Em 13 anos, a quantidade de médicos atuantes na Paraíba praticamente triplicou como mostra o mais recente levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2011, eram 4.886 profissionais; já em 2023, o número saltou para quase 12.400, representando um aumento de, aproximadamente, 154%.
Os dados, por si só, já seriam motivo de celebração, mas também revelam outro importante avanço no estado: a formação de mais profissionais médicos ao ano, impulsionada pela expansão da rede acadêmica. É o que aponta o presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), Bruno Leandro de Souza. “Em 2011, existiam apenas duas faculdades de medicina que formavam médicos para toda a Paraíba; hoje, são nove. Além disso, a quantidade de médicos formados aumentou de 180 por ano para mais de 1.400”, compara, reforçando que a maior disponibilidade de instituições de ensino foi fundamental para ampliar a capacidade de atendimento.
Qualidade
Entretanto, o crescimento acentuado no número de faculdades de medicina também exige cautela, como o próprio Bruno Leandro destaca, uma vez que é preciso assegurar a qualidade na formação desses novos médicos. Muitas vezes, instituições são abertas sem a menor condição de funcionamento, inviabilizando o treinamento desses futuros profissionais.
“Felizmente, na Paraíba, a situação é positiva. As faculdades são de boa qualidade. Mas, em outros estados, já vimos casos em que a instituição abriu por meio de liminar”, aponta.
Segundo o presidente do CRM-PB, o ideal é que toda faculdade tenha um hospital-escola, com a infraestrutura adequada para a prática da medicina. “Não podemos apenas aumentar o número de médicos sem verificar a qualidade dessa formação.”
Não à toa, ele defende a aplicação de uma prova de proficiência, aos moldes do famoso Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para avaliar o nível de preparo dos novos médicos. Bruno Leandro enfoca que, no Brasil, há quase 400 escolas médicas para 212 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, são 189 para 300 milhões. “Já somos medalha de ouro nesse quesito, mas não significa dizer que estamos bem.”
A princípio, o exame sugerido pelo CRM-PB não seria obrigatório, até porque, segundo Bruno, isso demandaria uma lei federal para legitimá-lo. Contudo, ele ainda acredita que haveria uma grande adesão, pois o exame poderia resultar em uma bonificação na prova de residência. “O nosso objetivo não é criar punição, e sim fazer com que a qualidade melhore.” Já existe, inclusive, uma articulação entre os conselhos regionais nesse sentido, mas ainda falta apoio para implementar a medida no país.
Mais de 60% atuam na capital paraibana
Apesar do aumento expressivo no número de médicos à disposição do paraibano, a distribuição desses profissionais no estado é desigual. De acordo com o levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), a cidade de João Pessoa concentra 60,2% dos profissionais ativos; já os demais estão distribuídos entre os outros 222 municípios do estado, evidenciando a falta de atrativos para a atuação em áreas mais remotas e carentes de infraestrutura.
Em João Pessoa, são oito médicos para cada mil habitantes, enquanto a recomendação do MS é de 2,5 profissionais para cada mil indivíduos
Além de garantir que todo médico formado seja tecnicamente apto, Bruno Leandro de Souza considera fundamental “verificar de que forma e onde eles irão se fixar” assim que receberem o diploma. “Muitas vezes não existe um incentivo para que o profissional saia dos grandes centros como acontece em outras áreas. Para que esses médicos se fixem no interior, poderíamos gerar incentivos de aumento salarial, como um plano de carreira. Isso é o que o CRM defende, até para vinculá-lo à comunidade”, complementa o médico.
Para se ter uma ideia, o número recomendado pelo Ministério da Saúde é de 2,5 médicos por mil habitantes. Em João Pessoa, são oito para cada mil habitantes, enquanto no interior a média não passa de 1,7 profissionais para cada mil habitantes. “É uma disparidade muito grande. Precisamos de políticas de incentivo salarial, de infraestrutura e de uma regulação que realmente faça com que o paciente e seu médico se sintam seguros”, conclui o presidente do CRM-PB.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de abril de 2024.