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Profissões tradicionais passam por transformação no mercado

publicado: 13/01/2018 18h05, última modificação: 13/01/2018 18h41
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Rosa Maria é costureira há 30 anos, atividade antes desempenhada pelos alfaiates, exemplo de profissão transformada nos dias atuais - Foto: Ortilo Antônio

tags: profissões tradicionais , transformações , adaptação , tecnologia


Marcos Lima

No país, e na Paraíba não é diferente, uma profissão, quando não é extinta, ela passa por mudança significativa, levando os profissionais a desempenharem outras funções ou adaptações, tudo isso graças, nos últimos anos, à modernidade da tecnologia, à globalização e, principalmente, ao avanço dos tempos. Profissões como a de alfaiates, cobradores de transportes coletivos, fotógrafos laboratoristas, caixa bancário e embaladores de supermercados, exemplos claros, raramente são encontrados. Muitas das pessoas que ao longo dos anos desempenharam essas atividades hoje exercem outros trabalhos, deixando para trás períodos de experiências comprovadas em carteiras de trabalho.

“Hoje o mercado de trabalho tem um perfil diferenciado. São novas oportunidades de trabalho, deixando de lado aquela rotina tradicionalmente conhecida”, disse Thiago Diniz, gerente administrativo do Serviço Nacional de Emprego (Sine-PB). “O mercado de trabalho passa por uma adaptação ao mundo contemporâneo do trabalho, para tanto é essencial se ter uma linha de informação, o que as empresas têm feito bastante apelo por este lado da tecnologia da informação”, acrescentou ele.

Para Thiago Diniz, que sempre profere palestras em escolas e empresas sobre 'Mercado de Trabalho e Transformações das Profissões', antigamente o jovem focava uma faculdade superior e hoje prefere correr atrás de um trabalho mais técnico. “Ele busca mais cursos técnicos para suprir a demanda do mercado”, afirmou o gerente administrativo do Sine-PB, citando as profissões de técnico em automação industrial e técnico eletricista como exemplo. “São profissões onde os trabalhadores tiveram que passar por adaptações e mais profissionalismo. Antes, o eletricista pensava diferente e, hoje, ele se modernizou ao ponto de se tornar um técnico”, garantiu Thiago.

De acordo com Thiago, as mudanças são naturais, decorrente da evolução do mercado de trabalho no mundo inteiro e da busca de competitividade nas empresas; outras são decorrentes das carências e transformações do Brasil. Ele comemorou as adaptações das profissões e disse que muitas delas desaparecem, porém aparecem com novas nomenclaturas no mercado de trabalho. “Rotinas administrativas, hoje se chama auxiliar administrativo. Auxiliar de produção no momento passa por reformulação. Alfaiate, praticamente já desapareceu, dando lugar à costureira, costureira industrial, dentre outros”, alegou.

Aplicativos substituem contato direto com profissionais

Taxista é uma profissão no país onde a competitividade obrigou a todos a se modernizarem, principalmente depois de terem suas receitas devastadas com a chegada de alguns aplicativos que colocam os consumidores em contato direto com o taxista que estiver mais próximo dele, substituindo a central telefônica. Muitos dos profissionais trilharam para outras profissões devido as perdas irreparáveis no mercado de trabalho. Na Paraíba, a redução nos vencimentos atingiu o patamar de 50%, conforme Carlos André Ferreira (Cacá), diretor do SindTáxi-PB.

“Com a chegada da Uber, tivemos somente aqui na Paraíba uma queda de 50% nas receitas. Fomos obrigados a também criar mecanismos para tentar reverter esse quadro, no entanto, antes disso, perdemos excelentes quadros para outras ocupações. Alguns ex-taxistas hoje trabalham como vendedores de caldo de cana, comerciantes ambulantes, caminhoneiros e motoristas particulares”, disse Carlos André, do SindTáxi-PB, informando que a situação já foi contornada em 30%, mesmo assim, a tecnologia obrigou a classe a passar por essas mudanças.

Empacotador de supermercado é outra profissão que praticamente não existe na Paraíba. Para esta atividade, os supermercados procuram dar preferência a jovens a partir de 16 anos que estão em busca de primeiro emprego. A carga horária de trabalho é de 4 a 6 horas por dia e por isso a remuneração é baixa. O piso salarial varia em torno de R$ 500,00, fora os benefícios que são oferecidos por algumas empresas. Ricardo Antônio, empresário do ramo supermercadista e que por vários anos instalou na capital o Supermercado Beliskão, disse que são poucos os estabelecimentos que utilizam essa mão de obra.

“Por muitos anos fui dono de supermercado em João Pessoa. Hoje trabalho no ramo de frigorífico, porém sempre dei oportunidade para empacotadores, mas não é uma profissão bem aceitável por parte dos supermercadistas. Na Paraíba, diferente de alguns estados do país, esta atividade não existe, obrigando o profissional a procurar outra alternativa”, afirmou Ricardo.

O caixa bancário é outra profissão que está em transformação. O processo de metamorfose facilitou a vida da população, no entanto está gerando desemprego demasiado. Algumas das tarefas realizadas (pagamentos, manipulação de dinheiro, fechamento do caixa, entre muitas outras atribuições) deixaram de ser feitas por mão de obra qualificada e, atualmente, quase todas as transações bancárias são realizadas em casa, por meio do serviço de bankline, o que minimiza o custo com funcionários aumentando o investimento em tecnologia.

“Podemos dizer que esta transformação está acelerando o processo de extinção da profissão do caixa bancário. Hoje tudo é resolvido pela internet. A automação avança a passos largos. Os bancos, com a tecnologia da informação, além de gerar desemprego, está obrigando as pessoas a serem atendidas por máquinas“, afirmou Marcos Henriques, diretor para assuntos de relações sindicais do Sindicato dos Bancários da Paraíba.

Alfaiataria, profissão que teve seu início por volta do século XVII na Europa e posteriormente foi se espalhando pelo mundo, é outra transformada nos dias atuais na Paraíba e no Brasil. Arte realizada pelos profissionais que criam roupas masculinas, como ternos, calças, coletes, camisas, paletós e muitas outras para compor o visual masculino, criadas de forma personalizada, sob medida, de forma exclusiva e artesanal, hoje são produzidas até mesmo em pequenos estabelecimentos ou em casas residenciais. O alfaiate foi substituído pela costureira residencial ou industrial.

“Esta arte de criar roupas, principalmente para o seguimento masculino, já fez muita história no país e em nosso estado, mas, atualmente, se pulverizou e este trabalho é feito também por outros profissionais. Com o avanço tecnológico, esta profissão foi se modernizando e hoje é muito difícil encontrar um alfaiate”, afirmou Rosa Maria, que há mais de 30 anos faz e costura roupas. Residente na Rua Rodolfo Espínola, 174, no Conjunto Ernesto Geisel, na capital, a costureira disse ter a maior admiração pelo alfaiate, mas a profissão hoje não requer tamanha experiência quando de épocas passadas.