Há duas semanas, a faixa exclusiva para ônibus foi liberada. Mas, ontem, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa (Sintur-JP) mostrou-se contrária a essa decisão da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP).
A liberação ocorreu por causa da greve dos motoristas de ônibus e, posteriormente, por conta das fortes chuvas que assolaram a capital. O sindicato argumenta que a medida contraria políticas de mobilidade sustentável, já que a priorização de ônibus é essencial para descongestionar vias, reduzir o número de veículos particulares, diminuir a emissão de poluentes e garantir previsibilidade aos passageiros.
Eficiência
Em nota, o Sintur-JP destacou que a flexibilização das faixas exclusivas compromete a eficiência do transporte coletivo, utilizado, diariamente, por milhares de pessoas. O diretor Institucional da entidade, Isaac Jr. Moreira, detectou que, enquanto cidades avançadas ampliam faixas exclusivas, João Pessoa retrocede, colocando em risco a qualidade do serviço e desestimulando a população a optar pelo transporte coletivo. “Essa decisão desconsidera o papel estratégico das faixas preferenciais na agilização do serviço, reduzindo o tempo de deslocamento e incentivando o uso do transporte público como alternativa ao caos viário”, afirmou.
Além das questões operacionais, o Sintur-JP alerta para o risco de aumento no tempo das viagens para os passageiros do transporte coletivo, o que poderá gerar insatisfação e reclamações. Isaac Moreira explicou que, na Avenida Dom Pedro II, que possui 2,6 km de faixa preferencial no sentido Centro-bairro, por exemplo, as sete linhas que circulam no local levam, em média, oito minutos nesse trecho, a uma velocidade média de 19,5 km/h, perfazendo um total de 297 viagens por dia. “Nesse período de liberação das faixas, o tempo de viagem no trecho aumentou para quase 10 minutos e a velocidade média dos ônibus caiu para 15,6 km/h”.
Outro lado
Contudo, essa situação tem o outro lado da moeda. Nos horários de pico, é difícil encontrar uma via de João Pessoa sem registrar trânsito lento. Muitas vezes, o motorista que está preso no engarrafamento olha para a via preferencial e enxerga uma alternativa para sair do trânsito. Para o condutor Clayton Oliveira, que faz o trajeto Gramame-Expedicionário, para chegar ao trabalho, a faixa de ônibus não deveria ser exclusiva, e sim inclusiva, mas preferencial para os ônibus. “Caso não tenha ônibus, o motorista poderia entrar na faixa e seguir no trânsito, mas, ao ver um ônibus, ele daria prioridade. Para isso funcionar de verdade, é preciso que os motoristas tenham consciência”, destacou.
Já o publicitário Paulo André Borges acredita que a prioridade deve ser o “bem da coletividade”. “Manter as faixas exclusivas para ônibus é crucial para reduzir o tempo de quem depende desse meio de transporte, além de garantir uma mobilidade urbana mais eficiente. Investir no transporte coletivo é investir no bem comum, promovendo uma cidade mais sustentável para todos. Precisamos pensar em soluções eficientes, um problema não pode gerar outros. Mesmo que a medida adotada pareça ser interessante, precisamos entender que a cidade está passando por um processo de mudança, amadurecimento e crescimento”.
Semob-JP
A Semob-JP ressaltou que, por enquanto, todos podem circular nas faixas exclusivas de ônibus, mas motoristas e motociclistas, ao observarem o ônibus, devem abrir espaço, pois o transporte público é prioridade. Além disso, também está sendo feito o monitoramento para verificar como ficará a situação nos próximos dias. Caso haja novas mudanças, a superintendência comunicará.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de janeiro de 2025.