A Polícia Civil da Paraíba (PCPB) ouviu 10 pessoas, ontem (19), com o objetivo de atestar a hipótese de origem criminosa do incêndio que acomete um território de cerca de 160 hectares na Serra do Cruzeiro, localizada na cidade de São José do Bonfim, desde o último dia 13. De acordo com o delegado Claudinor Lúcio, residentes de uma área próxima a um dos focos do incêndio na região foram intimados, após as autoridades terem observado indícios de que o incidente pode ter sido provocado por ação humana. Um dos motivos que respalda essa linha de investigação é o fato de os focos situarem-se distantes entre si.
O Ministério Público do estado (MPPB) informou que também apura o caso. O procurador-geral de Justiça da Paraíba, Leonardo Quintans Coutinho, destacou a colaboração do órgão para a força-tarefa mobilizada em São José do Bonfim e revelou crer na hipótese de crime. “O MPPB tem, nesse momento, uma missão clara e inadiável: atuar de forma integrada com a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a Semas [Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade] na investigação da autoria criminosa e da motivação do incêndio que devasta a Serra do Cruzeiro, um dos biomas mais importantes do nosso estado. Sabemos que a causa é humana. Por isso, já foi protocolada uma representação judicial para a quebra de dados de geolocalização de celulares, medida essencial para identificar os responsáveis e compreender o contexto dessa prática criminosa”, afirmou Leonardo.
Por meio da Semas, o Governo da Paraíba vem coordenando a operação de combate ao fogo na Serra do Cruzeiro. A força-tarefa integrada é composta pelo MPPB, pelas polícias Civil (PCPB) e Militar do estado (PMPB), pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBMPB) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As equipes têm a expectativa de que as chamas sejam controladas neste fim de semana. Segundo Thiago Silva, gerente-executivo de Áreas Protegidas da Semas, as atividades continuaram intensas durante todo o dia de ontem, com a finalidade de extinguir o incêndio. “A previsão inicial é que a gente consiga resolver até hoje. Pode ser que se estenda, mas a gente espera e tem feito um esforço para que, ainda neste fim de semana, consiga resolver a questão”, antecipou Thiago, frisando que fatores como o vento, por exemplo, podem atrapalhar o andamento das atividades.
O capitão do Corpo de Bombeiros, Idygleikson Medeiros, corrobora com essa possibilidade, mas esclarece que as condições climáticas e o apoio dos moradores do município, no Sertão paraibano, são indispensáveis para o sucesso da operação e da preservação ambiental local, pois o uso inadequado do fogo, seja para limpeza de terreno, produção de pasto ou até incineração de resíduos sólidos, provoca princípios de incêndio.
Impacto sobre fauna e flora só será calculado após a extinção do fogo
Cerca de 100 bombeiros militares têm atuado para extinguir as chamas na área. Ontem, equipes do 3º Comando Regional de Bombeiro Militar, em conjunto com o 4º Batalhão de Bombeiro Militar, com o apoio de nove policiais militares, do Grupo Tático Aéreo (GTA) e do helicóptero Acauã, da PMPB, intensificaram o combate a incêndio, a construção de aceiros — que consiste na retirada de vegetação para criar barreiras contra o avanço do fogo — e o rescaldo das áreas controladas, diminuindo o risco de novos focos. “As ações seguem até o fim do dia, garantindo maior segurança para as comunidades vizinhas e reduzindo os danos à vegetação nativa.”, declarou o tenente-coronel do CBMPB, Danilo Galvão.
Um incêndio florestal dessa dimensão acarreta inúmeros prejuízos para a fauna, a flora e o solo da região. No entanto, por ora, não se sabe o real impacto que o fogo causou sobre o ecossistema local. “Após a extinção do fogo, a gente vai iniciar um processo de delimitação do que foi degradado e quantificar, por meio de estimativas, o percentual da área degradada. [Divulgar] qualquer valor agora seria pouco preciso”, contou Thiago Silva.
Ainda conforme o gerente-executivo da Semas, até o momento, não há registros de morte de nenhuma espécie ameaçada de extinção em decorrência das chamas. Foram encontrados corpos de alguns pequenos roedores, mas especialistas ressaltam que o relevo da região permite que a fauna, de modo geral, refugie-se em áreas seguras.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de setembro de 2025.