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No sábado, o 2º Festival da Cultura Cigana, promovido pelo Governo do Estado, também celebra a data

Sousa festeja, hoje, Dia do Cigano

publicado: 24/05/2022 09h21, última modificação: 24/05/2022 09h21
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Foto: Márcio Moraes/Divulgação

José Carlos dos Anjos Wallach*

Os costumes ciganos ainda estão em todos os Estados do Brasil, em grandes e pequenos aglomerados dessa etnia, que chegou ao país vinda de algumas regiões européias. Os rhom, como são chamados os ciganos em todo o mundo, influenciaram e se deixaram influenciar nas nações onde se instalaram.

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 havia cerca de 800 mil ciganos no Brasil. A maioria já não vive como nômades e está fixa, como é o caso das comunidades que se instalaram na Paraíba: estão presentes em 27 cidades paraibanas, mas a maior comunidade está em Sousa, no Sertão.

O Dia Nacional do Cigano transcorre hoje, 24 de maio, por ser dedicado à Santa Sara Kali, padroeira universal desse povo. Em Sousa, a data será lembrada com a Festa Cigana, organizada pelos Três Ranchos, com música, apresentações artísticas, leitura de mãos e jogo de cartas ciganas, além de bebida e a culinária típica.

O Governo do Estado também marcará a data com a realização, no próximo sábado (28), do 2º Festival da Cultura Cigana, que reunirá artesanato, danças, música, gastronomia, leitura de mãos e outras atividades dos costumes ciganos.

O Festival é realizado pela Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com a Secretaria de Estado da Mulher e Diversidade Humana, a Prefeitura Municipal de Sousa e o Ministério Público Federal. Esse evento começará às 18h, na praça Praça Bento Freire, também chamada Praça da Matriz. O coreto será transformado em palco com luz e som, barracas e pavilhões abrigarão as atividades.

“É preciso entender a importância da preservação de uma cultura, porque depende disso a auto afirmação dos povos, a sua identificação e história. Um evento como esse tem um significado que vai muito além do que entendemos apenas como festa. Com os festivais, o Governo do Estado está reafirmando sua política de diversidade étnica. O que faremos em maio com a cultura cigana, estaremos fazendo nos próximos meses com as comunidades indígenas e os nossos majestosos quilombolas”, anunciou o secretário da Cultura, Damião Ramos Cavalcanti.

Uma das organizadoras do evento e conhecedora da realidade cigana na Paraíba, Mariah Marques, gerente de Articulação Cultural da SecultPB, disse que as comunidades caló no Estado já tiveram seu primeiro Festival realizado em 2019, quando ficou marcado para o ano seguinte a segunda edição. O surgimento da pandemia de coronavírus impediu essa sequência.

“O compromisso do Governo do Estado é trabalhar com as etnias, entre elas os povos ciganos, que estão presentes em vários municípios”, acrescentou.

Incorporação de hábitos e costumes das regiões onde vivem

Os ciganos foram incorporando hábitos e costumes das regiões onde estavam. No entanto, é possível identificar traços comuns que compõem uma cultura específica.

Eles exerceram ofícios que podiam ser desempenhados em todos os lugares. Por isso, os homens eram ferreiros, comerciantes, cuidadores de cavalo e gado.

Os clãs ciganos mantiveram as mulheres mais restritas à esfera doméstica, mas elas também eram costureiras, rendeiras e artistas. E se dedicavam à leitura das mãos e de baralho para predizer o futuro, uma das características que sempre identificou os povos ciganos e fez crescer uma uma imagem mística em torno deles. Os valores como a fidelidade à família e ao clã, e os casamentos entre si, são outras características marcantes.

Língua e religião

Eles não escrevem, mas desenvolveram o idioma romani, também chamado romanês, que é uma língua ágrafa (não escrita) e ensinada de forma oral, pelas famílias. Há etnias que o falam com desenvoltura, mas outros, apenas conhecem algumas palavras.

Tradicionalmente, não é permitido a não-ciganos aprenderem esta linguagem. Mas, com a globalização e a internet, essa barreira começa a se romper. Entre os ciganos não há uma religião no mesmo sentido do que é conhecido por outros povos, mas eles preservam um conjunto de crenças e princípios. Para os ciganos, não existe a figura de um deus, ou de deuses, em concreto, nem hierarquia religiosa.

A característica nômade também pode ser uma das responsáveis por esse desapego a uma crença única e exclusiva do povo cigano, já que adotavam a religião do território por onde circulavam. Assim, há ciganos católicos, ortodoxos, evangélicos, espíritas e muçulmanos.

Entre os católicos ciganos é grande a devoção em torno a Santa Sara de Kali, que teria sido amparada por ciganos, no sul da França.

Na religião umbanda existem as “entidades ciganas” que seriam os espíritos de ciganos já falecidos.

Dança

Sensual e muito expressiva, a dança cigana é uma mescla de vários elementos, mas foi na Espanha que ela ganhou força. Os ciganos dançam nos seus acampamentos durante as festas, acompanhados de instrumentos musicais, canto e palmas. Tanto as mulheres quanto os homens dançam no meio da roda.

Uma dança forte, com movimentos por todo o corpo. As mulheres dançam descalças, com longas saias, e enfeitadas com jóias. O flamenco é a expressão artístico-cultural que tem maior visibilidade em nível mundial.

Preconceito

O estilo de vida, com desapego a um local fixo para viver, fez com que os ciganos se tornassem alvo de preconceito na Europa, uma dificuldade que os acompanhou quando migraram para as Américas.

Eram nômades numa sociedade sedentária; não possuíam leis escritas, numa época em que todos as tinham. Igualmente, apesar de aceitarem o cristianismo, praticavam certos ritos condenados pela Igreja, como a adivinhação do futuro (a famosa leitura das mãos).

Assim, surgiram todo o tipo de histórias sobre estes povos, classificando-os de trapaceiros e ladrões, como se estas atitudes fossem exclusivas dos ciganos. O fato é que há na conta dos ciganos estereótipos alimentados por esse modelo de vida que adotaram, assim como hoje perduram no Brasil os preconceitos contra nordestinos e negros, ou qualquer outro grupo que não se encaixe em determinado padrão.

Os ciganos foram perseguidos durante a formação das Monarquias Nacionais na Europa, pois todo aquele que não era católico, foi expulso. Essa medida atingiu igualmente judeus e muçulmanos.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os ciganos foram perseguidos e confinados em campos de concentração nazistas. Calcula-se que 250 mil ciganos tenham sido mortos neste período, especialmente na Croácia, onde a população quase foi exterminada.

Condições sociais

Na média, os ciganos são desproporcionalmente pobres. Precário padrão de condições de vida, inadequado acesso aos cuidados de saúde, baixa renda, alto desemprego e discriminação no acesso à educação são a realidade diária para muitos ciganos e viajantes.

 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de maio de 2022