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transplante de coração

PB é referência em cirurgia via SUS

publicado: 10/02/2025 10h17, última modificação: 10/02/2025 10h17
Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires é um dos 43 do país a fazer o procedimento por meio do serviço público
primeiro transplante de coração em hospital público da PB - crédito arquivo do Hospital Metropolitano (1)_editada.jpg

Primeiro transplante de coração do estado, realizado pelo Poder Público, ocorreu em 2022 | Foto: Divulgação/Hospital Metropolitano

por Samantha Pimental*

O dia 26 de março de 2022 entrou para a história da saúde da Paraíba. Nessa data, foi realizado o primeiro transplante de coração em uma instituição pública do estado, o Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, localizado em Santa Rita, e gerenciado pela Fundação Paraibana de Gestão em Saúde (PB Saúde). O paciente beneficiado foi um homem de 60 anos, paraibano, que recebeu um novo coração de um jovem de 20 anos. Ao todo, no país, segundo o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), há 60 hospitais habilitados para realizar transplantes de coração, sendo que 43 deles realizam os procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desses, 35 confirmaram transplantes de coração em 2024; na Paraíba, foram seis procedimentos realizados pelo SUS.

O cirurgião cardiovascular, Antônio Pedrosa, que realizou o primeiro transplante de coração feito em um hospital público paraibano, conta que a instituição foi habilitada para realizar o procedimento em 2020, época em que ele também era diretor do Hospital Metropolitano. Mas, com a pandemia, quando os esforços de saúde se concentraram no combate à Covid-19, o índice de transplantes diminuiu em todo país, e o primeiro procedimento no Metropolitano só foi realizado dois anos depois.

“Na época da habilitação do Metropolitano, eu lembro que tudo nasceu com o objetivo de realizar, na Paraíba, algo inédito, que era um hospital público com capacidade de fazer transplantes. Duas instituições privadas já tinham feito e, de 2018 para 2019, a gente começou a fazer no Hospital Nossa Senhora das Neves também, mas não tínhamos isso no sistema público”. O cirurgião destaca que, para a habilitação do hospital, foi preciso um processo de adequação e de investimentos por parte da Secretaria de Estado da Saúde do Estado da Paraíba (SES-PB). 

“A Secretaria foi extremamente importante. Trata-se de um procedimento de muita complexidade, que foi sendo fomentado por meio da estrutura hospitalar, do transporte de órgãos, da Central de Transplantes e da vigilância de possíveis doadores. O Governo do Estado foi comprando essa ideia, por isso que ela aconteceu”.

Segundo ele, para o estado alcançar esse status, desde a inauguração do hospital, em 2018, “a unidade foi crescendo, aumentando a capacidade de tratar patologias complexas do coração e neurológicas, até o momento em que havia as condições técnicas de habilitar o hospital para transplantes”.

Na época, antes da habilitação, a unidade de saúde recebeu a visita de equipes do Sistema Nacional de Transplantes (SN

T), ligado ao Ministério da Saúde (MS), que vieram avaliar a estrutura, equipe médica, cirurgiões, anestesistas, o centro cirúrgico, equipe multidisciplinar e outros aspectos do Metropolitano. Cumprida essa etapa, a unidade recebeu o aval e foi credenciada para a realização de transplantes. “Hoje, ele [o Hospital Metropolitano] é o único da Paraíba credenciado junto ao Ministério da Saúde para realizar transplante cardíaco inteiramente via SUS, evitando que pessoas que precisem dessa cirurgia tenham que sair do estado. Antes, isso era feito, geralmente, em Fortaleza, Recife ou Salvador. Mas, atualmente, temos o serviço aqui, pelo SUS”, ressaltou Pedrosa, que também é o responsável técnico pelo programa de transplantes do Metropolitano.

Primeiro procedimento

Após a habilitação do Hospital Metropolitano, Antônio Pedrosa conta que o paciente que realizou o primeiro procedimento foi Willis Pereira Evangelista, que sofria de miocardiopatia dilatada, doença conhecida como “coração crescido”. “Ele foi avaliado por meio do ambulatório. Foi averiguado que ele estava apto para o transplante e, com isso, foi colocado na fila para receber o órgão, que veio de Campina Grande. O coração foi transplantado, a recuperação foi excelente, e o paciente recebeu alta em excelentes condições clínicas. Foi um sucesso esse primeiro transplante realizado numa unidade 100% pública”, contou ele.

O paciente recebeu alta cerca de um mês após o procedimento. Depois dessa experiência, o Hospital Metropolitano já realizou outros transplantes cardíacos. Em 2023, foram quatro, enquanto, em 2024, a unidade chegou a marca de seis transplantes realizados. A instituição se consolidou como referência em cardiologia e neurologia e, desde 2020, também possui o Ambulatório de Transplante, para atendimento a pacientes candidatos ao procedimento.

“Qualquer paciente com diagnóstico de insuficiência cardíaca, com baixa fração de ejeção, pode ser encaminhado para ser avaliado. Se for apto para o transplante, ele vai ser incluído na fila única do SNT e, quando houver um órgão compatível, ele é oferecido ao paciente. Aqui, ainda é possível realizar exames de alta complexidade, sem custo”, destaca o médico que integra a equipe do Hospital Metropolitano. Além do transplante em adultos, o Metropolitano tornou-se o quinto hospital público do país habilitado para fazer transplante de coração pediátrico.

Doação de múltiplos órgãos registra alta de 28% no estado

Dados da Central Estadual de Transplantes apontam que, em 2024, foi registrado um total de 50 doações de múltiplos órgãos no estado. O número é o maior já contabilizado desde 2001 e 28% superior em comparação com o ano anterior, quando foram realizadas 39 doações.

Ao todo, foram 137 órgãos captados, entre coração, fígado e rins, além de 154 doadores de córneas (tecido). Quanto ao coração, grande parte dos doadores são vítimas de morte encefálica causada por trauma.  Por isso, nos Hospitais de Emergência e Trauma de João Pessoa e Campina Grande, há um protocolo para transporte desse órgão em casos de doação, contando com suporte aéreo do Corpo de Bombeiros, quando necessário.

“O número de transplantes depende do nível de doações, que flutua muito. Mas, na Paraíba, houve um incremento, pela ação da própria Secretaria de Saúde, que vem estimulando isso, e as pessoas também têm a confiança de ver que o serviço realmente funciona”, afirma Antônio Pedrosa.

 Em 2024, a Paraíba também bateu recorde em doações de coração, somando 12 captações e oito transplantes realizados no estado. Os outros quatro corações foram enviados à Central de Transplantes de Pernambuco. Esse é o maior número dos últimos 23 anos, segundo dados do Ministério da Saúde.

De acordo com a diretora-geral da Central de Transplantes da Paraíba, Rafaela Dias, uma soma de fatores permitiu o crescimento dos números. “Terminamos o ano de 2024 com a certeza de que avançamos muito em relação às doações de órgãos e transplantes na Paraíba. Batemos recorde no número de doações e transplantes de coração, superamos o número de transplantes de fígado em comparação a 2023 e ainda ajudamos a salvar 69 vidas em 10 estados, com órgãos que foram doados aqui, na Paraíba. Tudo isso é fruto dos investimentos do Governo do Estado, sem falar nas capacitações promovidas junto às nossas equipes e da compreensão das famílias de que o ‘sim’ delas está salvando vidas,” destaca.

Como ser doador

Para se tornar um doador é importante comunicar esse desejo para a família, assim, após a morte, os familiares poderão autorizar a doação e a retirada dos órgãos e tecidos. Não é necessário deixar qualquer informação por escrito, pois a doação só pode ser realizada após a autorização familiar. Assim, mesmo que uma pessoa tenha dito em vida que gostaria de ser doador, a doação só acontece se a família autorizar.

Contudo, é importante que aquelas pessoas que tenham esse desejo manifestem sua intenção para familiares e amigos próximos, que, após o seu falecimento, podem contribuir na decisão de prevalecer a sua vontade. Além disso, é necessário conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e tecidos, que podem salvar vidas e levar mais saúde a pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando na fila de espera. Esta fila é única, organizada por estado ou região, e monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de fevereiro de 2025.