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Passageiro esfaqueia condutor em JP

publicado: 15/10/2025 08h21, última modificação: 15/10/2025 08h21
Motorista foi ferido após discutir com homem que havia pulado a roleta; agressão motivou protesto da categoria
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Presidente de sindicato afirmou que o setor pode paralisar suas atividades novamente | Foto: Ronne Nunes/Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte da Paraíba

por Joel Cavalcanti*

Um motorista de ônibus foi esfaqueado na manhã de ontem, em João Pessoa, depois de tentar impedir que um passageiro permanecesse no espaço que fica diante da roleta, sem pagar passagem. A vítima, Thiago Willams, de 37 anos, levou um golpe na região das nádegas e foi levado Hospital de Emergência e Trauma da capital, de onde recebeu alta ainda ontem. O caso levou parte da categoria às ruas, em protesto por mais segurança, e reacendeu críticas à Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) de João Pessoa.

Thiago trabalha desde 2011 na empresa Reunidas e atua há apenas dois meses na linha 303. O caso aconteceu nas proximidades do Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por volta das 9h. O coletivo estava com cerca de cinco passageiros, quando o homem subiu e pediu ajuda para que alguém o ajudasse. “Ele pediu para pagarem a passagem, mas ninguém quis liberar. Pedi que ele descesse, porque a Semob tem multado os motoristas que deixam passageiros ficarem ali na frente, antes da roleta”, contou.

Segundo o motorista, a situação mudou de tom quando o homem recusou-se a sair do ônibus. “Ele pulou a roleta e começou a me ameaçar. Dizia que eu estava com preconceito, que não queria deixar ele ir. Eu respondi que não era nada disso, que só estava cumprindo o que a empresa pede, para evitar multa. Mas ele ficou me afrontando, com um tom muito agressivo”.

Diante das ameaças, Thiago decidiu interromper a viagem e pediu que todos os passageiros descessem, para aguardar outro coletivo. “Eu disse que não me sentia seguro em continuar o trajeto daquela forma. Parei o ônibus e pedi para todo mundo descer”, relatou.

Ao sair do veículo, o motorista foi surpreendido. “Quando eu desci, ele me deu uma rasteira. Eu caí, e ele puxou uma faca de dentro da bolsa. Tentei correr para dentro do ônibus, mas, quando subi o degrau, ele me atingiu nas nádegas”, declarou. O golpe foi profundo. “Perdi muito sangue. A sorte é que não atingiu a veia femoral. Se tivesse atingido, eu nem estaria aqui para contar”. Mesmo ferido, Thiago conseguiu se proteger dentro do veículo, enquanto o agressor fugia.

Os passageiros acionaram a polícia e o Samu, que levou o motorista ao hospital, onde ele passou por procedimentos de emergência. Sem conseguir pisar direito, o motorista segue de atestado médico por 10 dias.

Pai de um filho, Thiago conta que, em mais de uma década dirigindo ônibus, nunca havia enfrentado uma situação parecida. “Desde 2011 trabalho como motorista e nunca tinha passado por nada disso. A gente lida com passageiro de todo tipo, mas uma agressão assim é algo que a gente não espera”.

O motorista também responsabiliza as regras impostas pela Semob por criar situações de conflito dentro dos coletivos. “Essa questão das multas pesa. A gente é obrigado a discutir com o passageiro. Se eu deixo ele ali na frente e a Semob passa, aplica logo a multa, não quer saber o motivo. Isso acaba colocando a gente em risco”, disse.

Mobilização

Após o caso, motoristas realizaram um protesto no início da tarde, no Parque Solon de Lucena, no Centro. A manifestação começou por volta das 13h e durou cerca de uma hora e meia. O grupo criticou o comportamento da Semob em relação às autuações aplicadas aos condutores.

Segundo Ronne Nunes, presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte da Paraíba, as multas estão entre as principais queixas da categoria. “Estamos pedindo que a Semob pare de perseguir os trabalhadores. Eles estão multando motoristas por permitirem que passageiros fiquem antes da roleta. Isso nunca foi motivo de autuação e agora está virando rotina. O resultado é esse tipo de conflito”, afirmou, acrescentando que, se não houver uma resposta das autoridades, a categoria pode paralisar as atividades novamente.

Procurada pela reportagem, a Semob informou que ainda vai se posicionar sobre a manifestação e as críticas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de Outubro de 2025.