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Trabalho extra é opção para ajudar no orçamento doméstico

publicado: 28/10/2017 18h05, última modificação: 28/10/2017 18h57
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Tamara Sorrentino trabalha na PBTur, mas decidiu investir em organização de festas temáticas e tem conseguido um dinheiro extra - Foto: Marcos Russo

tags: renda extra , trabalho alternativo , artesanato , orçamento doméstico


Lucas Campos

Especial para A União

Com a chegada do fim de ano, muitas pessoas ficam preocupadas com as contas deste período, afinal, é uma época de celebração e presentes, de forma que muita gente tende a gastar mais. Além disso, os mais precavidos começam a pensar nas contas que estão por vir no ano seguinte, como o IPVA e o IPTU. Por conta disso, algumas pessoas começam a fazer trabalhos extras em diversos setores, buscando complementar a renda para evitar entrar no vermelho.

De acordo com a Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), a previsão para o ano de 2017 é de 115 mil vagas de empregos temporários, o equivalente à 5,5% a mais do que o ano passado, cuja previsão alcançava exatas 101 mil contratações temporárias. Só no comércio, por exemplo, esperam-se 6.500 vagas temporárias no estado da Paraíba. De acordo com o presidente da Fecomércio, Marcone Medeiros, as oportunidades surgem entre os meses de outubro e dezembro, especialmente nas áreas de vestuário, calçados, eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

"Isso acontece devido ao aumento no fluxo de clientes e, com a perspectiva de crescimento nas vendas, cresce também o número de contratações. Os empregos temporários são relevantes por atender a demanda crescente típica da época", explica sobre a importância desses empregos temporários para o setor do comércio. Além disso, acrescenta que esses novos empregados passam a ser também consumidores, influenciando de maneira muito positiva a economia dentro do comércio.

O economista Martinho Campos pontua que é nos setores do comércio, varejo e serviços em que há uma ebulição de contratações temporárias em determinadas épocas do ano. "Aqueles que não querem contratar uma pessoa de maneira definitiva, registram para um período dentro do que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) permite; a reforma trabalhista também manterá a garantia do emprego temporário", esclarece. O economista afirma ainda que o emprego temporário é positivo para aqueles que não possuem um trabalho fixo, permitindo um ganho de renda por um tempo enquanto se procura por uma nova oportunidade.

"Se a pessoa vai trabalhar e se desdobra, ela também pode chamar a atenção dos patrões e pode acabar sendo contratada", acrescenta. Entretanto, ele faz uma ressalva: os empregos temporários ainda se apresentam como uma situação muito precária; e ainda realiza uma contextualização global, diferente de países de primeiro mundo, que possuem trabalhos temporários disponíveis diariamente; no Brasil há um mercado muito competitivo, independente da busca ser por empregos temporários ou não.

No setor de serviços, o turismo também se destaca como um bom gerador de empregos temporários, especialmente na época da alta estação, período que vai desde dezembro até fevereiro, mas também nos meses de junho e julho. Para ter uma dimensão, o aumento médio anual de novas contratações é de 30% nos últimos dois meses.

“Nesse período, bares, hotéis, restaurantes, embarcações turísticas, todo esse pessoal costuma contratar mais gente”, esclarece Ruth Avelino, presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur). Ela pontua ainda que esses trabalhos são importantes para quem deseja angariar renda extra e para quem tem pouca experiência no mercado de trabalho. Além disso, anuncia que é um caminho para se firmar em uma empresa de forma definitiva, mas que isso exige não apenas qualificação específica, mas também esforço, empenho e boa relação interpessoal por parte do contratado temporário.

Produção de festas incrementa renda

Para além dos números de contratados oficiais, que dizem respeito aos profissionais com carteira assinada, há um número significativo de pessoas que abraçam empregos de cunho informal para que possam fazer um dinheiro extra. Doceiros, cozinheiros e artesãos são apenas alguns exemplos. Tamara Sorrentino é uma dessas pessoas que busca complementar a renda com um trabalho informal. Formada em Artes Visuais e atuando no setor de marketing da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), ela começou a trabalhar com organização de festas há seis anos.

Tamara admite que a ideia não surgiu repentinamente. Na realidade, ela sempre gostou muito de organizar festinhas para a família e para amigos, sempre tentando dar um toque manual, original e bonito. “Por exemplo, no 'Dia dos Pais', não era só colocar a comida na mesa, era fazer uma decoração que combinasse com a personalidade do meu pai e aí toda a festinha eu acabava sempre dando um toque”, relata. Por conta disso e pelo desejo de fazer algo mais próximo do casal, ela que organizou o próprio casamento, que foi temático em estilo junino. Como todo a ideia agradou muita gente, os pedidos começaram a surgir e, logo, ela passou a fazer festas mais trabalhadas e com temas diversos – criando, inclusive, sua própria marca.

Após o nascimento de seu filho, Tamara efetivou a produção das festas infantis e casamentos de pequeno porte, produzindo pelo menos uma celebração tematizada por mês.“A ideia é fazer uma coisa mais rústica, mais interiorana e mais simples e não essas coisas mais sofisticadas, algo mais manual mesmo”, explica sobre como produz as peças para as festas temáticas. Assim, Tamara não produz festas em que pelo menos uma das peças seja produzida por ela, confessando que é muito difícil pegar apenas peças prontas e colocar em uma mesa, tudo é pensado para a festa especificamente.

Sobre o planejamento e atendimento, ela explica que encontrou uma forma de conciliar sua formação em Artes Visuais com a produção das festas. Dessa forma, ela produz todo um esboço desenhado - assim como alguns gráficos produzidos em computador - de como ficará organizada a festa, a fim de apresentá-la aos clientes.

Quanto ao investimento, Tamara admite que teve que comprar algumas coisas para poder trabalhar com a organização de festas. “Eu vi que se eu alugasse ela todas as vezes, seria um dinheiro que eu estaria desperdiçando, porque são peças que, sendo mais caras, eu uso em todas as festas”, esclarece. Porém, admite que não pode ter tudo que deseja, já que o empreendimento não possui espaço próprio e é muito difícil colocar todas as peças dentro de casa. Portanto, ela compra apenas aquilo que sabe que dará um retorno a curto ou médio prazo.
Tamara afirma ainda que a marca é muito recente, mas que já complementa a renda familiar, mesmo que não muito.

“Por mais que eu tenha que estar investindo nas festas, eu sempre faço um orçamento sabendo que nem tudo é livre, eu sei de toda a parte que eu tenho de investir. O que sobra não é muito, porque minhas festas são mais simples”, explica. Porém, diz que cobra o justo: como são festas diferenciadas cujas peças são manuais e artesanais, então ela tem de cobrar pela mão de obra dela. “A gente faz por amor, mas tem que entrar uma grana, porque a gente precisa. Minha renda fixa é pouca e meu marido é músico, então tudo que entra extra ajuda”, conclui, com um sorriso no rosto.

Bonecos de crochê fazem sucesso

Maria Augusta Vilar é sogra de Tamara. Funcionária pública aposentada, Augusta adotou o crochê como uma forma de passar o tempo livre. Em algumas pesquisas, Tamara viu alguns bonequinhos feitos de crochê e os apresentou à sogra. “Ela falou que nunca viu e, quando eu mostrei ela disse que poderia tentar fazer. Aí o primeiro que fizemos foi um abacaxizinho com rosto, que usamos em uma festa infantil com tema tropical”, relata.

Encantada pelo amigurumi, técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô, a aposentada começou a procurar mais e mais receitas, vendo que ela era capaz de fazer vários tipos de bonecos. “Quando eu vi, ela chegou aqui em casa com um monte de bichinhos feitos de vários tipos diferentes. E ela começou a perguntar ‘qual a sua próxima festa?’ e eu resolvi que seria bacana agregar os nossos trabalhos”, conta Tamara. Desde então, Maria Augusta não parou mais e passou a fazer os bonecos para ornamentar as festas que Tamara organizava.

“Toda festa que vai ter agora, nós combinamos o tema ou personagem, então sempre tem um toque dela”, explica Tamara. A nora confessa ainda que se sente muito feliz por ter incluído a sogra no negócio, porque produzir os bonecos também tem funcionado como um trabalho terapêutico. Maria Augusta estava à beira de uma depressão, mas confessou à nora que concentrar-se nessa atividade ajudou-a de inúmeras formas. “Além de tudo, isso tem dado uma renda extra a ela agora, porque toda festa que eu contrato, eu sempre pago os bonecos para usar, nem que seja com a lã ou o material que ela precisa. É minha sogra, mas negócios à parte”, brinca.

O negócio de Maria Augusta, por sinal, também vem crescendo. Tamara conta que criou uma conta no instagram e estão sempre postando os bonecos que ela produz, deixando os contatos para quem deseja comprar. Além disso, algumas pessoas que veem os bonecos nas festas de Tamara também demonstram interesse em encomendar um. Dessa forma, Augusta vem ganhando um dinheiro extra vendendo seus bonecos para presentes, quartos infantis, brinquedos para crianças e mesmo alguns adultos, que ficam muito felizes em receber os personagens de crochê produzidos por ela.