Nos lares paraibanos, são comuns histórias com crianças que tenham sofrido algum tipo de machucado, como fraturas ou cortes, enquanto brincam com parentes, amigos ou mesmo sozinhas. O alerta é que esses acidentes vêm aumentando. Na Paraíba, o número de quedas envolvendo crianças teve alta no primeiro trimestre deste ano. De janeiro a março, ocorreram 2.427 registros dessa natureza no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, e no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande. O número representa 809 quedas em crianças por mês, ou cerca de 27 acidentes infantis por dia. Já em todo o ano de 2023, os dois hospitais registraram 9.190 ocorrências, o que representa, aproximadamente, 766 quedas com crianças todo mês ou 25,5 registros diariamente (veja quadro ao lado).
Esses números mostram a importâncias de se manter cuidados preventivos e ficar atento às crianças, sobretudo em atividades como subir e descer escadas, uso de beliches ou brincadeiras em parques e playgrounds, que devem ser supervisionadas por um adulto, reduzindo o risco de acidentes. Segundo o médico ortopedista Sérgio Paredes, que trabalha na área de medicina da dor, os casos de quedas em crianças vêm se tornando mais frequentes também devido ao comportamento social atual, onde elas costumam ficar mais reclusas, e isso pode prejudicar o desenvolvimento neuromuscular.
“As crianças ficam menos expostas a atividade física e, quanto mais reclusão social ou domiciliar, menos elas treinam os controles neuromusculares das partes motoras, consequentemente você vai criando um maior índice de fragilidade. Ou seja, a criança tem uma maior propensão a desequilíbrios, quedas, e com isso ela vai ter uma maior possibilidade de sofrer acidentes. Isso é uma coisa perceptível ao longo do tempo, e isso eu acho que está muito relacionado com o padrão social que a gente vem adotando atualmente”, destacou o ortopedista.
O médico também alerta que, em casos de queda, é importante observar se há uma fratura evidente, se a região ficou inchada, se a criança está sentindo dor, e buscar avaliação médica, sobretudo porque aquele trauma pode resultar em algum problema maior no futuro. “Todo trauma em criança é uma coisa preocupante, porque ele pode dar repercussões imediatas, como uma fratura, com grande desvio, em que a criança vai ter uma deformidade no membro, ou às vezes uma questão de mobilidade: não aguentar colocar o pé no chão ou mexer o braço. Então, podem ocorrer traumas ali naquele momento, como eles também podem gerar problemas mais tarde, ou seja, complicações a longo prazo”, afirmou o ortopedista.
Medicação
Nesse sentido, Sérgio também aponta os riscos da medicação sem orientação profissional, onde pais e responsáveis, por conta própria, oferecem remédios para a criança e acabam piorando o quadro. O remédio pode levar a uma breve melhora e, com isso, a criança vai forçar em cima da região machucada, agravando o problema e tornando mais complexo o tratamento.
O médico também lembra que a criança ainda está em desenvolvimento, por isso os traumas nesse período também podem ser mais arriscados, sobretudo nos primeiros anos de vida: “A criança é um esqueleto ainda em desenvolvimento, então ele tem partes que estão calcificadas, mas tem partes ainda que não são calcificadas, e tem áreas com mais cartilagem, como a ponta do nariz e a orelha. Esses locais são mais fáceis de fraturar e são mais difíceis de ver nos exames de raio-x e nos exames de imagem”, destacou.
Números
Veja mais detalhes sobre as ocorrências com quedas em crianças
No Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, no ano de 2023, foram 4.447 atendimentos de crianças de até 12 anos em razão de quedas, e no primeiro trimestre deste ano já são 1.041 atendimentos realizados.
Já o Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, no ano passado, registrou 4.743 atendimentos. Entre as ocorrências, os maiores índices tratam de quedas da própria altura (2.829), quedas da cama (624), de altura (425), de bicicleta (265), do sofá (213) e da escada (124). Outros atendimentos tratam de quedas da rede, de cavalo, árvore ou de moto. Já neste ano de 2024, de janeiro a março, a unidade já realizou 1.386 atendimentos de crianças que sofreram algum tipo de queda.
Mesmo adotando ações preventivas, mãe tomou susto com filho
Moradora do bairro de Tambaú, em João Pessoa, a designer gráfica Marcela Dantas tomou um susto no ano passado com o filho Pedro Dantas, de cinco anos – na época o menino tinha quatro. Ela contou que o filho se acidentou em um clube de piscina, em São Paulo, terra natal de Marcela.
“Meu filho estava se divertindo, pulando na piscina repetidas vezes. Preocupada com a agitação perto da escada, que estava lotada, pedi a ele para se afastar um pouco e não atrapalhar os outros. No momento em que falei com ele, Pedro já estava prestes a pular novamente. Virou-se para ouvir o que eu dizia, e nesse instante escorregou; seu pé já estava adiantado para o salto. Ele acabou deslizando e batendo o queixo na borda, causando um corte considerável”, explicou.
Marcela contou que manteve a calma, enquanto ele chorava bastante. “Estanquei o sangramento com uma toalha e busquei ajuda no pronto-socorro do clube. A atendente sugeriu usar cola em vez de pontos, mas, como não tinham lá, meu pai, que é médico aposentado, recomendou aplicar um adesivo próprio para isso, que comprei na farmácia. Felizmente, meu filho adormeceu no caminho de volta para casa, o que facilitou o procedimento. Meu pai conseguiu aplicar o adesivo com perfeição enquanto ele dormia, o que foi muito útil, e não precisei levá-lo até o hospital”.
A designer gráfica ainda contou que, quando o filho era mais novo, sempre teve os cuidados necessários em casa. “Eu coloquei bastante proteção na casa. Principalmente nas quinas de mesas e de vidro, onde eu colocava borrachas para proteger, além das tampas nas tomadas. Também usava grade na cozinha, para ele não ter acesso ao fogão, à faca; ainda ficava atenta para que ele não caísse da cama”.
Saiba mais:
Confira como prevenir acidentes
- Evitar deixar em lugares mais altos objetos a que as crianças precisem ter acesso
- Ficar atento com escadas e janelas em casa
- Em casos de crianças maiores, buscar uma atividade física orientada que possa auxiliar no desenvolvimento locomotor, como judô ou jiu-jítsu
- Atentar para o uso de equipamentos de segurança caso a criança goste de praticar algumas atividades, como skate ou bicicleta
- Adotar calçados adequados durante a prática de futebol, brincadeiras de corrida e outras atividades esportivas, evitando sandálias e tamancos que podem escorregar dos pés facilmente
- Em caso de brinquedos como o pula-pula, é importante que crianças de idades, tamanhos e pesos muito diferentes não brinquem juntas
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de maio de 2024.