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PB reduz pobreza e melhora renda

publicado: 04/12/2025 08h36, última modificação: 04/12/2025 08h36
Números divulgados revelam mudanças contínuas na base da pirâmide social e diminuição da fatia dos mais ricos
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Indicador aponta que os 20% mais ricos ganham, em média, 12,7 vezes mais que os 20% mais pobres | Foto: Divulgação/IBGE

A Paraíba alcançou, em 2024, o menor percentual de população em situação de extrema pobreza desde o início da série histórica, em 2012. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada ontem pelo IBGE, 4,7% dos paraibanos — cerca de 194 mil pessoas — vivem com menos de US$ 2,15 por dia em paridade de poder de compra (PPC). É o terceiro ano consecutivo de queda, após o pico de 16,7% registrado em 2021.

A redução também repete-se na taxa de pobreza: 38,3% da população (1,58 milhão de pessoas) vivem abaixo da linha internacional de US$ 6,85 PPC/dia em 2024, igualmente o menor valor já registrado e muito abaixo do observado em 2021, quando o índice chegou a 56,1%.

Embora apresente melhora consistente, a Paraíba ainda permanece acima da média nacional e abaixo da regional em alguns indicadores. Na pobreza extrema, o estado (4,7%) tem proporção menor que o Nordeste (6,5%), mas maior que o índice brasileiro (3,5%). No recorte da pobreza geral, o estado (38,3%) está ligeiramente melhor que o Nordeste (39,4%), porém distante do cenário nacional (23,1%).

A distribuição de renda reforça esse quadro de vulnerabilidade. Na Paraíba, 36,3% da população tem rendimento domiciliar per capita inferior a 50% da renda mediana nacional — patamar próximo ao do Nordeste (37%) e bem acima do patamar do Brasil (21,4%). Em 2024, grande parte da população concentrou-se nas faixas mais baixas de rendimento: 27,1% de ¼ a ½ salário mínimo e 32,7% de ½ a um salário mínimo. Os estratos de renda mais elevados seguem minoritários: apenas 1,9% vivem com mais de cinco salários mínimos por pessoa.

Apesar disso, o estudo mostra leve melhora na base da pirâmide de renda. O grupo dos 10% mais pobres ampliou sua participação no total do rendimento domiciliar, passando de 1,1% em 2012 para 1,5% em 2024 — aumento proporcionalmente maior que o do Nordeste e do Brasil.

Nos estratos mais ricos, houve uma discreta redução. A fatia da renda dos 10% mais abastados caiu de 40,8% para 39,9% no período analisado, aproximando-se dos percentuais do Nordeste (40,1%) e do país (39,6%). O grupo imediatamente abaixo dos estratos mais ricos, também teve leve recuo, repetindo o comportamento observado na região.

Com a melhora consistente nos últimos anos, os dados indicam avanço da Paraíba no combate à pobreza, embora ainda permaneça evidente o desafio de reduzir a distância em relação ao cenário nacional e ampliar a participação das faixas de renda mais baixas no total de recursos gerados no estado.

Pessoas brancas têm maiores rendimentos

De 2012 a 2024, o rendimento real domiciliar per capita médio da Paraíba cresceu 29%, passando de R$ 971 para R$ 1.253, desconsiderando benefícios sociais. O aumento foi maior entre os homens, cujo rendimento subiu 32,5% (de R$ 963 para R$ 1.276), enquanto entre as mulheres o avanço foi de 25,7% (de R$ 979 para R$ 1.231). Com isso, a vantagem feminina registrada em 2012 foi invertida em 2024.

Os recortes por cor ou raça mostram que pessoas autodeclaradas brancas continuam a ter os maiores rendimentos médios. Esse grupo registrou aumento de 31,3%, passando de R$ 1.259 para R$ 1.653. No grupo dos pardos, o crescimento foi de 27% (de R$ 818 para R$ 1.039), enquanto no de pessoas pretas, de 19,8% (de R$ 906 para R$ 1.085). Quando combinados sexo e raça, o contraste acentua-se: o rendimento médio do homem branco subiu de R$ 1.277 para R$ 1.661, enquanto o da mulher preta ou parda passou de R$ 835 para R$ 1.000. Assim, a diferença absoluta entre esses dois grupos aumentou de R$ 442 para R$ 661 — fazendo com que, em 2024, o homem branco tivesse rendimento 66,1% maior que o de uma mulher preta ou parda.

Os 20% mais ricos recebem, em média, 12,7 vezes mais que os 20% mais pobres, segundo o indicador conhecido como razão 20/20. O resultado, embora elevado, é inferior ao registrado na média do Nordeste (13,8) e do Brasil (14,6). Nos estados nordestinos, a Paraíba aparece em posição intermediária na desigualdade medida por esse índice. Rio Grande do Norte (15,3), Pernambuco (15,9) e Alagoas (14,4) apresentam disparidades maiores, enquanto Piauí (12,1) e Bahia (12,4) registram níveis mais baixos.

No ranking nacional, Distrito Federal (19,4), Roraima (16,6) e Rio de Janeiro (15,8) exibem as maiores diferenças entre ricos e pobres. Já Santa Catarina (9), Rondônia (9,9), Minas Gerais (10,3), Rio Grande do Sul (10,8) e Paraná (11,7) apresentam os menores índices.

Programas sociais

A evolução do Índice de Gini na Paraíba mostra que a desigualdade varia fortemente conforme a inclusão dos benefícios sociais. Sem considerar transferências, o estado registrou níveis de concentração acima da média nacional na maior parte da série: após estabilidade em 2012 (0,554), a desigualdade aumentou a partir de 2016, chegando ao pico de 0,648 em 2023 e recuando para 0,579 em 2024.

Com os benefícios incluídos, porém, a desigualdade cai de forma consistente. O Gini passou de 0,517 em 2012 para o pico de 0,563 de 2017 a 2019, mas vem diminuindo desde 2020, atingindo 0,496 em 2024 — o menor nível da década.

O impacto redistributivo dos programas sociais é evidente: na Paraíba, o índice de 2024 cai de 0,579 (somente rendimento do trabalho) para 0,496, quando considerados todos os rendimentos. O mesmo padrão ocorre no Nordeste (de 0,582 para 0,499) e no Brasil (de 0,542 para 0,504). Em 2023, a diferença foi ainda mais expressiva, com o Gini paraibano indo de 0,648 sem transferências para 0,561 com os benefícios.

Os dados mostram que os programas sociais são fundamentais para reduzir desigualdades, mas também evidenciam que o aumento da renda média não garante, por si só, menor disparidade entre grupos sociais, sexos e raças no estado.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de dezembro de 2025.