No coração de muitos paraibanos existe um desejo antigo, que carrega o peso de gerações: o sonho da casa própria. Um lar com paredes que guardam histórias, chão firme para os pés cansados e um teto que abriga não só pessoas, mas dignidade. Para milhares de famílias esse sonho parecia inalcançável, mas, a realidade tem trilhado um caminho diferente aqui na Paraíba. Um exemplo é a vendedora Emile Ursulino, mãe solo de dois filhos que, ao receber as chaves do seu novo lar, relembrou de tudo que passou até chegar naquele momento. “É uma conquista, né? Porque eu lutei muito para conseguir e, graças a Deus, agora deu certo. É muito bom, é muito gratificante”, resume.
A trajetória de Emile é parecida com a de tantos outros paraibanos e paraibanas que passaram a enxergar, na política de habitação popular, um caminho concreto para sair do aluguel, do aperto e da instabilidade. Nos últimos anos, a Paraíba tem se destacado, nacionalmente, com uma estratégia articulada, que une o Governo Federal e o Governo do Estado, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e de iniciativas locais como o Programa Parceiros da Habitação (PPH).
O alcance da política habitacional no estado impressiona. De 2019 até o início deste ano, a política habitacional do Governo do Estado entregou 7.127 unidades residenciais, com valores que ultrapassam os R$ 600 milhões, sendo R$ 131,7 milhões oriundos de recursos estaduais. Além disso, mais de quatro mil residências estão em processo de construção em mais de 50 municípios paraibanos, com investimentos que ultrapassam R$ 550 milhões, sendo R$ R$ 153 milhões com recursos estaduais. Outras 5.461 unidades estão prestes a ter sua construção iniciada, contando com aporte de R$ 126 milhões do Governo do Estado.
“A casa é muito mais do que uma obra de engenharia. É um espaço onde a família se reúne, é o refúgio onde você consegue descansar, conviver e criar um ambiente familiar, criar um conceito de lar”, afirmou o governador João Azevêdo. “É sempre uma emoção muito grande quando a gente entrega habitação. Isso é política de inclusão. Nosso programa vai chegar a 17 mil unidades Paraíba afora, entre o que já foi entregue, o que está em execução e o que será iniciado em breve”, complementou.
Segundo a diretora-presidente da Companhia Estadual Habitação Popular da Paraíba (Cehap), Emília Correia, será um ano de muito trabalho, para cumprir essa meta até o final de 2026. “Agora, com a retomada do programa de habitação federal, ganhamos mais fôlego para intensificar as iniciativas aqui no estado”, comemora, ao citar a entrega de três grandes conjuntos habitacionais em João Pessoa, só no primeiro semestre deste ano: o Vila Jardim Residence Club IV, o Vista da Colina e, recentemente, o Residencial Ilha Phi Phi.
Localizado em Gramame, o Vila Jardim Residence Club IV oferece 192 unidades habitacionais e investimento acima de R$ 33 milhões. O Residencial Vista da Colina, também em Gramame, possui 55 apartamentos distribuídos em dois blocos, somando mais de R$ 7,7 milhões em recursos. O Ilha Phi Phi contou com mais de R$ 7,1 milhões em investimentos, beneficiando 44 famílias.
As ações espalham-se por todas as regiões do estado. O Programa Parceiros da Habitação, por exemplo, já mudou a realidade de 472 famílias, em diversos municípios. Os investimentos ultrapassam os R$ 19 milhões, sendo quase R$ 15 milhões de aporte do Governo do Estado. Também estão em andamento unidades do Minha Casa, Minha Vida Rural (em parceria com entidades de moradia), novos empreendimentos do Programa Parceiros da Habitação, além de dois novos condomínios do programa Cidade Madura — um em Catolé do Rocha e outro em Conceição. Em fase avançada de construção, há, ainda, o Complexo Virgílio Trindade, em Patos, que prevê 576 apartamentos.
Paralelamente a essas ações, ainda estão sendo formulados novos projetos habitacionais voltados à Faixa 1 (menor renda) do Minha Casa, Minha Vida, que devem contemplar famílias de cidades como Cabedelo, Bayeux, Campina Grande, Catolé do Rocha, Cuité, João Pessoa, Mari, Patos e Sousa.
A amplitude do programa de habitação tem sido possível graças à atuação descentralizada do governo e à atuação conjunta com prefeituras, órgãos públicos e Governo Federal, como enfatiza Emília Correia. “A atuação descentralizada permite que o benefício ultrapasse as fronteiras da capital e chegue a regiões historicamente esquecidas. Não se trata apenas de construir casas. É sobre construir cidadania, pertencimento e novas oportunidades para quem mais precisa”, destaca a gestora.
Política habitacional é, sobretudo, inclusão
“Estamos muito felizes e ansiosos por essa nova fase”, conta Gabriel de Oliveira, agente comercial que, ao lado da noiva, Emmylly Reitzel, viverá no Residencial Ilha Phi Phi, no bairro de Gramame, em João Pessoa. Depois de sete anos de namoro e morando na casa de parentes, agora eles têm onde começar a vida a dois. “A parte mais difícil já conseguimos, o apartamento. Agora é organizar tudo para o casamento do jeito que ela quer”, afirma Gabriel, sorrindo ao lado da futura esposa.
Histórias como a de Gabriel e Emmylly multiplicam-se por toda a Paraíba e refletem o esforço conjunto do Governo Federal e o estadual para fazer do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) não apenas um projeto habitacional, mas uma verdadeira política de inclusão — que alcança desde famílias de classe média até as parcelas mais vulneráveis da população, muitas vezes invisíveis aos olhos das políticas públicas tradicionais e do financiamento imobiliário.
A profissional autônoma Elizabete Bezerra, moradora do Vila Jardim Residence Club IV, é um exemplo vivo dessa transformação. Mãe de dois filhos, ela conquistou o próprio lar depois de anos enfrentando dificuldades para manter um aluguel. “Antes, eu morava em um lugar afastado e sem estrutura, pagava R$ 450 de aluguel, quase o valor da parcela daqui, mas aqui temos conforto, segurança e qualidade de vida. Meu filho agora tem onde brincar, tem amizades novas e eu me sinto mais segura”, relata, destacando que, mesmo quando surgem problemas, o atendimento é eficaz. “A equipe da construtora está sempre aqui, atendendo não só a mim, mas a outros moradores. As meninas da administração são muito atenciosas. Estou gostando muito”, comemora.
Até dezembro de 2024, a Paraíba alcançou 39.039 contratações de unidades habitacionais desde a retomada do programa, em 2023. O número coloca o estado em posição de destaque nacional, com contratações em 151 dos 223 municípios. João Pessoa lidera com 20.477 contratos, sendo a terceira cidade do país com mais contratações — atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Também se destacam Campina Grande (6.940), Patos (1.466), Santa Rita (1.179) e Cabedelo (688).
Para a diretora-presidente da Cehap, Emília Correia, a atuação do Estado tem sido decisiva para garantir que o programa atenda a quem mais precisa. “A maior parte da nossa atuação é focada em garantir moradia para quem não tem acesso ao mercado de habitação. Nossa missão é contribuir para que todos, incluindo os mais vulneráveis, tenham acesso a uma casa própria com qualidade”, afirma. Segundo Emília, o Minha Casa, Minha Vida atua como um grande guarda-chuva, contemplando desde as famílias em situação de rua até entidades organizadas por movimentos populares.
Programa já se tornou referência nacional
Em um momento no qual o país vivia a suspensão dos programas habitacionais federais, a Paraíba não cruzou os braços. Para suprir o vácuo deixado pela paralisação do Minha Casa, Minha Vida, o Governo do Estado lançou, em 2020, o Programa Parceiros da Habitação (PPH), uma política pública que já se tornou referência nacional por aliar agilidade, inclusão social e parcerias com municípios e movimentos populares.
O PPH é executado pela Cehap e tem como foco a construção de moradias para famílias com renda de até três salários mínimos, especialmente aquelas em áreas de risco ou insalubres. O diferencial do programa está no formato colaborativo: o Estado entra com o projeto, assistência técnica, apoio financeiro e acompanhamento social; os municípios cedem o terreno e, em muitos casos, contribuem com infraestrutura, mão de obra ou materiais; entidades sem fins lucrativos e os próprios beneficiários também podem participar. “Criamos o Parceiros da Habitação justamente para responder à necessidade real da população, num momento em que os programas federais estavam parados. Hoje, o programa se consolidou como uma ferramenta ágil, eficaz e inclusiva”, destaca Emília.
A estrutura das casas segue um padrão: cerca de 44 m², com sala, dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço. As construções são feitas tanto em conjuntos habitacionais quanto em unidades isoladas, conforme as características de cada município. O projeto-piloto foi implantado em João Pessoa, Remígio e Barra de São Miguel, com a construção de 174 casas.
Além do aspecto social, o PPH representa um motor para o desenvolvimento regional, movimentando a economia, gerando empregos locais e fortalecendo a articulação entre governo, sociedade civil e movimentos sociais.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de julho de 2025.