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Rio Jaguaribe ainda sofre com práticas de degradação

publicado: 15/02/2024 11h52, última modificação: 15/02/2024 11h53
Nos últimos anos, o manancial passou por várias intervenções, como a mudança de trechos do leito

por Alinne Simões*

Considerado o rio mais importante de João Pessoa, por ser o mais extenso e por nascer e morrer dentro da cidade, o Rio Jaguaribe vem há muito tempo pedindo socorro. Justamente por estar totalmente dentro do perímetro urbano, ele sofre bastante com a degradação, como o descarte de poluentes, lixo e esgotos clandestinos em seu leito. E isso acaba provocando inúmeros problemas, que afetam não só quem vive às margens do rio, mas toda a população.

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População tem uma parcela de responsabilidade na preservação do rio que sofre com toneladas de lixo - Foto: Roberto Guedes

Ao longo dos últimos anos, o rio já passou por várias intervenções, desde a mudança em trechos do seu leito, a execução de limpezas e retiradas de entulhos. Tudo para evitar que, especialmente, em períodos chuvosos a população ribeirinha venha a ser afetada e corra risco de acidentes mais graves. Dentro das ações de prevenção realizadas pela defesa civil, é feito permanentemente o trabalho de desassoreamento e limpeza não só do Rio Jaguaribe, mas dos rios que cortam a cidade.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, Kelson Chaves, desde que assumiu a gestão do órgão, ele tem dado bastante atenção a essa causa e que os resultados estão aí para todos verem. “Nós estamos há mais de 1.100 dias em João Pessoa sem registro de vítima fatal por evento natural. Felizmente, a gente não tem tido casos mais pontuais referentes a inundações e consequência do transbordamento do rio, isso é fruto do trabalho que tem sido feito de forma rotineira”, frisa.

Lixo

Ele conta que, diariamente, toneladas de lixo são retiradas dos rios urbanos e acondicionados no local adequado, ou seja, a Usina de Beneficiamento da prefeitura. Kelson Chaves acrescentou que, somente no ano de 2023, foram retiradas cerca de 250 toneladas de resíduos, que vão desde pneu, bicicleta, quadro da moto, sofá, fogão, geladeira, máquina de lavar, entre outros.

Para evitar que a população jogue todos esses resíduos, ele destaca que a Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana (Emlur) também disponibiliza, no entorno do Jaguaribe, containers para que a população possa acondicionar corretamente os resíduos. Porém, na grande maioria das vezes, isso não acaba acontecendo e o lixo é jogado de forma irregular dentro dos rios. Além disso, ele declarou que outro problema são as ligações clandestinas de esgotos.

“O que acontece é que nem sempre as pessoas atendem esse chamamento do poder público na concepção de conservar o patrimônio maior, que é a natureza. Por exemplo, quando o sistema de drenagem é concebido, é formatado na intenção de coletar exclusivamente as águas pluviais, mas o consumidor faz a ligação, por vezes, do esgoto sanitário na rede pluvial e essa matéria vai cair no rio”.

População vê melhoria na limpeza realizada no manancial 

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População ribeirinha será relocada para um local mais seguro - Foto: Roberto Guedes

O líder comunitário do bairro São José, Geraldo Joaquim, reconhece que a atual gestão municipal tem feito um bom trabalho, realizando o desassoreamento e limpeza do rio regularmente, o que já se reflete na melhoria de vida dos moradores da comunidade. Há anos, eles não sofrem mais transtornos no período chuvoso. Geraldo conta que na última grande cheia, em 2019, a água chegou a subir mais de um metro, alagando e derrubando a moradia de várias pessoas.

“Antigamente, aqui não tinha essa rua, tudo ficou diferente porque hoje está sendo feita essa limpeza do rio, a diferença de 2019 para cá é enorme”, reforça Geraldo, mostrando a rua em frente a sua casa, onde antes, segundo ele, era um desdobramento do rio, que vivia cheio de lixo e transbordando. De acordo com ele, apesar de todos os avanços, ainda há a necessidade de se fazer um trabalho mais efetivo, no sentido de conscientizar e chamar a atenção da população para a importância de manter o rio limpo.

Na comunidade São Rafael, uma iniciativa da Associação de Moradores evita que o lixo chegue ao rio através das galerias. O método é bem simples, mas faz toda diferença. “Colocamos grades nas galerias e regularmente fazemos a limpeza. Isso evita que esse resíduo chegue ao rio”, conta Edvaldo da Silva, líder comunitário. “A limpeza é feita mensalmente pelos próprios moradores e, com isso, a nossa comunidade é uma das mais limpas. Estamos sempre trabalhando para tentar conscientizar o povo a jogar o lixo corretamente e não poluir, porque assim todos vivem melhor”, destaca Edvaldo.

Saiba Mais

A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec-JP) segue com o cronograma de limpeza e desassoreamento dos rios da capital, incluindo trechos do Rio Jaguaribe. Na semana passada, por exemplo, as máquinas estavam no trecho da BR-230, após a comunidade Padre Hildon, no bairro São José, e em Cruz das Armas, no trecho dentro do 15° BIMtz. Segundo o chefe da Divisão de Prevenção de Emergências e Desastres, Philipe Aires, a Defesa Civil vem se preparando para o inverno executando ações preventivas em pontos fundamentais, inclusive em locais de difícil acesso.

Prefeitura desenvolve ações de revitalização das margens do rio

A prefeitura da capital, por meio do Programa João Pessoa Sustentável, está desenvolvendo uma série de ações de revitalização das margens do Rio Jaguaribe. Segundo Antonio Eliseu, coordenador-geral do programa, uma das principais preocupações do projeto é a despoluição. No entanto, para que isso aconteça é preciso dar assistência às famílias que vivem às margens dele.

Os moradores das áreas de risco estão sendo retirados desses locais e receberão um imóvel da prefeitura, em local seguro. Depois, será feita a revitalização do rio, onde será realizada a construção do Parque Linear do Complexo Beira Rio, que terá uma área verde de 2,5 km de extensão. A previsão de entrega é em 2025. “Antes de tocar no rio, temos que pensar no lado humano dessas famílias que estão ali. Então, a prefeitura está construindo três conjuntos habitacionais, onde vai ter creche, centro cultural, ou seja, toda infraestrutura. Vamos tirá-las dessas condições de risco e quando for feito esse trabalho será construído o parque. O rio será revitalizado e vai voltar a viver, porque o rio poluído é um rio morto”, disse.

Eliseu revela que, segundo os estudos feitos no manancial, não foram encontradas a presença de metais pesados na água. “Se tivesse alumínio, por exemplo, seria um grande problema. Mas não foi encontrado esse resíduo, a poluição é orgânica, é mais a questão do esgoto”. Ele enfatiza ainda que o Jaguaribe vai ser constantemente monitorado para que não tenha mais poluição.

“Além de ser pensado no rio, o parque vai evitar novas invasões. Já estamos fazendo o monitoramento da área, porque são inúmeras as contribuições de um rio limpo.”

Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de fevereiro de 2024