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Iniciativa inusitada

Mulheres no trato da cana-de-açúcar

publicado: 19/08/2024 09h05, última modificação: 19/08/2024 09h05
Usina de Santa Rita faz seleção somente com mulheres e dá emprego a 43 moradoras de comunidades locais
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Processo seletivo ocorreu de forma rápida, logo depois de uma divulgação pelas redes sociais; 100 mulheres se inscreveram | Foto: Divulgação/Sindalcool-PB

por Marcella Alencar*

Numa iniciativa inédita, uma usina de etanol e cana-de-açúcar da Região Metropolitana de João Pessoa realizou, neste mês, uma seleção somente com o público feminino. De um grupo de 100 mulheres que se inscreveram para as vagas, a empresa contratou 43, que agora vão trabalhar na manutenção de gotejos do sistema de irrigação dos plantios — função anteriormente desempenhada apenas por homens. As novas funcionárias são de comunidades socialmente vulneráveis do município de Santa Rita, como Bebelândia, Lerolândia e Pitombeira.

Ao iniciar um trabalho formal na própria região, sem a necessidade de deslocamento para outros centros, como João Pessoa, esse grupo vai contribuir para o aumento da renda nas localidades em que vivem. “Como o trabalho é feito em torno das comunidades, nós já sabíamos que havia mulheres precisando de emprego”, disse Dante Guimarães, gerente agrícola da Japungu Agroindustrial, responsável pela contratação. Em entrevista à Rádio Tabajara, o engenheiro agrônomo explicou que a iniciativa funciona, também, como uma ação afirmativa, no sentido de garantir renda própria às mulheres — muitas das quais têm maridos que já trabalham na mesma usina.

Segundo a assistente social da Japungu, Roberta Trindade, o processo seletivo ocorreu de forma rápida, logo depois de uma divulgação pelas redes sociais. As oportunidades foram oferecidas para moradores das três comunidades. “Foi tudo muito rápido. A partir do momento em que a iniciativa foi divulgada, tivemos a formação da primeira turma, composta somente por mulheres”, contou. Ela disse ainda que todos se admiraram com a quantidade de mulheres que se inscreveu. “Acreditava-se que elas não iriam aceitar, por medo, devido ao fato de ser uma atividade predominantemente masculina”, explicou.

Sem a necessidade de se deslocar para outros centros, elas vão contribuir para o aumento da renda do local onde vivem

Gotas

O setor de manutenção de gotejos do sistema de irrigação é reconhecido por ser o segundo melhor do Brasil e um dos 10 maiores do mundo, conforme divulgado pelo Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool). “Ele utiliza a melhor irrigação que há no mundo, que é o gotejamento. Estamos na segunda maior área do Brasil em gotejamento de cana-de-açúcar. E isso exige também pessoas com habilidades para trabalhar”, acrescentou Dante.

De acordo com o presidente do Sindalcool, Edmundo Barbosa, haverá novas turmas para mulheres, pois outras empresas do setor devem seguir o mesmo caminho da Japungu. “As perspectivas são boas. É muito provável que, em breve, outras empresas associadas ao sindicato abram turmas de mulheres nas regiões de Mamanguape, Caaporã e Pedras de Fogo”, adiantou.

Desafios

Além dessa seleção, a empresa divulgou que realizará outra, também exclusiva para mulheres, e que dará preferência a pessoas com deficiência. As candidatas precisam ser das comunidades Tatupeba, Pacaré, Tavares, Tanques e Praia de Campina.

Durante a integração, as novas trabalhadoras foram recebidas por membros da equipe da empresa. Além das boas-vindas e do incentivo ao comprometimento ao trabalho, as 43 mulheres assistiram a uma peça desenvolvida com temáticas atuais, encenada pela Companhia Paraibana de Dramas e Comédias.

A peça teatral abordou temas relevantes para os trabalhadores rurais, como o vício em apostas on-line e os perigos do trabalho clandestino. Intitulada “Trabalho de verdade é sem vício e sem clandestinidade”, o espetáculo provocou reflexões importantes para a nova turma de trabalhadoras da usina.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa no dia 17 de agosto de 2024.