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Peixe-leão

Protocolo de ação será discutido

publicado: 23/05/2023 09h11, última modificação: 23/05/2023 09h11
Presença de espécie invasora foi confirmada em três aparições no litoral paraibano, gerando preocupação de órgãos
Peixe-Leão Crédito Pixabay.jpg

Espécie representa uma ameaça ao ecossistema brasileiro; sem predadores naturais, sua proliferação pode acontecer rapidamente - Foto: Pixabay

por Juliana Cavalcanti*

Após o aparecimento no litoral paraibano, a Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis na Paraíba (Ibama) e a Coordenação de Comunicação Social do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) se reúnem, na próxima semana, com o objetivo de definir um protocolo de ação conjunta diante da ameaça do peixe-leão para as águas dos mares. As primeiras aparições do peixe no estado ocorreram neste ano.

O peixe de espécie exótica, segundo estudos, representa um desequilíbrio ambiental já que é oriundo do Oceano Pacífico e, por isso, não pode fazer parte da costa brasileira, podendo causar impactos na biodiversidade nacional. O peixe ocupa o território de espécies nativas, diminuindo a população destas e reduzindo a quantidade de peixes em recifes. Por não ser nativo do Brasil, o animal não possui predador natural no país e portanto, não há controle da população, o que aumenta o perigo para o ecossistema marinho brasileiro e para seres humanos.

A presença de indivíduos de uma espécie exótica na costa paraibana evidencia um desequilíbrio ambiental. Por isso, a exigência de alguns órgãos no Estado é que o Ibama tome medidas com relação ao surgimento do peixe-leão no litoral da Paraíba.

O Ibama recomendou inicialmente o registro do local de ocorrência ou avistamento, além da comunicação ao órgão ambiental. A pasta vem se organizando, através da Divisão de Flora e Fauna, sobre as ações que serão realizadas após cobrar providências ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima e outros órgãos competentes.

Em nota, a área técnica do Ibama Nacional informou que a invasão biológica é um tema complexo, que deve ser tratado por um conjunto de instituições conforme as competências de cada uma. Portanto, a fim de enfrentar o problema provocado pela espécie, o Ibama anunciou algumas medidas.

A primeira delas é a proibição da importação desses animais para qualquer finalidade; a segunda foi oficializada por uma portaria, em 2022, que proíbe a importação de cinco espécies do gênero Pterois (Pterois antennata, Pterois miles, Pterois radiata, Pterois sphex e Pterois volitans); além da criação, também no ano passado, de Grupo de Trabalho (GT) com afinalidade de formular propostas de ato normativo sobre manejo do peixe-leão, articular junto a órgãos de meio ambiente e a pesquisadores especialistas em espécies exóticas invasoras a produção de subsídios para trabalhos do GT, reunir informações e documentos técnicos sobre os temas e discutir plano de ação emergencial para enfrentamento da bioinvasão.

O órgão apontou ainda, em nota, que a previsão é que seja realizado um Workshop Nacional sobre a bioinvasão do peixe-leão, previsto para o primeiro semestre de 2023. “O início de uma invasão biológica é o momento mais favorável para o estabelecimento de programas de detecção e controle. Quanto maior a população da espécie invasora em águas nacionais, que cresce em grande velocidade na ausência de predadores naturais, mais complexas e custosas são as medidas de enfrentamento”, esclarece o texto.

Já o ICMBio destacou, também através de nota, que realiza ações de captura e monitoramento em casos de ocorrência da espécie. Sobre os registros na Paraíba, nenhuma informação sobre as ações futuras foi divulgada pela entidade.

O primeiro registro do peixe na Paraíba, conforme a Superintendência do Ibama no estado, ocorreu em março, na Praia de Pitimbu. No início de abril, foi registrado oficialmente o aparecimento do peixe-leão nas praias do Jacumã e Seixas. A partir da primeira ocorrência, às entidades ambientais da têm conscientizado a população com relação a essa espécie.
Neste sentido, o Instituto Parahyba de Sustentabilidade (ONG Ipas), mesmo antes da chegada do peixe na Paraíba, já realizava estudos, conscientizações, informações aos pescadores e à população em geral, além de capacitação com relação a esse peixe. A ONG foi uma das participantes da reunião realizada no dia 14 de março com o Ibama e outras entidades de proteção ambiental da Paraíba.

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A ameaça
O peixe-leão é conhecido como um espécie bioinvasora com alta adaptabilidade, que se alimenta de crustáceos e outros peixes. Seu ciclo alimentar é considerado rápido, com a injestão de animais do mesmo tamanho e conseguindo comer mais de 20 peixes no intervalo de 1h. Outro problema é a sua alta capacidade de reprodução, colocando certa de 30 mil ovos no período, contribuindo com a sua proliferação.

No caso dos humanos, o aumento populacional do peixe-leão diminui a quantidade e variedade de pescado. Além disso, por ser venenoso, oferece riscos à saúde de mergulhadores e banhistas. Os espinhos na região dorsal soltam um veneno nocivo às pessoas, podendo causar dor, náuseas e até convulsões, e demora cerca de 90 minutos para começar a agir.
De acordo com o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ricardo de Souza Rosa, o peixe-leão é um peixe demersal (que vive junto ao fundo) em ambientes costeiros rasos como recifes e lagunas até profundidades de 300m. Segundo o pesquisador, as várias espécies de peixe-leão são originárias do Indo-Pacífico e Mar Vermelho, desde o litoral até águas mais profundas. “No Brasil já pode ser considerado uma espécie invasora, oriunda de introduções que possivelmente ocorreram na América do Norte”, explicou.

O professor ressalta que como espécie invasora, pode causar grandes desequilíbrios ecológicos, pois as espécies nativas não têm mecanismos de defesa contra o predador. “A partir desta introdução na América do Norte, o peixe-leão já está amplamente disseminado em praticamente todas as ilhas do Mar do Caribe, na América Central e no norte da América do Sul, incluindo a Colômbia, Venezuela e o Brasil. Sua presença além do impacto ecológico, pode comprometer as atividades do turismo. Basicamente, deve-se ter muito cuidado ao manusear este peixe, para evitar ferimentos com seus espinhos”, observou.

A recomendação é que, ao avistar o animal, o banhista informe o fato às autoridades ambientais, detalhando a localização aproximada. Em comunicado, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente da Paraíba (Sudema-PB) adiantou que está orientando a população, sobretudo pescadores e mergulhadores, sobre a presença da espécie e a importância da informação sobre o seu aparecimento. A população pode entrar em contato imediatamente através do número (83) 9.2000-7927 ou por meio de formulário eletrônico.

A Secretaria de Meio Ambiente de Cabedelo (Semam) recomendou que, no caso de encontrar um peixe-leão em unidade de conservação, o mergulhador/banhista não pode interajir com o animal por conta dos espinhos. Se for possível, dizer a profundidade e levar imagens para facilitar a identificação.

No caso de pescar acidentalmente um peixe-leão, o conselho é que não se devolva ao mar: capture, removendo cuidadosamente os espinhos e, se possível, entregue ao Ibama ou ICMBio mais próximo. Para mais informações ou para informar sobre o aparecimento do peixe-leão em Cabedelo, a Semam disponibiliza o contato (83) 3228.0596 (WhatsApp).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de maio de 2023.