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Do rio grande do sul

Relatos de quem está longe da PB

publicado: 08/05/2024 09h20, última modificação: 08/05/2024 09h20
Enchente marca vida de paraibano que está “ilhado”, bem como de porto-alegrense que precisa viajar a João Pessoa
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Paraibano Cosmo Júnior foi cursar doutorado em Porto Alegre em fevereiro do ano passado e hoje vivencia o drama do alagamento | Fotos: Arquivo Pessoal
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Vista da janela da residência de Cosmo
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Imagem do estado atual da Rodoviária de Porto Alegre
Cosmo 01 (3) -Arquivo Pessoal.jpg
Varanda cosmo (3) - Arquivo Pessoal.jpg
Rodoviária Porto alegre (2) - Arquivo Pessoal.JPG

por Daniel Abath*

Enchentes, pessoas desabrigadas, aeroporto fechado e rodovias intransitáveis por causa do alagamento. Esse é um pouco do panorama de Porto Alegre. A catástrofe não se concentra apenas na capital gaúcha, mas se espalha por outras cidades do Rio Grande do Sul. As vítimas vão desde pessoas naturais da região, até paraibanos que estão desabrigados no estado. Há também morador local que se preparava para se mudar para a Paraíba, mas a viagem teve de ser adiada.

Esse é o caso da jornalista Camila Freitas, 34 anos, que é porto-alegrense e está na capital do Rio Grande do Sul ansiosa para vir à Paraíba. Camila foi recém-aprovada no pós-doutorado em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGC) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Ela estava de mudança para João Pessoa, com voo marcado para hoje. “O aeroporto Salgado Filho está embaixo d’água e vai ficar fechado até o dia 30 de maio. Eu tinha voo marcado para me mudar nesse dia 8, mas foi cancelado pela própria companhia e eu consegui remarcar. Nada está funcionando, absolutamente nada!”, frisou.

Segundo ela, as pessoas que precisam viajar de avião estão tentando ter acesso a uma estrada e chegar até Santa Catarina para pegar voos de lá. “Não é uma garantia, já que ninguém sabe se dá para trafegar por essa rodovia, porque têm muitos pontos de bloqueio devido às enchentes”, relatou Camila.

Em entrevista por telefone, Camila comparou o que a população vem enfrentando no RS à situação dos refugiados climáticos do Oriente Médio. Além disso, considerou que as informações locais são variáveis e desencontradas: “Os números crescem bastante. Há muito desencontro de informações sobre como a população deve se mobilizar para enfrentar a situação. A Defesa Civil do Rio Grande do Sul trabalha com mais de 90 pessoas mortas nesse momento, só que de ontem para hoje já deve estar muito mais. Quando a água baixar ainda vai aparecer muita coisa”.

Segundo Camila, a maioria da população de Porto Alegre se encontra desabastecida de água potável, assim como ela, que já está sem o insumo básico há dois dias. Ela ressaltou que, apesar de todos os problemas por que vem passando, ainda pode se considerar privilegiada: “Estou num bairro mais alto. A população dos outros locais está em uma situação bem mais precária”.

Tensão

É o caso do advogado paraibano Cosmo Júnior, que, desde fevereiro do ano passado, se mudou para Porto Alegre para cursar doutorado. Morador do bairro Floresta, próximo ao Centro, ele viu, desde sexta-feira passada, a água invadindo as principais ruas do centro da cidade. “Não imaginava que a água chegaria no bairro Floresta. Na sexta à noite, percebi que a água estava subindo em uma velocidade muito rápida. Do nada começou a chegar água na minha rua. Ninguém do prédio dormiu nesse dia. Precisei sair de casa e fiquei abrigado no apartamento de um amigo”, contou. No sábado (4) de manhã, todo o bairro estava alagado. “Por não ter luz, nem água potável, a gente se viu obrigado a deixar o prédio. Eu e os demais moradores pegamos o essencial e atravessamos a água a pé até uma avenida mais próxima”, relatou Cosmo.

Toda região sul de Porto Alegre fica próxima ao rio Guaíba, onde desaguam outros rios. E a situação poderia ser ainda pior caso não existisse o Muro da Mauá, uma estrutura de concreto armado para proteção contra enchentes, situada entre o cais e a Avenida Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre.

Cosmo contou que, além das perdas trazidas pelas chuvas, a população ainda enfrenta  furtos de pessoas a prédios que se encontram fechados. Algumas pessoas que moram no terceiro andar, mesmo estando sem água ou energia, permanecem nos locais porque estão com medo de terem os bens roubados. Já Camila lembrou que há poucos mercados com água engarrafada e que muitas pessoas fizeram estoque de comida há alguns dias, o que remete para o que aconteceu durante a pandemia do Covid-19.

Solidariedade

Apesar dos órgãos institucionais e de segurança dos estados serem os responsáveis diretos e autorizados por ações de resgates, tanto Camila quanto Cosmo percebem uma grande mobilização por parte da população local em ajudar. “As pessoas se preocupam muito umas com as outras. Eu mesma fui até a Cidade Baixa resgatar uma amiga”, disse Camila, que tem notado muito o auxílio de pessoas que podem doar barcos ou moto aquática nos salvamentos. “A solidariedade entre as pessoas aqui é muito forte. Eu vi várias pessoas chegando com barco, moto aquática, comida, para aqueles que estavam saindo já ir se alimentando. É bem latente na população gaúcha”, confirmou Cosmo.

UFPB e Abrace lançam campanha para ajudar desabrigados

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) iniciou, ontem, a campanha solidária “UFPB pelo Rio Grande do Sul”. Nesta primeira etapa, considerando a disponibilidade de transporte aéreo, a ideia é  arrecadar água mineral (garrafas ou packs) e produtos de higiene pessoal  até às 18h de amanhã.

Dessa forma, as pessoas podem doar produtos como pasta dental, escova de dente, pente, sabonete, absorvente, shampoo, fraldas geriátricas e infantis.  O reitor Valdiney Gouveia entrou em contato com a reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul manifestando o desejo de a UFPB ajudar a população gaúcha.  “Não mediremos esforços para ajudar nossos irmãos do Sul que passam por esse momento tão difícil, que já provocou a morte ou desaparecimento de mais duas centenas de pessoas, além de mais de 100 mil gaúchos estarem desabrigados ou desalojados”, disse Valdiney.

População pode fazer doações de água mineral e produtos de higiene pessoal nos campi da universidade

A UFPB apela que a população em geral, bem como cada estudante, servidor docente e técnico-administrativo da universidade possa deixar a sua doação nas guaritas localizadas nos acessos do Campus I, ou no hall da Reitoria, e nos demais campi: no Campus II, em Areia, na Diretoria do Centro de Ciências Agrárias (CCA) - Prédio Central; no Campus III, em Bananeiras, a entrega das doações deve ser feita no prédio da Coordenação de Gestão de Pessoas do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA); e no Campus IV, que é formado pelas unidades de Rio Tinto e de Mamanguape, nas respectivas Subprefeituras.

Abrace

Nessa primeira etapa, a UFPB pretende receber os donativos até as 18h de amanhã | Foto: Aline Lins/UFPB

A Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace) também está desenvolvendo uma campanha solidária, arrecadando donativos para as vítimas do Rio Grande do Sul,  em João Pessoa. As doações estão sendo coletadas na sede da Abrace, localizada na avenida Duarte da Silveira, 597, e no laboratório da associação, no Parque Solon de Lucena, 667, ao lado do prédio do INSS, de segunda à sexta-feira, das 8h30 às 17h.

A associação, referência no beneficiamento da cannabis medicinal, firmou parceria com a Azul Cargo  para viabilizar a entrega dos donativos nos municípios afetados pela cheia. Os principais itens para doação, segundo recomendações da própria Defesa Civil do Rio Grande do Sul, são: água mineral, alimentos não perecíveis e suprimentos referentes à moradia, tais como lençóis, travesseiros, colchões e demais utensílios domésticos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de maio de 2024.