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Quadrilha junina encena nova montagem natalina

publicado: 19/12/2025 08h31, última modificação: 19/12/2025 08h31
Espetáculo narra o nascimento de Jesus com influência armorial
Crédito - Delanio Marques (2).JPG

Inspirada em obra de cordel, produção combina música, dança e folclore | Foto: Delanio Marques/Divulgação

por Maria Beatriz Oliveira*

O espetáculo “Uma Estrela Armorial” será apresentado pelo terceiro ano consecutivo durante a programação de Natal de Campina Grande, nas próximas segunda (22) e terça-feira (23), no Museu de Arte Popular da Paraíba (Mapp). Criada pela Junina Moleka e inspirada em um cordel do poeta Lima Filho, a montagem conta a história do nascimento do menino Jesus com influências do movimento armorial, idealizado pelo escritor Ariano Suassuna.

De acordo com Lima Filho, a proposta surgiu da ideia ousada de imaginar o consagrado autor paraibano escrevendo um auto de Natal. Assim, os narradores de “Uma Estrela Armorial” são Chicó e João Grilo, os famosos personagens de “O Auto da Compadecida”, que relatam o nascimento de Jesus Cristo na cidade de Taperoá, no Cariri do estado — em vez de Belém —, e a fuga da Sagrada Família para São José do Egito, em Pernambuco — em vez do Egito bíblico. A liberdade tomada em relação ao relato cristão, segundo o poeta, é uma forma de homenagear Ariano e aproximar a história natalina do universo sertanejo. “Inclusive, o menino Jesus nasce no curral dos Arianos, na fazenda Suassuna”, detalha.

A linguagem popular nordestina também foi uma das principais preocupações do autor ao elaborar o texto de “Uma Estrela Armorial”. A intenção era contar a narrativa bíblica com o sotaque e o vocabulário do povo da região, o que se reflete em versos como: “José, meu fi / Tome o menino e sua mãe / e fuja para São José do Egito / Permaneça por lá / Que o negócio está esquisito / Herodes vai procurar / O menino para matar / Corra, avexe os cambitos”.

“Palavras como ‘avexe’ e ‘cambito’ são muito nossas; o nordestino entende de imediato o que elas significam”, comenta o poeta.

Com uma hora e 20 minutos de duração e cerca de 50 participantes — entre dançarinos, músicos e produtores — o espetáculo une música, poesia e teatro. Apesar de ser idealizado por uma das quadrilhas juninas mais tradicionais de Campina Grande, Lima Filho ressalta que o São João é apenas uma inspiração para a montagem.

“O público é diferente, pois, embora seja feito por quadrilheiros, [o espetáculo] não é uma apresentação de quadrilha. As danças que mostramos são o maracatu, o coco de roda e o forró, expressões típicas de grupos folclóricos e teatrais. O que mantemos das quadrilhas é a ideia de espetáculo. Por exemplo, no nascimento de Jesus, teremos fogos de artifício e efeitos especiais, como nos festejos juninos. Se fosse para resumir, eu diria que é um espetáculo natalino narrado em cordel e feito por quadrilheiros”, explica o autor.

Os figurinos também refletem a estética armorial e foram criados especialmente para a encenação. Com o apoio da Secretaria de Cultura de Campina Grande, por meio do Edital Lourdes Ramalho, as duas performances de “Uma Estrela Armorial” terão entrada gratuita e começarão às 19h.

O Mapp fica situado na Rua Dr. Severino Cruz, s/n, no Centro da cidade, às margens do Açude Velho.

Movimento

Fundado em 1970, o movimento armorial defendia a criação de uma arte erudita a partir das raízes populares do Nordeste. Dessa forma, defendia a combinação de linguagens artísticas clássicas — como teatro, música, literatura e artes plásticas — com ritmos, mitos e folclore nordestinos. Para Ariano, idealizador do movimento, o objetivo era reafirmar a identidade cultural regional diante do impacto das referências estrangeiras.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de dezembro de 2025.