Notícias

Acidentes domésticos

Por dia, 20 crianças são atendidas

publicado: 01/08/2025 08h52, última modificação: 01/08/2025 08h52
Primeiro semestre de 2025 teve 4.113 ocorrências; quedas, queimaduras e engasgos são os maiores perigos
Acidente domestico © Fabio Rodrigues Pozzebom_Agência Brasil.jpg

Durante o período de férias, os cuidados precisam ser redobrados para evitar a ingestão de objetos pequenos pelo público infantil | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

por Joel Cavalcanti*

No Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, uma média de 20 crianças são atendidas por dia após se acidentarem dentro de casa. Isso significa que, a cada 72 minutos, um novo caso de acidente doméstico infantil chega ao hospital: uma estatística que, além de expressiva, aponta para riscos cotidianos frequentemente subestimados por pais e responsáveis.

De janeiro a julho de 2025, foram registradas 4.113 ocorrências envolvendo crianças de zero a 12 anos, o que representa uma redução de 4% em relação ao mesmo período de 2024. Ainda assim, as crianças continuam sendo o segundo grupo mais afetado por acidentes domésticos, atrás apenas das pessoas de 19 a 59 anos — faixa que representa um conjunto maior e mais numeroso da população brasileira.

No período de férias escolares, esses riscos aumentam devido ao tempo que as crianças permanecem dentro de casa. Segundo o capitão Evandro Ataíde, do Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba (CBMPB), a maior parte desses acidentes poderia ser evitada com medidas simples de prevenção. “É comum e até normal que, pela própria impulsividade e imaturidade motora, crianças levem quedas ou sofram pequenas lesões. Mas acidentes graves, como quedas de altura ou queimaduras severas, quase sempre têm relação direta com a falta de supervisão adequada ou de medidas preventivas no ambiente doméstico”, explica.

São justamente essas circunstâncias mais graves que mais levam as crianças de casa à emergência hospitalar. Entre as ocorrências mais frequentes, em 2025, estão quedas (2.450 casos), introdução de corpo estranho (1.039) — como engasgos com brinquedos ou alimentos —, e pancadas (389). Os dados demonstram que o lar, frequentemente visto como um espaço seguro, pode abrigar perigos silenciosos, sobretudo para os pequenos.

As queimaduras, por exemplo, somaram 135 casos de janeiro a julho deste ano, com destaque para os acidentes causados por líquidos em alta temperatura (74 ocorrências). Para o capitão Ataíde, práticas como virar os cabos das panelas para dentro do fogão e utilizar as bocas traseiras ao cozinhar são ações simples que reduzem, consideravelmente, esse tipo de risco. “A criança não tem ainda a percepção do perigo. Ela pode tropeçar, puxar uma panela sem intenção. O adulto precisa antecipar esse tipo de situação”, afirma.

Socorro e prevenção

Outro ponto levantado pelo bombeiro diz respeito aos erros comuns no momento do socorro. Em situações como queimaduras ou engasgos, atitudes inadequadas por parte dos adultos, como tentar retirar um objeto preso na garganta com os dedos ou aplicar substâncias caseiras em feridas, podem agravar o quadro. Por isso, a recomendação é acionar imediatamente o CBMPB (193) ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) (192) e evitar medidas improvisadas.

“Mesmo com supervisão, acidentes podem acontecer. Mas quem cuida de uma criança precisa ter em mente que a casa, por mais familiar que seja, precisa ser adaptada para ela”, destaca Ataíde. Isso inclui proteger quinas de móveis, instalar telas de segurança em janelas e varandas, guardar objetos cortantes fora do alcance das crianças, evitar o uso de tapetes escorregadios e fiscalizar constantemente o ambiente.

A importância da prevenção é confirmada também por dados anteriores: no comparativo com o mesmo período de 2024, observa-se um crescimento no número de quedas (de 2.395 para 2.450), de acidentes com objetos no ouvido, nariz ou garganta (de 939 para 1.039) e de lesões por pancadas (de 364 para 389). São números que reforçam a necessidade de maior atenção dos responsáveis.

“Às vezes, o adulto negligencia porque acredita que o ambiente da casa já é seguro. Mas cada faixa etária exige uma adaptação diferente”, ressalta o capitão. “A vistoria doméstica é uma das principais ferramentas de prevenção. Saber onde estão os riscos é o primeiro passo para evitá-los”, complementa.

De acordo com especialistas em pediatria e segurança infantil, os primeiros anos de vida são marcados por uma intensa exploração sensorial e motora. O ambiente doméstico, se não for adaptado, pode representar uma série de estímulos perigosos. Tomadas descobertas, baldes com água no chão, objetos pequenos, móveis instáveis e produtos químicos fora de armários trancados são alguns dos fatores de risco mais recorrentes.

“O mais importante é reconhecer que o acidente doméstico não é um ‘acaso’, mas, em grande parte, resultado da combinação entre descuido e ambiente inseguro. Prevenir exige vigilância, informação e responsabilidade de todos os adultos que convivem com crianças”, conclui Ataíde.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de agosto de 2025.