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homicídio de vereador

Polícia Civil prende dois secretários

publicado: 31/10/2025 08h35, última modificação: 31/10/2025 08h35
Segundo as investigações, o assassinato de Peron Filho, em setembro, foi motivado por vingança política
Um dos secretários suspeitos --- PCPB.jpg

Detidos ontem, membros da Prefeitura de Jacaraú teriam contratado “pistoleiros” para o crime | Foto: Divulgação/PCPB

por Priscila Perez*

Por trás da morte do vereador Peron Filho, assassinado em 15 de setembro, no município de Pedro Régis, no Litoral Norte da Paraíba, um enredo de vingança começa a emergir, de acordo com os investigadores. A Polícia Civil da Paraíba (PCPB) prendeu, ontem, cinco pessoas suspeitas de envolvimento no crime — entre elas, dois secretários da Prefeitura de Jacaraú. Conforme as apurações, o parlamentar vinha denunciando irregularidades no uso de recursos públicos, o que acabou levando à sua execução por “pistoleiros” contratados no Rio Grande do Norte. O delegado Sylvio Rabello, responsável pelo caso, afirmou que a Operação Parlamento, realizada com apoio da polícia potiguar, reuniu provas técnicas, como rastreamento via GPS e gravações de câmeras, que ligam os mandantes aos executores.

O caso é conduzido pela 7ª Delegacia Seccional de Mamanguape, com apoio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), da Unidade de Inteligência Policial (Unintelpol) e do Ministério Público da Paraíba (MPPB). Segundo Sylvio Rabello, as prisões efetuadas ontem são temporárias, com prazo máximo de 30 dias, e têm como objetivo aprofundar as análises técnicas e periciais. “Havendo mais indícios, pediremos a prisão preventiva. Por enquanto, eles estão presos, justamente, para avançarmos na apuração”, salientou.

Até o momento, as investigações apontam que o crime foi planejado em uma pousada da região, onde o secretário de Transportes de Jacaraú, Jeferson Carvalho da Silva, teria se reunido com o grupo criminoso do Rio Grande do Norte para acertar os detalhes da execução. A escolha pelos “pistoleiros” — como o delegado prefere chamá-los — também foi estratégica: como Jacaraú faz divisa com o estado vizinho, a proximidade facilitaria a fuga após a execução.

Premeditado

Em entrevista ao jornal A União, o delegado explicou que as provas reunidas pela polícia reforçam o caráter premeditado do crime. Imagens de câmeras de segurança, análises de GPS e depoimentos de testemunhas indicam que o secretário de Transportes estava monitorando o vereador antes do crime. Ele esteve no ginásio onde Peron jogava futsal e, ao perceber que a vítima deixava o local em direção à sua casa, teria avisado ao grupo criminoso que o aguardava na estrada. “Nessa reunião, na pousada, havia dois carros: o de Jeferson e o da quadrilha. A gente nota que o veículo do secretário sai meia hora antes do crime e vai para o ginásio onde a vítima estava. E, quando Peron saiu de lá, de moto, o secretário certamente avisou aos criminosos no segundo carro”, detalha Sylvio Rabello.

O vereador foi atingido por três tiros nas costas, disparados por uma arma que, conforme a investigação, já havia sido usada em outros 12 homicídios no Rio Grande do Norte. Toda a ação ocorreu na rodovia PB-071, na entrada da cidade de Pedro Régis.

Quanto ao secretário de Administração, Antônio Fernandes Alves de Carvalho, que também foi detido, a PCPB entende que ele teria colaborado com o colega na eliminação de provas, ajudando-o a apagar filmagens e descartar celulares. “Cerca de duas horas antes do crime, o secretário de Transportes também fez uma visita a ele. Estavam sempre muito conectados”, acrescenta o delegado.

Em nota, a Prefeitura de Jacaraú ressaltou que “repudia qualquer ato que contrarie os princípios da legalidade e da ética pública e que adotará as medidas cabíveis diante das informações oficiais”. Disse, ainda, que já determinou o afastamento dos envolvidos, reiterando seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e o respeito à população de Jacaraú. 

Apreensões

Durante a Operação Parlamento, foram presos os dois secretários de Jacaraú, o dono da pousada onde o plano foi elaborado e os dois executores do crime, ambos encontrados no município potiguar de Nova Cruz, próximo à fronteira com a Paraíba. Na ocasião, também foram apreendidos os celulares dos envolvidos. “A gente acredita que o secretário mandou uma mensagem para o grupo criminoso sobre a vítima. É por isso que fizemos a apreensão de todos os aparelhos”, destaca Sylvio. Os cinco suspeitos permanecem sob custódia na Delegacia Seccional de Mamanguape e devem ser transferidos para presídios do Litoral Norte. As defesas dos acusados não foram localizadas pela reportagem.

Parlamentar denunciava irregularidades

Para as autoridades, ao que tudo indica, a motivação do crime foi política. Na avaliação do delegado da PCPB, trata-se de um crime premeditado por vingança, já que Peron Filho vinha denunciando, desde o ano passado, irregularidades no uso de combustível, na manutenção de veículos públicos e em contratos suspeitos da administração municipal de Jacaraú. Algumas dessas denúncias chegaram a ser encaminhadas ao Ministério Público, enquanto outras eram divulgadas nas redes sociais do parlamentar.

As investigações revelam um clima crescente de hostilidade entre as partes, que evoluiu para ameaças diretas. Consta, ainda, nos autos que o vereador havia posicionado-se contra emendas de interesse do Executivo, o que ampliou, ainda mais, o conflito político. “Ele era bastante atuante e realizava muitas denúncias, todas de maneira legal. Inicialmente, houve um descontentamento por parte do secretário de Transportes, e os embates começaram a se intensificar”, detalha o delegado.

A morte de Peron Filho causou uma forte comoção em Jacaraú. Segundo Sylvio Rabello, as investigações continuam, inclusive, com o apoio do MPPB, até que o crime seja totalmente esclarecido.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de outubro de 2025.