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População indígena cresce 20%

publicado: 20/12/2024 09h01, última modificação: 20/12/2024 09h01
Segundo levantamento, número de habitantes saiu de 25.043 pessoas, em 2010, para 30.140, no ano de 2022
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Mais de 64% dos 5.097 indígenas que passaram a integrar o Censo do IBGE depois de 2010 referem-se à população que mora na Zona Urbana paraibana | Foto: Roberto Guedes - Foto: Roberto_Guedes

por João Pedro Ramalho*

A população indígena na Paraíba cresceu entre 2010 e 2022, passando de 25.043 pessoas para 30.140 — um aumento absoluto de 5.097 habitantes e percentual de 20%. Mais de 64% dos 5.097 indígenas referem-se às populações que vivem nas Zonas Urbanas, o que indica um crescimento mais expressivo nessas regiões.

 Além disso, a quantidade de indígenas com domicílio fora de terras indígenas, tanto urbanas como rurais, representou a maior parte dessa alta populacional: foram 4.349 indivíduos nesse recorte, sendo que 3.975 deles (91,4%) estão nos centros urbanos. Os dados foram divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na pesquisa “Censo Demográfico 2022: Indígenas — principais características das pessoas e dos domicílios, por situação urbana ou rural do domicílio”.

Número
Levantamento de 2022 mostra que 13.149 indivíduos estão na área rural, enquanto 16.991 vivem na cidade

O estudo apresenta as informações tanto de acordo com a situação do domicílio — se é urbano ou rural — como de acordo com a presença em territórios indígenas ou não. Segundo o IBGE, quase todos os recortes, ao cruzarem os dados, apresentaram crescimento populacional, sinalizando “que a variação de população indígena ocorreu de forma espraiada pelo território estadual”. A única exceção foi a dos indígenas que habitam territórios nativos em um contexto urbano, cujo número caiu. O IBGE, porém, atribui esse fenômeno a aperfeiçoamentos na metodologia do Censo 2022 e na delimitação dos territórios.

Para o especialista em Geoprocessamento e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), João Damasceno, o aumento maior nas zonas urbanas e em locais fora dos territórios indígenas é fruto do desenvolvimento das cidades do estado.

Esse cenário favoreceu a migração, mas pode ter como consequência uma perda cultural. “O crescimento dos pequenos e médios centros se tornou atrativo para os povos originários, mas eles vão perdendo a identidade. Por isso, existe muita luta para tentar manter vivos os traços culturais originários, e é preciso encontrar formas de fortalecer os mais jovens a assumir o papel de manutenção desse legado”, afirma.

 Urbano x rural

O levantamento do  IBGE constatou que a maior parte da população indígena paraibana (56,4%) vive na Zona Urbana. São 16.991 pessoas nesse recorte, no Censo de 2022; ou seja, 3.270 a mais que o registrado em 2010 (13.721). Já o número de indígenas habitantes na Zona Rural passou de 11.322 (em 2010) para 13.149 (em 2022),  um crescimento absoluto de 1.827 pessoas. Esse total representa, ainda, 43,6% dos povos originários do estado. Comparando-se os dois períodos, o crescimento proporcional foi maior entre os residentes urbanos (23,8%) do que entre os indígenas das Zonas Rurais (16,1%).

A proporção de habitantes nos dois ambientes, quando confrontada com os dados gerais da Paraíba, aponta para um equilíbrio na distribuição das populações indígenas. Isso porque, em 2022, 79,6% dos residentes totais do estado viviam em contexto urbano, enquanto apenas 20,4% estavam em contexto rural — uma discrepância de 59,2 pontos percentuais (p.p.). Entre os indígenas, todavia, a diferença foi de 12,8 p.p.

 Idade mediana

Outro dado revelado pelo IBGE diz respeito à idade mediana dos povos originários da Paraíba. A idade mediana consiste na idade que separa a metade mais jovem da metade mais velha da população, e é um índice que ajuda a avaliar o envelhecimento. Nesse caso, a idade mediana dos indígenas paraibanos aumentou cinco anos entre 2010 (25 anos) e 2022 (30 anos). O número, porém, ainda é menor que o observado na população total do estado, cuja idade mediana era de 34 anos, em 2022.

"O crescimento dos pequenos e médios centros se tornou atrativo para os povos originários, mas eles vão perdendo a identidade"
- João Damasceno

Ao observar-se a localização do domicílio, a idade mediana da população indígena também se modifica, sendo maior fora de terras indígenas do que em terras indígenas. No primeiro grupo, esse índice cresceu cinco anos entre os dois censos do IBGE, passando de 30 para 35 anos; enquanto isso, o outro grupo aumentou sua idade mediana, que já era mais baixa, em apenas três anos, saindo de 24 para 27 anos. De forma semelhante, a idade mediana dos indígenas residentes em áreas urbanas (33) era sete anos maior, em 2022, do que a observada entre os moradores da Zona Rural (26).

Já os dados referentes à taxa de alfabetização apontam para um crescimento percentual destacado entre os indígenas com 15 anos de idade ou mais e que foram alfabetizados.

O índice cresceu 7,4 p.p. entre 2010 e 2022, tendo passado de 73,8% para 81,1%, respectivamente. A alta foi superior, inclusive, à observada em nível estadual (6 p.p.): 78,1% dos paraibanos eram alfabetizados em 2010, número que subiu a 84%, 12 anos depois.

Paraíba apresenta 48 localidades com povos originários

Ontem, o IBGE divulgou uma segunda pesquisa, chamada “Censo Demográfico 2022: Localidades Indígenas – Resultados do Universo”. Nela, o instituto aponta o número de localidades indígenas por estado do Brasil, definidas na publicação como “todo lugar do território nacional onde existe um aglomerado permanente de habitantes indígenas”. Na Paraíba, foram contabilizadas 48 áreas do tipo, valor que representa 0,57% do total do país e coloca o estado como o 3º do Nordeste com menos locais desse tipo.

Baía da Traição concentra maior parte desta população, com 7.992 moradores

Dessas 48 localidades indígenas, 40 estão situadas dentro de terras declaradas, homologadas, regularizadas ou encaminhadas como reserva indígena (83,3%).

O estudo afirma que, entre as características comuns a todas essas localidades, estão: “elevada concentração espacial de domicílios habitados por pessoas indígenas; identificação explícita como aldeia, comunidade, acampamento indígena e contiguidade espacial dos domicílios como manifestação dos vínculos representados por laços familiares ou comunitários”.

A pesquisa apresentou também uma segunda categoria, chamada de Locais de Concentração de Pessoas Indígenas (LCPIs). Nesse grupo, estão as áreas que não se distinguem explicitamente das regiões maiores a que pertencem nem são identificadas como aldeias ou comunidades indígenas. Na Paraíba, 31 locais foram identificados nessa categoria.

Ainda segundo o IBGE, apenas três municípios do estado possuem indígenas morando especificamente em terras indígenas, sendo eles Marcação (7.926 pessoas), Baía da Traição (6.209 pessoas) e Rio Tinto (4.911 pessoas). Quando considerado o total de habitantes originários do estado, porém, os números mudam. Nesse caso, o município com maior número de indígenas passa a ser Baía da Traição, com 7.992 moradores assim autodeclarados. Confira o ranking no quadro.

Municípios com maior quantidade de indígenas

- Baía da Traição — 7.992
- Marcação — 7.926
- Rio Tinto — 6.175
- João Pessoa — 2.809
- Mataraca — 1.000
- Conde — 548
- Campina Grande — 470
- Mamanguape — 446
- Santa Rita — 323
- Bayeux — 316

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de dezembro de 2024.