defesa Civil de João Pessoa é o Rio Cuiá, devido a ligação entre os bairros do Valentina e Mangabeira, que hoje sofre constantes alagamentos. Por isso, Antônio Esteves reforça que nos períodos chuvosos a população redobre a atenção, mesmo que hoje as inundações sejam menores.

As ações da Defesa Civil acontecem de acordo com um cronograma de limpeza, mas algumas demandas vêm da própria população. Os cidadãos podem acionar o órgão pelos números 0800-285-9020ou 9.8831-6885 (WhatsApp). 

Revitalização do Complexo Beira Rio

O Rio Jaguaribe faz parte de um processo de intervenção cujo projeto inclui o diagnóstico, desassoreamento, monitoramento e requalificação de suas águas. A intervenção faz parte das ações do Complexo Beira Rio (CBR), iniciativa da Prefeitura de João Pessoa destinada a oito comunidades: São Rafael, São José, Vale das Palmeiras, Ipês, Santa Clara, Padre Hildon Bandeira, Cafofo Liberdade, Brasília de Palha,Tito Silva, São Luís, Miramar e Tambauzinho.

O estudo do programa João Pessoa sustentável (destinado à revitalização do Rio Jaguaribe) registrou mais de duas mil famílias nestas regiões. A proposta é recuperar a vitalidade do Jaguaribe, diminuindo a sua poluição.

Sobre o Rio Jaguaribe

Desde a sua fundação, João Pessoa é banhada pelas águas doces do Rio Sanhauá, onde a cidade nasceu em 1585, durante a colonização portuguesa; o Gramame, o maior em extensão, com 54 quilômetros; e o Jaguaribe, principal rio urbano da cidade.

Conforme a PMJP, o Rio Jaguaribe nasce na região das Três Lagoas, entre as Rodovias Federais 101 e 230, e segue até o Rio Paraíba, segunda maior bacia hidrográfica do Estado. Ele tem aproximadamente, 21 quilômetros de extensão, incluídos os 5,5 quilômetros referentes ao trecho conhecido por rio Morto.

No Jaguaribe, estão inseridos - total ou parcialmente - 32 dos 64 bairros da cidade e 41 assentamentos espontâneos, instalados por auto-construção nas margens dos rios, encostas, no planalto, nos limites da Mata do Buraquinho e nas faixas de servidão das rodovias BR-101 e BR-230 e da rede de alta tensão de energia elétrica.

Sua atual nascente situa-se ao sul da malha urbana, nas proximidades da Comunidade Boa Esperança. Dali, o rio segue em direção à planície costeira, permeando a cidade.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de junho de 2022