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Obesidade aumenta demanda por cirurgia bariátrica na PB

publicado: 02/04/2018 17h54, última modificação: 02/04/2018 20h36
Bariátrica

Verônica Zumaeta perdeu 46 quilos após a bariátrica e hoje não tem mais os problemas de saúde que enfrentava antes - Foto: Arquivo Pessoal

tags: obesidade , bariátrica , cirurgia , saúde , autoestima


Alexandre Nunes

Na Paraíba, o caminho para acessar o tratamento da obesidade, por meio da cirurgia bariátrica, para quem não tem plano de saúde ou condições de arcar com as despesas do procedimento, é procurar o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HU), em João Pessoa, o único credenciado pelo SUS e que dispõe de uma equipe multidisciplinar para atender ao paciente.

É o que informa o cirurgião chefe do HU e responsável pelas cirurgias bariátricas naquela unidade hospitalar, Luís Antônio Fonseca. "Dispomos deste serviço para a Paraíba inteira. Em João Pessoa, o paciente tem que ser encaminhado pelo PSF e nos outros municípios é preciso que haja uma pactuação com o HU para a realização do procedimento, ou seja, os pacientes são encaminhados pelos municípios, por meio da regulação. Os atendimentos são agendados no HU pela secretaria de saúde de cada município", detalha.

O médico acrescenta que são atendidos três pacientes novos por semana, o que equivale a cerca de 156 novos pacientes por ano. No entanto, só são operados, em média, um paciente por semana, o que equivale a aproximadamente 50 pacientes por ano. Isso implica numa demanda reprimida e fila de espera. Outro agravante é que, para cada cirurgia, o SUS paga R$ 6,2 mil para bancar todo o serviço com anestesia, vaga na UTI, alimentação do paciente e do acompanhante, o que não paga os custos de forma alguma. Enquanto que, na rede particular, os custos dessa cirurgia, segundo Luís Antônio, são de R$ 25 mil, quando feita por vídeo e R$ 15 mil, quando aberta.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini, é preciso políticas públicas eficazes de combate à obesidade, para evitar que jovens e crianças sejam futuros candidatos à cirurgia bariátrica.

Marchesini alerta que os alimentos ultraprocessados devem ser evitados, pois são ricos em gorduras e açúcares, contém quantidades excessivas de sódio, além de alto teor de gorduras saturadas e hidrogenadas. “O Brasil é considerado o segundo país do mundo em número de cirurgias e os índices de obesidade só aumentam. Precisamos frear esta epidemia”, reforça Marchesini.

São praticadas no Brasil quatro modalidades diferentes de cirurgia bariátrica e metabólica, além do balão intragástrico. Uma dessas modalidades é o Bypass gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em “Y de Roux”), a técnica bariátrica mais praticada no Brasil, correspondendo a 75% das cirurgias realizadas.

Outra modalidade é a Banda Gástrica Ajustável, que representa 5% dos procedimentos realizados no país. Um anel de silicone inflável e ajustável é instalado ao redor do estômago, que aperta o órgão, controlando o esvaziamento. Já na gastrectomia vertical, o estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros. A Duodenal Switch é a modalidade que proporciona a associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal. Nessa cirurgia, 85% do estômago são retirados.

O balão intragástrico é considerado uma terapia auxiliar para preparo pré-operatório. Trata-se de um procedimento não cirúrgico, realizado por endoscopia para o implante de prótese de silicone, visando diminuir a capacidade gástrica e provocar saciedade. O balão é preenchido com 500 ml do líquido azul de metileno, que, em caso de vazamento ou rompimento, será expelido na cor azul pela urina.

Histórias de superação e de aumento de saúde e autoestima

Uma nova história de vida, um corpo emagrecido, autoestima refeita, novos projetos. É o sentimento predominante nos pacientes após a cirurgia bariátrica para tratamento da obesidade, enfermidade caracterizada pelo excesso de depósito de gordura corporal, resultado do acúmulo de calorias superior ao que o corpo utiliza.

Verônica de Moura Zumaeta Ferrari, 36 anos, advogada, casada, relata que desde muito nova, sempre esteve acima do peso, porém, após duas gestações, as coisas pioraram muito e isso a incomodava. “Procurei um médico e descobri que, além do excesso de peso, estava com gordura no fígado, grau 3, e que meu pâncreas estava sobrecarregado, prestes a parar de funcionar. Também estava pré-diabética e com princípio de hipertensão. Pensando em tudo isso e nas inúmeras vezes em que fiz todos os tipos de dietas sem sucesso, resolvi tentar a cirurgia bariátrica. Precisava mudar ou teria sérios problemas de saúde”, acrescenta.

A advogada detalha como foi o passo a passo para chegar até a cirurgia. “Após os primeiros exames, procurei alguns médicos, recebi quatro “nãos” como resposta, diante da minha solicitação de cirurgia, pois eles alegavam que eu não tinha o peso necessário. Dr. Augusto de Almeida Júnior foi o único que levou em consideração não apenas o meu peso, mas sim meu quadro de saúde que estava se agravando e, então, resolveu me operar”, observa.

Verônica Zumaeta conta que no período pré-operatório teve o acompanhamento da equipe do Cento de Tratamento Multidisciplinar da Obesidade (CTMO), do qual o médico Augusto de Almeida Júnior faz parte, e que conta com psicólogo, nutricionista, gastroenterologista e cirurgião. “Sempre tive medo da cirurgia em si, já que qualquer procedimento cirúrgico envolve risco, por melhor que seja o médico e por mais saudável que seja o paciente. Fiz muitos exames, como para saber da capacidade pulmonar, cardíaca, exame de sono, tudo para que a operação fosse feita na maior segurança possível”.

Verônica conta que, após a cirurgia, ficou no hospital por dois dias em observação, fazendo fisioterapia respiratória e tendo o acompanhamento necessário. “Após isso, retornei para casa. Não senti nenhuma dor, absolutamente nada. O que incomoda são os 30 dias que passamos comendo em copinhos de café. De 30 em 30 minutos, tomamos um caldo (carne ou frango). E de 10 em 10 minutos, bebemos água, sempre no copinho de café, além de uns suplementos vitamínicos e alguns outros suplementos como proteína, carboidratos, tudo em pó”, explica.

A advogada garante que obteve os resultados esperados com a cirurgia. “A cirurgia estima que a pessoa perca cerca de 30 a 40% do peso e eu perdi. Fiz a cirurgia pesando 103kg e hoje peso 57kg. No primeiro mês perdi 12kg, depois o processo foi ficando mais lento, mas com 1 ano e 2 meses já tinha perdido tudo que queria. Me sinto muito melhor, aprendi a me alimentar melhor, não tenho mais os problemas de saúde que tinha com a obesidade, tenho mais disposição”, ressalta.

O que levou Fernando Antônio de Oliveira Nóbrega Filho, 26 anos, solteiro, também advogado, a recorrer à cirurgia bariátrica foi o pico de pressão arterial por conta da obesidade. Ele explica que, no período pré-operatório, passou por uma bateria de exames, e sempre com acompanhamento psicológico. “Não tive medo da cirurgia. Foi tudo muito tranquilo. Considerei a cirurgia como relativamente simples, porém necessita de atenção alimentar nos primeiros 6 meses de operado. Antes, eu pesava 140kg e hoje 80kg. Me sinto uma nova pessoa, recomendo a cirurgia sim, desde que esteja disposto a seguir o passo a passo pré e pós-operatório”, pondera.

Novo procedimento

A Gastroplastia Endoscópica já é uma realidade na Paraíba. Quem capitaneia o novo procedimento é o médico Eduardo Franca, membro da equipe do Centro de Tratamento Multidisciplinar da Obesidade (CTMO/PB). O novo método de redução do estômago permite procedimentos cirúrgicos endoscópicos avançados, sem cortes e menos invasivos.

Um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, a obesidade tem sido objeto de preocupação e debate. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso, e mais de 700 milhões, obesos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, uma em cada cinco pessoas no país está acima do peso. A pesquisa aponta ainda que a prevalência de obesidade duplica a partir dos 25 anos. Segundo pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os índices relativos à saúde em João Pessoa estão preocupantes, porque a cidade está em quarto lugar entre as capitais com mais obesos no país, com 20,2%.

Para o gastroenterologista Eduardo Franca, o que causa o ganho exacerbado de peso nas pessoas é a acessibilidade a alimentos ricos em calorias e obres em nutrientes. “Então, o custo de um refrigerante, de um biscoito, de um doce, de uma guloseima, de um carboidrato de refinados, faz com que a população, por ter acesso e por isso gerar um certo grau de dependência, pela disposição mais fácil, tenha essa facilidade de ganhar peso. Outros aspectos têm que ser levados em conta. O aspecto genético, por exemplo, favorece os distúrbios comportamentais, a ansiedade, as tensões do dia a dia, que canalizam para esse tipo de comportamento alimentar”, detalha.

Eduardo Franca explica que, num país onde se alastra a falta de assistência, onde o paciente não tem disponibilidade de saúde pública, as comorbidades que vêm agregadas à doença principal, a obesidade, fazem com que as filas nos postos de saúde, nos hospitais, só cresçam. “Diria que os principais problemas enfrentados são hipertensão arterial, diabetes, doenças osteoarticulares. Esses problemas são crônicos e, uma vez instalados, com a presença da obesidade concomitante, fazem com que eles não tenham um controle adequado e o paciente aumente o seu risco de morbimortalidade ou de sofrer de doenças ou medo de morrer. Então, o acidente vascular cerebral, o coma diabético, os distúrbios grosseiros da coluna, do joelho, da bacia, fazem com que o paciente piore da doença de base, que é obesidade”, esclarece.

Ele é da opinião que a obesidade é uma doença crônica de dificílima abordagem e que precisa uma visão multidisciplinar de conscientização, desde o comportamento alimentar, das doenças relacionadas, ao aspecto genético. “Perder a referência de que é uma doença crônica, faz com que a doença volte a lhe abraçar. Então, é preciso ter essa noção: viver brigando diuturnamente com a doença, porque se a pessoa baixar a guarda, a doença vai tomar conta novamente”, alerta.