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Sertão terá hospital de traumatologia

publicado: 05/05/2023 15h08, última modificação: 05/05/2023 15h08
Governador João Azevêdo anunciou a construção da unidade durante a abertura da Campanha “Maio Amarelo”
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Auditório do TCE ficou lotado na abertura da Campanha “Maio Amarelo”; o governador João Azevêdo recebeu camiseta da ação e esteve no evento junto com o vice-governador Lucas Ribeiro - Fotos: Evandro Pereira
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Carol Vieira, que ficou paralítica após sofrer um acidente, cantou a canção “Como Nossos Pais”
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por Sara Gomes*

O governador João Azevêdo anunciou a construção do Hospital de Clínica e Traumatologia do Sertão, em Patos, Sertão paraibano. A informação foi divulgada, ontem pela manhã, no Auditório Ariano Suassuna do Tribunal de Contas do Estado (TCE), em João Pessoa, durante a solenidade de abertura da campanha “Maio Amarelo”,  que tem por objetivo a prevenção aos acidentes de trânsito.

Na ocasião, o governador João Azevêdo informou que as obras serão iniciadas em breve. O orçamento é de R$ 150 milhões, fora o custo de manutenção do hospital que deverá ficar entre R$ 10 milhões a R$ 13 milhões por mês.

“Se alguém for acidentado na região do Sertão tem que se deslocar para Campina Grande ou João Pessoa. Instalar um atendimento de traumatologia de alta complexidade no Sertão é fundamental, pois aumenta as chances da vítima sobreviver”, declarou João Azevêdo. Ele menciona ainda, que o Governo da Paraíba está fazendo investimentos na área da educação. “A orientação dentro das escolas é fundamental para que os nossos alunos adquiram a consciência cidadã desde cedo”, completou.

Atendimentos

Os Hospitais de Trauma de João Pessoa e Campina Grande realizaram quase 100 mil atendimentos em virtude de acidentes, entre os últimos quatro anos e o primeiro trimestre de 2023. Destes atendimentos, mais de 80% são motociclistas.

A ocupação de leitos ocasiona um custo elevado à saúde pública como também o impacto na economia, já que as vítimas de acidentes ficam impossibilitados de trabalhar por um período, outros ficaram sequelados.

A solenidade, promovida pelo Governo do Estado e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PB) contou com a presença de autoridades e representantes dos órgãos de trânsito. A campanha tem a finalidade de chamar a atenção da população para o alto índice de mortes e feridos nas vias e rodovias. Além de envolver a sociedade em ações de conscientização sobre a segurança no trânsito.


A violência no trânsito tem inúmeros fatores, mas o governador enfatiza, que a falta de educação no trânsito é o principal. “Nós precisamos conscientizar a população sobre a importância da educação no trânsito e, enquanto sociedade, fazer um esforço coletivo para diminuir as estatísticas”, declarou.

O tema “No trânsito, escolha a vida” evidencia a importância de reduzir o número de acidentes no trânsito por meio da priorização da vida. Em sua fala, o superintendente do Detran-PB, Isaías Gualberto, afirmou que a conscientização no trânsito é resultado de uma escolha. “Ano passado, quase 70% das mortes no trânsito foram de motocicleta. A escolha de não utilizar o capacete ou dirigir sob efeito do álcool pode resultar em morte. A mensagem do ‘Maio Amarelo’ deste ano é pensar sobre nossas escolhas”, declarou.

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da Paraíba, Pedro Ivo, destacou a necessidade do engajamento da sociedade para reduzir os acidentes. “O ‘Maio Amarelo’ é um evento muito importante para discutirmos a temática do trânsito, que precisa ser debatida diariamente nas escolas, nas casas, empresas e entidades públicas porque temos que ver o trânsito como uma relação social porque se trata de um movimento de pessoas”, falou.

O Governo da Paraíba está investindo em mobilidade urbana em parceria com a Prefeitura de João Pessoa. Em sua fala, o vice-prefeito, Léo Bezerra, agradeceu a parceria firmada junto a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana ( Semob-JP), citando algumas obras. “A ligação das Três Ruas (nos Bancários) à Cidade Universitária (Campus I da Universidade Federal da Paraíba - UFPB), como também a ligação do Altiplano à  Cidade Universitária. O novo viaduto na frente da Prefeitura de João Pessoa vem beneficiar  o trânsito de João Pessoa”, destacou.

Na ocasião, o governador João Azevêdo recebeu a camisa da campanha de Michelle Ferreira, agente da Operação da Lei Seca, marcando simbolicamente o início do Maio Amarelo no Estado. Em seguida, o evento contou com uma apresentação musical da cadeirante Carol Vieira, que cantou “Como Nossos Pais” - canção eternizada por Elis Regina.

História de superação após ser vítima de um acidente de trânsito

Carol Vieira, que ficou paralítica após sofrer um acidente, cantou a canção “Como Nossos Pais”

No dia do acidente, Carol Vieira, 39 anos, estava na Avenida Pedro II, a caminho de uma consulta médica, quando um carro bateu na traseira da moto em que estava. Embora estivesse de capacete, a colisão foi suficiente para arremessá-la contra o veículo. “Eu sofri traumatismo craniano, fiquei em coma por oito dias, sofrendo várias sequelas que me deixaram paralítica. Eu tinha 23 anos na época”, relembrou.

Após quatro meses do acidente, Carol Vieira foi encaminhada para o Hospital Sarah Kubitschek - referência em reabilitação. “Se eu tivesse recebido tratamento nos primeiros meses, teria tido uma evolução melhor”, afirmou.

Carol Vieira enfatiza que o custo da reabilitação é muito alto, por isso, o poder público investe na prevenção de acidentes através da conscientização no trânsito. “O investimento na reabilitação é fundamental, mas sabemos que o custo é muito alto. A demanda de sequelados  cresce rapidamente. A rede de saúde precisaria ser muito completa para alcançar resultados. Por isso, o poder público investe na prevenção de acidentes”, afirmou. Atualmente, ela é presidente da Associação Atlética das Pessoas com Deficiência, tornando-se ativista social das lutas de pessoas com deficiência.

Presença estudantil

Os alunos da ECIT EEPAC, em Jaguaribe, estiveram presentes na abertura do Maio Amarelo. A aluna Thayná Lins, 16 anos, considera muito importante a conscientização da população sobre o trânsito, pois sua mãe sofreu um acidente quando a estudante era criança. Ela só sobreviveu porque utilizava capacete.

“Eu tinha 10 anos. Ela me deixou na casa da minha tia, mas esqueceu o capacete em casa. Ela estava atrasada, mas só foi buscar o capacete porque eu insisti. Ela acabou sofrendo um acidente no mesmo dia. Ficou um mês enfaixada, mas não teve sequelas graves. Desde então não andou mais de moto”, contou.

A aluna reforçou a fala do governador João Azevêdo, que a imprudência no trânsito acontece porque as pessoas acham que nunca vão sofrer um acidente. “Precisa acontecer um acidente consigo ou alguém próximo pra mudar de atitude?”, refletiu.

Apesar de não ser habilitado, o aluno Yam Farias, 18 anos, de vez em quando pilota a moto do seu avô no bairro em que mora. Após assistir a palestra, o jovem entendeu a importância de dirigir com responsabilidade. “Meus pais sempre dizem que trânsito não é brinquedo e só deixa eu dirigir aos poucos. Vou comentar o que aprendi nessa palestra em casa”, concluiu.

Hospital Regional de Patos atendeu quase 900 pacientes

Entre o dia 1º de janeiro e 30 de abril, o Complexo Hospitalar Regional Deputado Janduhy Carneiro (CHRDJC), de Patos, atendeu 895 vítimas de sinistros de trânsito. A maioria dos pacientes atendidos foi de acidentados com motocicletas, num total de 793. Ao divulgar esses dados, a direção da unidade hospitalar destaca a importância da campanha Maio Amarelo – aberta oficialmente na Paraíba ontem, que foca na conscientização de um trânsito mais seguro, com menos acidentes e vítimas.

“É preciso que as pessoas se conscientizem mais na importância da prevenção no trânsito para que esses dados sejam reduzidos e o impacto no serviço público de saúde não seja tão grande”, alerta o diretor-geral do Complexo, Francisco Guedes.

Em janeiro, o Hospital de Patos atendeu 238 pacientes vítimas de sinistros de trânsito, sendo a grande maioria deles de acidentados com motos, num total de 216 pessoas, seguidas de 10 vítimas de atropelamento, oito que se envolveram em acidentes com carro e ainda quatro pessoas feridas vítimas por causa de acidentes com bicicleta. Em fevereiro, outras 210 pessoas deram entrada na unidade vítimas de acidentes, sendo 180 com motos, 14 por carros, 11 por atropelamento e mais cinco com bicicleta.

Em março, foram mais 229 casos, sendo 199 motociclistas atendidos, 18 pessoas que estavam em veículos, oito por causa de atropelamentos e quatro com bicicletas. Em abril, foram outros 218 pacientes, sendo 198 pessoas deram entrada na Urgência e Emergência do hospital por causa de acidentes com motos, 11 por sinistros envolvendo veículos, cinco ciclistas e quatro vítimas de atropelamento.

Das 895 vítimas atendidas nestes quatro meses, 179 delas precisaram ficar internadas após os atendimentos emergenciais para cuidados posteriores, alguns com a necessidade de realização de procedimentos cirúrgicos.

O diretor clínico do hospital, Pedro Augusto, destaca o impacto que isso tem na rotina do hospital.

“Boa parte destas vítimas, principalmente os que se envolvem com acidentes com motos, precisam de cuidados posteriores, além da assistência imediata, o que implica numa internação, em alguns casos com necessidade de cirurgias, sendo as ortopédicas as mais frequentes por causa da vulnerabilidade que um acidente com moto propicia e isso tem um impacto significativo na rotina de uma unidade como a nossa, com a ocupação de leitos, necessidade de intervenções cirúrgicas, além da principal preocupação que são as sequelas físicas que ficam por causa dos traumas sofridos com o acidente”, lamenta o médico.

Dados sobre acidentes no trânsito - Um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Status Report on Road Safety, revelou que o Brasil é o terceiro país com mais mortes no trânsito em todo o mundo, tendo a Índia e China ocupando as primeiras posições, respectivamente. As mortes no trânsito em decorrência de acidentes veiculares configuram a oitava principal causa de óbito no Brasil. São, aproximadamente, 1,3 milhão de vítimas por ano.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2021, o Brasil registrou 31.468 mortes no trânsito, sendo os motociclistas os que mais perderam a vida, com 12.011 óbitos, seguidos pelos ocupantes de automóveis, com 6.987 vítimas fatais, e pedestres, com 5.120 mortes.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 5 de maio de 2023.