Capacitar os médicos que trabalham nos primeiros níveis de atenção à saúde em João Pessoa, para que prestem um atendimento de qualidade acerca de doenças respiratórias causadas ou agravadas pelo tabagismo. Esse foi o objetivo do Seminário de Atualização em Pneumologia, realizado, na tarde de ontem, na sede da Associação Médica Brasileira na Paraíba (AMB-PB), localizada em João Pessoa.
"Tabagismo é fator de risco para doenças respiratórias crônicas, doenças cardiovasculares e diabetes"
- Gerlane Carvalho
Cerca de 80 médicos atuantes nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) participaram do evento. A promoção foi da Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio do Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (NDants), em parceria com a AMB-PB, o Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) e a Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (SMS).
O seminário fez uma alusão ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado ontem, e é a segunda formação realizada pela AMP-PB, neste ano. Segundo o presidente do Comitê de Combate ao Tabagismo da associação, o médico Sebastião Costa, a capacitação surgiu depois de uma necessidade diagnosticada durante o seu trabalho de especialista em sistema respiratório: a superlotação das unidades de referência e a demora para que o paciente tivesse atendimento.
Segundo conta, ele trabalhava na Policlínica Municipal de Jaguaribe, como alergologista e pneumologista. Nessa unidade, todos os níveis de asma e de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), duas doenças muito prevalentes dentro da pneumologia, estavam sendo encaminhados para lá. “O problema é que os colegas da rede básica não foram devidamente reciclados para resolver essas patologias, daí a razão de todas serem encaminhadas para a gente”, relata.
"Queremos uma educação continuada, para que a rede básica faça o diagnóstico correto e inicie o tratamento"
- Sebastião Costa
Depois dessa formação, espera-se que os médicos participantes saibam resolver, pelo menos, 80% das demandas relacionadas às doenças respiratórias. “O que a gente quer é uma educação continuada, para que os colegas da rede básica saibam fazer um diagnóstico correto da patologia e iniciem o tratamento do paciente na UBS, até para evitar que ele gaste dinheiro com passagem, já que o pessoal da periferia não tem muitas condições de se deslocar”, completa Sebastião. Os palestrantes convidados para o evento abordaram as formas de diagnóstico e os tratamentos de asma e de DPOC, bem como os perigos do cigarro eletrônico e as formas de lidar com a dependência de nicotina.
A chefe do NDants, Gerlane Carvalho, reforça a importância do incentivo ao atendimento qualificado a pacientes com doenças respiratórias, aliado a iniciativas de conscientização contra o hábito de fumar. “No estado, a gente acompanha os programas de combate ao tabagismo, que, além de ser uma doença, também é um fator de risco para as demais, como as doenças respiratórias crônicas, as cardiovasculares e a diabetes. Assim, o objetivo da SES é dar oportunidade para que esses médicos aperfeiçoem a assistência em saúde. Se melhora no município, melhora na Paraíba, como um todo”, diz.
"O número de usuários diminuiu bastante, nos últimos anos, mas ainda há muitas pessoas fumantes"
- Júlia Falcão
Para a médica de família e comunidade Júlia Falcão, que também é preceptora da residência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o evento de ontem trouxe uma oportunidade única de aperfeiçoamento. Especialmente porque ela se depara, cotidianamente — em seu trabalho, na Unidade de Saúde da Família Integrando Vidas, no Bairro João Paulo II —, com pessoas sofrendo de doenças respiratórias. “Apesar de o número de usuários ter diminuído bastante, nos últimos anos, ainda há muitas pessoas em contato com o tabagismo e com o vape [cigarro eletrônico]. Também já tive vários pacientes com DPOC por causa da fumaça do fogão a lenha. Então, atender pacientes com falta de ar faz parte do nosso dia a dia”, diz a médica.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de agosto de 2024.