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CORPO ESTRANHO

Terceira ocorrência no Trauma-JP

publicado: 07/08/2024 09h07, última modificação: 07/08/2024 09h07
Maioria dos casos aconteceu com adultos entre 19 e 59 anos, mas crianças e idosos também são vítimas de incidentes
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Caroço de feijão, botões e moedas são alguns exemplos de objetos que ficam presos ao corpo, segundo Laecio Bragante | Fotos: Leonardo Ariel

por Samantha Pimentel*

Os corpos estranhos são quaisquer alimentos ou objetos não comestíveis que fiquem presos ao corpo e possam causar danos à saúde. No Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, os atendimentos para a retirada desses corpos representaram a terceira maior ocorrência da unidade, no primeiro semestre de 2024, somando 4.495 casos. A maioria deles ocorreu em adultos de 19 a 59 anos de idade, mas a ocorrência em crianças e idosos também é expressiva.

Segundo o diretor-geral do Trauma-JP, Laecio Bragante, os casos de corpos estranhos podem envolver uma diversidade de objetos, como: caroço de feijão, osso de galinha, peças pequenas de brinquedos, botões, agulhas, pedras e moedas, entre outros. “Essa ocorrência também pode acontecer no ambiente profissional, quando partículas se deslocam em altíssima velocidade e a nossa pálpebra não é rápida o suficiente para proteger o nosso olho”, disse.

"Os profissionais autônomos são os que mais se descuidam dos EPIs. Sem essa proteção, fragmentos de pedras e de metais podem atingir os olhos"
- Laecio Bragante

Quando relacionados ao ambiente profissional, grande parte desses episódios acontece em decorrência da falta de uso ou do uso inadequado dos equipamentos de proteção individual (EPIs).  “Os profissionais autônomos são os que mais se descuidam dos EPIs. Sem essa proteção, fragmentos de pedras e partes de corpos metálicos, como esmeril e agulhas, atingem os olhos dessas pessoas”, explicou Laecio. Esse tipo de ocorrência representa parte considerável dos atendimentos relativos a corpos estranhos em pessoas de 19 a 59 anos. No ano passado, esse perfil também registrou o maior número de casos (3.261) — mais de 65% do total.

Em crianças, a maior incidência de casos se refere à ingestão de objetos pequenos. “Acontece muito de as crianças colocarem um caroço de feijão ou de milho ou uma pecinha de brinquedo solta em orifícios naturais, como o ouvido e o nariz. O grande perigo é quando esse corpo estranho se desloca para a via aérea, provocando obstrução parcial ou total. Em situações assim, o caso é grave”, alertou o diretor do Trauma-JP.

Obstrução

Nos casos em que há a obstrução total, com interrupção do fluxo de ar, o socorro deve acontecer o mais rápido possível. Segundo o médico, em situações de engasgo, por exemplo, em que o paciente demonstra estar sufocado, é importante fazer a Manobra de Heimlich, para auxiliá-lo a expelir o corpo estranho.

Essa manobra, de acordo com o médico, é muito simples e pode ser facilmente encontrada na internet. No caso de uma criança acima de dois anos, deve-se posicioná-la com as costas viradas para a pessoa que vai fazer a manobra, sendo que a criança fica de pé e o socorrista, ajoelhado. Então, abraça-se a criança até que uma das mãos esteja fechada na altura do estômago dela, enquanto a outra estará aberta, apoiada sobre essa mão fechada. Pressiona-se, com força moderada, a barriga da criança, para dentro e para cima, ao mesmo tempo. “Isso forma um fluxo de ar forte, que ajuda a expelir o corpo estranho”, salientou.

Em adultos, é possível circundar a cintura da pessoa com os braços, cerrar um dos punhos e colocá-lo um pouco acima do umbigo. Depois disso, segurar o punho com a outra mão e aplicar uma compressão firme, para dentro e para cima, puxando com ambos os membros superiores — e repetindo a manobra conforme for necessário.

Infecção

No entanto, conforme Laecio, em todos os casos relacionados a corpos estranhos, é essencial procurar atendimento médico imediatamente. “Em qualquer circunstância, o recomendado é trazer para o Hospital de Trauma. Mesmo aqueles que aparentem pouca gravidade, como um carocinho de feijão no ouvido. Como se trata de um corpo estranho, haverá infecção local — e, não raro, infecção grave”, alertou.

Ele explicou ainda que, em alguns casos, o corpo estranho pode se deslocar para o trato digestório, causando lesões no esôfago e infeccionando seriamente. Outro caso grave é quanto à entrada de líquidos quentes nos olhos, cujo risco é a perda da visão. “O Hospital de Trauma tem serviço especializado em otorrinolaringologia, para retirar esse corpo estranho do nariz, do ouvido e da garganta, e também uma equipe de oftalmologia para atender a casos graves de lesão nos olhos”, disse.

Perigo

Laecio também alertou para o risco de se usar um recipiente com o rótulo de uma determinada substância para armazenar outra, o que pode levar à ingestão acidental de líquidos nocivos. “Guardar substâncias em um vidrinho que era de perfume, por exemplo. Você coloca um veneno, mas o rótulo é de um perfume. Se estiver ao alcance de criança, que, em determinada fase da vida, tem a tendência de colocar os objetos na boca, pode acontecer uma deglutição acidental. Pode ser muito grave”, destacou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de agosto de 2024.