por Lucilene Meireles*
Dezembro chegou, muitas casas já estão iluminadas e a cidade começa a entrar no clima natalino. Pontos comerciais, vias públicas se enchem de luzes coloridas que simbolizam o período das festas de final de ano. Mas, essa decoração não representa apenas um mero acender de luzes. Existe um enredo por trás do surgimento da tradição. A história conta que muito antes da invenção das luzinhas de Natal, eram utilizadas velas para enfeitar as árvores e o sentido era fazer uma alusão ao nascimento de Jesus. O problema é que elas causavam incêndios com frequência e houve a necessidade de substituí-las por uma forma mais segura de lembrar o Natal.
“As velas eram acesas por ‘significarem a luz de Jesus’”, disse John Hanssen, colecionador de antiguidades relacionadas com o Natal e membro do Golden Glow of Christmas Past, uma organização internacional focada na história do Natal. No texto “A histórias das luzes de Natal”, é contado que o uso das velas foi inspirado em um ritual pagão dedicado aos deuses ancestrais e elas serviam para celebrar o retorno da luz do sol.
A árvore de Natal teria sido levada para as casas no século 18, no início da Alemanha moderna. "Naquela época, as velas eram coladas com cera derretida nos galhos de árvore ou presas por alfinetes. Por volta de 1890, os castiçais foram usados pela primeira vez para velas de Natal. Entre 1902 e 1914, pequenas lanternas e bolas de vidro para segurar as velas começaram a ser usadas", diz o texto.
As primeiras luzes elétricas de Natal datam de 1880, mas no início elas não deram muito certo. Os inventores foram Edward H. Johnson, amigo e sócio de Thomas Edison, o inventor da lâmpada. Foi Edward quem criou o primeiro fio de luz elétrica e, durante o período natalino de 1880, amarrou os fios do lado de fora do seu Laboratório Menlo Park. As pessoas que passavam perto dali viram o primeiro visor de luz elétrica. Porém, só em dezembro de 1882, os inventores lançaram uma série de luzes elétricas de Natal. Em 22 de dezembro daquele ano, foram instaladas 80 lâmpadas vermelhas, brancas e azuis, enroladas em volta da árvore de Natal.
Apesar da novidade, mais moderna e segura, as velas continuaram sendo utilizadas porque as luzes e a fiação eram muito caras e a maioria da população não tinha condições de arcar com os custos. Somente em 1903, o mercado começou a crescer. Foi quando a empresa General Electric começou a fabricar os kits pré-montados, conforme a Rossi.
Publicada no site Campo Grande News em dezembro de 2018, a reportagem “Luzes de Natal: a criação das lâmpadas para as festas”, de Mário Sérgio Lorenzetto, relata que em 1917, um menino de 15 anos chamado Albert Sadacca sugeriu ao pai que vendesse em sua loja de iluminação guirlandas montadas. O pedido foi feito após um incêndio que começou por conta de velas natalinas suspensas em uma árvore.
O pai atendeu ao pedido e passou a vender o item com lâmpadas brancas, mas foi um fiasco. No ano seguinte, trocou o estoque por luzes coloridas e as vendas dispararam. O então presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge, aderiu à novidade, colocou três mil lâmpadas no Capitólio, e assim, as luzes de Natal se tornaram tradição nos EUA e demais países ocidentais. Em 1920, o menino Sadacca fundou, com seus dois irmãos, a Noma Electric Company, que se tornou a maior empresa de luzes natalinas até 1965.
Iluminação especial instalada em mais de 50 bairros
Em João Pessoa, a Prefeitura iniciou a instalação e iluminação das árvores que compõem a decoração natalina. A previsão é que o trabalho seja concluído até o próximo dia 10 de dezembro, contemplando mais de 50 bairros da cidade com temas e cores variadas.Em vias como a Avenida Hilton Souto Maior; Praça da Paz, nos Bancários; e Praça Pedro Gondim, na Torre, já há adereços instalados e a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) realizou a instalação na Avenida Epitácio Pessoa.
A chefe da Diretoria de Iluminação Pública (Dilup), Joyce Alves, explicou que em 2021 a Prefeitura de João Pessoa está levando as árvores e a iluminação para bairros nunca contemplados. O trabalho segue uma programação diária até que todas as regiões da cidade estejam definitivamente no clima natalino.
“Planejamos um Natal diferente, com abrangência, temas diversos, luzes coloridas e itens inéditos, fazendo uma iluminação natalina bem diversificada. A Seinfra também está executando a iluminação do Natal dos Sentimentos, projeto concebido pela Secretaria de Turismo e que faz parte da decoração de Natal desse ano”, acrescentou.
Evolução tecnológica
Em 1940, foram lançadas as bubble-lites ou bubble lights, ‘luzes de bolha, uma das categorias antigas de iluminação natalina. A informação está no texto de Gene Teslovic, especialista na área de iluminação de Natal vintage e antiga, publicado no site ‘The Golden Glow of Christmas Past’, do qual é membro.
A Noma Electric Corporation de Nova York, dos irmãos Sadacca, só teria começado a produção em 1941, mas em razão da Segunda Guerra Mundial, só foi apresentada pela primeira vez no Natal de 1946. Desde então, conforme Teslovic, as luzes foram sendo aperfeiçoadas, passando por diversas transformações.
Simbologia religiosa
As velas que eram acesas lá no início da história significavam a luz de Jesus, de acordo com John Hanssen, colecionador de antiguidades relacionadas com o Natal e membro do Golden Glow of Christmas Past. Para a Igreja Católica, as luzes, sejam velas ou pequenas lâmpadas, representam o próprio Jesus, como afirma o arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson.
“A luz é, para nós, um dos símbolos que representa Jesus, que é a Luz do Mundo, o Salvador. Na tradição Católica, antes do Natal do Senhor, vivemos o Tempo do Advento, que dura 4 semanas. Neste tempo, acendemos velas que vão simbolizando este tempo de espera”, afirmou o religioso.
E acrescentou: “Quando Deus se torna homem e vem para o meio de nós, somos convidados a sermos luz também, anunciando a todos que o Salvador chegou. Então, para nós, as luzes de Natal não são meramente efeitos visuais, artigos de decoração. Ela é uma representação forte da nossa fé e carrega significados importantes para os cristãos”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 05 de dezembro de 2021
