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desafio diário

Por que eles não querem dormir?

publicado: 29/04/2024 10h02, última modificação: 29/04/2024 10h02
Vidrados nas telas, adolescentes passam privação de sono. Hábito traz irritabilidade e outros males
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Servidora pública Graziela Carvalho, com os filhos João (E) e Vini (D). Ela não proíbe o uso de dispositivos eletrônicos, mas supervisiona o processo de higiene do sono dos meninos | Foto: Carlos Rodrigo

por Lílian Viana*

Quando o bebê nasce, os pais contam os minutos para que ele cresça um pouquinho e durma a noite toda. Aí chega a adolescência. E os pais se dão conta de que o início era só um treino para a fase do “chefão” que acaba de chegar, assim, “do nada”, como os adolescentes gostam tanto de falar.  Que o diga a servidora pública Graziela Carvalho, mãe de Luíz Vinícius e João Carvalho, com 13 e 14 anos de idade, que são inimigos do fim, ou, neste caso, inimigos do sono.

“A cena daqui é: eles chegam do colégio, apagam, dormem à tarde. Um sono pesadíssimo. Acordam no final da tarde e, quando dá 22h30, 23h, eles costumam dormir de vez. Claro que preciso sempre lembrar que precisam dormir, porque tem aula no dia seguinte, aviso para deixar o celular e apagar a luz. Faço a primeira chamada, a segunda chamada... Na terceira, já com aquela voz de mãe... aí eles vão dormir”, detalha Graziela, em tom de brincadeira, mas com o olhar assertivo para os dois.

Luíz Vinícius diz que adora dormir, mas, na hora de escolher, sempre prefere ficar um pouco mais no celular do que se render ao cansaço. “Fico olhando umas coisas no celular e, quando me dou conta, já passou muito tempo. Mas, adoro dormir”, defende-se Vini, como gosta de ser chamado. E João segue o mesmo ritmo. Embora relate que dorme o suficiente, não consegue acordar com facilidade. “Durmo por volta das 23h e acordo às 6h25, com o despertador”, relata, enquanto é complementado pela mãe: “depois de apertar muitas sonecas no alarme”.

A situação vivenciada por Graziela, João e Vini é mais comum do que se imagina, de acordo com um estudo publicado pelo periódico científico Nature Human Behavior, em 2023. O estudo mostra que 93,5% dos jovens não chegam a dormir nem sete horas por noite. A condição vem preocupando especialistas na área da saúde, já que a privação do sono pode comprometer o desenvolvimento físico e mental. Com isso, são acometidos por diversos problemas, entre eles, a falta de concentração e irritabilidade.

Esse sono nunca será recuperado. Consequentemente, ficarão mais irritados e mais dispersos   --   Carla Minervino

Para a psicóloga infantojuvenil, Carla Moita Minervino, o tempo de tela é o principal vilão que impede uma higiene do sono adequada. “Durante o dia, eles estão muito sonolentos. E isso está acontecendo porque, durante a noite, que é o tempo que eles deveriam dormir, estão ocupando espaço fazendo outras coisas, em geral usando um mecanismo eletrônico à noite, um celular, um tablet. E, naquele mundo digital, tão mais atrativo, eles acabam dormindo mais tarde”, explica a profissional.

Como precisam acordar cedo para ir à escola, não terão tempo necessário para o descanso. E, justamente no momento em que precisam estar mais atentos, ficam dispersos. É uma conta que não fecha. “Esse sono nunca será recuperado, mesmo que eles durmam a tarde toda. Consequentemente, ficarão mais irritados e menos interessados nas aulas, mais dispersos”, reforça Carla Minervino.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de abril de 2024.