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ventos intensos

Queda de árvores aumenta 302,5% em João Pessoa

publicado: 17/06/2024 09h09, última modificação: 17/06/2024 09h09
Índice se refere apenas aos primeiros cinco meses deste ano
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De janeiro a maio deste ano, caíram 157 exemplares arbóreos na capital paraibana | Fotos: Roberto Guedes - Foto: Roberto_Guedes

por Maria Beatriz Oliveira, Lusângela Azevêdo e Priscila Perez*

João Pessoa é reconhecida como uma das cidades mais verdes do país, com mais de 300 mil árvores espalhadas por calçadas, praças, parques, canteiros centrais e rotatórias. No entanto, não é apenas a beleza dessa vegetação que tem chamado a atenção, recentemente. De janeiro a maio deste ano, caíram 157 exemplares arbóreos na capital paraibana, ou 302,5% a mais, em comparação ao mesmo período de 2023 — quando houve registro de apenas 39 tombamentos. Os dados da Secretaria do Meio Ambiente (Semam) mostram, ainda, que o índice representa mais que o dobro do total de ocorrências do ano passado (77). Mas o que estaria causando a queda dessas árvores? 

A quantidade de plantas doentes também tem sido maior | Fotos: Roberto Guedes

Segundo o engenheiro agrônomo Anderson Fontes, diretor de Controle Ambiental da Semam, o tombamento dessas 157 unidades arbóreas nos primeiros cinco meses do ano é consequência de ventanias muito fortes. “Esse aumento tem muito a ver com as mudanças climáticas no planeta”, diz o especialista, destacando que a cidade é uma das capitais brasileiras com menor incidência de quedas desse tipo. Ele acrescenta que, no dia 6 de fevereiro passado, por exemplo, as fortes chuvas que atingiram João Pessoa, acompanhadas por rajadas de vento de até 74km/h, derrubaram quase 130 árvores na cidade, sendo 10 apenas no Parque Parahyba I.

De acordo com informações da secretaria, a média anual de tombamentos em João Pessoa é, normalmente, inferior a 100, como aconteceu no ano passado e também em 2022, que registrou 63 quedas. Mas alguns eventos climáticos, como chuvas com ventos atípicos para a região, podem distorcer esse cenário. Fontes diz ainda que as árvores mais impactadas neste ano eram relativamente jovens, com cerca de 15 anos — e plantadas, inclusive, pela população. “Com esses ventos, as árvores que os cidadãos plantaram, com raízes sufocadas e sem poda adequada, acabaram tombando, o que nos alertou para essa questão”, pontua. As quedas vitimaram exemplares das espécies exóticas ficus, benjamina, castanhola, acácia-mimosa e mangueira.

Outro fator de forte influência sobre as quedas é o sufocamento das raízes, segundo ele. “Quando o sistema radicular está totalmente recoberto, a drenagem na área é dificultada, impedindo a entrada de oxigênio no solo. Sem isso, a raiz pode apodrecer. Raízes sufocadas e podas malfeitas, somadas a doenças, realmente debilitam a árvore e podem levar ao seu tombamento”, explica o especialista.

Prevenção

Para evitar que mais árvores caiam, a Semam realiza um trabalho contínuo de prevenção, focado na saúde das 300 mil unidades arbóreas espalhadas pelas oito mil ruas da cidade. A ação preventiva segue normas técnicas que incluem três etapas fundamentais: diagnóstico, poda e tratamento.

Primeiro, a equipe identifica as necessidades de cada árvore. Em seguida, realiza uma poda de contenção da copa, e, posteriormente, inicia o tratamento, com base em um parecer técnico detalhado, que funciona como um receituário, especificando as ações necessárias para melhorar a saúde do vegetal. “Esse tratamento é realizado de forma preventiva, o que nos permite evitar a morte de árvores em João Pessoa. Nosso plano de manejo é muito enfático e direto, priorizando o sistema preventivo de cuidados”, explica.

Em 2022, os técnicos da pasta trataram 12.784 mil árvores; já no ano seguinte, foram 15.385. No ano em curso, em apenas cinco meses, o índice é de 4.875 exemplares — 1.798 a mais do que no mesmo período do ano passado. “Em 2023, identificamos 5.486 árvores urbanas com doenças fúngicas ou parasitárias — ou com proliferação de ambos os patógenos. Neste ano, já detectamos 2.790”, diz o agrônomo.

Ou seja, são 120 árvores doentes a mais, em comparação com os cinco primeiros meses de 2023. “As plantas exóticas são as mais atingidas por essas doenças, enquanto as nativas não adoecem tanto”, observa.

Mudanças climáticas

Devido às mudanças climáticas, que estão elevando a temperatura média dos oceanos e da própria atmosfera, a queda de árvores na capital mais verde do país pode deixar de ser um fenômeno isolado. Quem faz o alerta é a meteorologista Ana Paula Paes, consultora da Energisa. “As mudanças climáticas implicam no agravamento dos eventos extremos, e isso inclui a ocorrência de ventos fortes, que podem voltar a se repetir — e com mais frequência e intensidade”, sublinha a especialista.

Em fevereiro deste ano, por exemplo, a quantidade de nuvens de tempestades aumentou significativamente no território paraibano, contribuindo para as fortes chuvas e ventanias que atingiram João Pessoa. O segundo semestre também promete ser chuvoso, devido à formação do La Niña, fenômeno climático previsto para os meses de julho e agosto. “O La Niña amplifica o volume de chuva no Nordeste. Como alguns eventos de chuva forte costumam vir acompanhados de raios e ventanias, ele pode contribuir para o aumento dos ventos”, explica.

Infelizmente, não é possível afirmar quando e onde os ventos poderão soprar com mais força, mas a previsão para os próximos dias é de rajadas entre 40 km/h e 55 km/h.

Em Patos, algarobas estão sendo substituídas 

Quem anda pelas ruas e avenidas de Patos, no Sertão do estado, esbarra emvários tipos de plantas nativas e exóticas plantadas em canteiros, logradouros públicos e calçadas da cidade. Dentre as espécies que compõem a arborização urbana estão o nim, a sibipiruna, o ipê, a craibeira e a algarobeira — sendo a última mais suscetível a tombamentos e quedas.

Somente neste ano, entre janeiro e maio, 10 delas causaram transtornos, com a queda de galhos ou o tombamento completo, devido às chuvas e ventanias.Além da ação do tempo, as árvores também podem ser afetadaspor doenças comuns, nas raízes ou no tronco. Conforme a secretária municipal de Meio Ambiente, Manoella Rodrigues, as mais recorrentes são as infestações de cupim, a contaminação por fungos e a deterioração causada pelo homem.

Para evitar os contratempos, as árvores que apresentam alguma patologia e que, posteriormente, podem oferecer risco de queda, estão sendo substituídas por outras — preferencialmente, nativas. Já as consideradas saudáveis estão sendo mantidas. Nesse processo de recuperação, já foram trocadas 33 algarobeiras na cidade.

Na mudança, Manoella disse que estão sendo utilizadas árvores que mantenham as folhas durante o ano todo, tenham pouco desenvolvimento da raiz (para evitar danos em calçamentos, calçadas e rede de esgoto) e que sejam de fácil de manutenção. 

Em CG, a manutenção é um trabalho diário da Sesuma | Foto: Julio Cezar Peres

Campina tem 130 mil espécies catalogadas

Em Campina Grande, a manutenção das árvores é um trabalho diário e sustentável, realizado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (Sesuma). Segundo o secretário da pasta, Sargento Neto, a administração e o cuidado com as árvores da cidade são realizados de duas formas: por solicitação de moradores e por avaliação periódica da equipe técnica do órgão.

 Ao todo, são seis equipes e 40 avaliadores disponíveis para o trabalho. Além disso, o Programa Minha Árvore, criado há 10 anos, cataloga espécies e envolve a população campinense na preservação e no plantio de novas mudas. Por meio do endereço virtual minhaarvore.site, os cidadãos podem abastecer a página da internet com informações sobre espécies, mapeamento e cobertura vegetal do município. Com mais de 130 mil espécies catalogadas, a Sesuma plantou, somente no mês passado, três mil mudas na cidade.

Ainda de acordo com o secretário, apesar das fortes chuvas que, recentemente, caíram em Campina Grande, não foi registrado um número significativo de tombamentos de árvores. “Da última semana de maio até agora, registramos somente seis quedas. A mais comum de tombar é a algarobeira, cujas raízes não se fixam bem em solo instável”, explicou Sargento Neto.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de junho de 2024.