“É dia de feira, quarta-feira, sexta-feira, não importa a feira. É dia de feira, quem quiser pode chegar”. O trecho da música “Feira”, da banda O Rappa, traduz bem o que são as feiras livres. Todo dia, diversos produtos são oferecidos para quem quiser, e tem de tudo um pouco. Da goma da tapioca ao milho verde, da banana à graviola, do bolo de macaxeira ao coentro verdinho, do inhame ao morango, das ervas medicinais ao tempero caseiro, do pano de prato ao feijão verde, tem até carne fresca e ervas medicinais. Talvez por isso, esse lugar tão tradicional e rico em variedade não saía de moda e seja o preferido de muitos clientes, mesmo com a praticidade dos supermercados.
Uma das feiras mais tradicionais é a do bairro de Jaguaribe. O espaço funciona somente nas quartas-feiras durante todo o dia e a atividade só termina por volta das 21h. A dona de casa Elizângela de Fátima Monteiro é cliente antiga e garante que a feira livre é muito melhor do que o supermercado. “As mercadorias são mais em conta, frutas, legumes, verduras. Podemos escolher os melhores. Aqui, mesmo no final da tarde, dá para comprar produtos bons e ainda mais baratos”, justifica.
A aposentada Cleonice Fernandes de Vasconcelos concorda que a feira livre é a melhor opção, tanto que se desloca do bairro de Tambauzinho para aproveitar as promoções na Feira de Jaguaribe. “Tudo aqui é mais barato e não tem tanta gente como no supermercado que, inclusive, é longe da minha casa e caro. Eu gosto de vir pela manhã, mas sei que à tarde o preço sempre cai”, comenta.
A personal trainer Tamíres Costa Alves dá atenção especial à alimentação e diz que prefere a feira livre pela variedade, praticidade e preço. “Os produtos também são mais frescos e em maior quantidade. Gosto de vir pela manhã porque venho com a minha mãe. No final da tarde, é muito mais movimentado”, diz.
Com mais de 40 anos de atuação na Feira de Jaguaribe, o aposentado Antônio Pedro da Silva está entre os que trabalham há mais tempo no local. “Estou entre os mais antigos porque muitos chegaram junto comigo, na mesma época. Quando meu pai faleceu, eu assumi o comércio”, lembra.
Ele conta que a Feira de Jaguaribe nem sempre foi ali. Já funcionou onde hoje é o Centro Administrativo do Estado e também passou um tempo numa rua próxima ao local atual. “O movimento aqui é grande. A maioria das pessoas prefere a feira porque tem mais variedade”, destaca o vendedor que trabalha com queijo, carne de sol, charque, rapadura. “À noite, na hora da xepa, a procura é muito boa. O pessoal sai do trabalho e pega um preço ainda melhor. A feira é sempre uma boa opção”, garante ele, que formou as três filhas com o trabalho na feira.
Há 20 anos trabalhando na Feira de Jaguaribe, o comerciante Rosecláudio Rodrigues dos Santos também confirma que os clientes preferem a feira. “Feira livre é uma tradição, muito melhor porque aqui as mercadorias são fresquinhas, do dia”, observa.
A feira tem 389 comerciantes cadastrados e, para quem percorreu todos os bancos, nada melhor do que, no final das compras fazer um lanche. Tapioca com café é uma das opções mais procuradas. “Chegamos a vender cerca de 70 a 80 quilos de goma e também o coco ralado”, diz a comerciante Sonielly de Lima Ferreira.
Mercado Central tem até uma floricultura
O Mercado Central de João Pessoa tem um pouco de tudo. Além das frutas e verduras fresquinhas, coco ralado e goma de tapioca, cereais e carnes, o espaço tem o diferencial de possuir uma floricultura. O box fica logo na entrada e é uma boa opção para quem quer presentear com delicadeza. O cliente pode escolher ainda acessórios para incrementar o buquê de flores. Entre eles, há canecas, ursinhos, cartões.
O proprietário Aricélio Silva Pontes afirma que sempre há quem compre flores, mas o maior movimento é nas datas comemorativas como Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Dia da Mulher, Dia de Iemanjá, Natal e Ano Novo.
Num passeio pelo Mercado Central, é possível encontrar pioneiros, como é o caso do aposentado Josué Gomes, que tem 78 anos. “Estou aqui desde os 4 anos de idade quando vinha com meu pai. Ficava brincando por aí e aprendi o ofício. Todos os dias estou aqui. Hoje eu sou o mais antigo comerciante do mercado. Na verdade, comecei com meu pai ainda no Mercado Velho, que funcionava no prédio onde era o Cinema Municipal”, conta.
José Freire da Cruz, de 85 anos, também está entre os mais antigos. Há 41 anos no Mercado Central, ele divide o trabalho com um dos filhos no box onde comercializa temperos, ervas medicinais, vassouras, panos de prato. “A feira aqui é boa porque tem de tudo. Você vai escolhendo. Eu sou fã da feira livre, produto fresquinho, o preço é melhor e tem muita coisa para escolher. Estou satisfeito de trabalhar aqui e a feira vai resistindo”, afirma.
A secretária Rosa Araújo estava no mercado em busca de uma vassoura com cabo longo para limpar teto, mas acabou comprando também o que não estava na lista. “Eu gosto da feira livre porque tem mais produtos naturais, as coisas não são congeladas. Além disso, os preços são melhores. Nem ia comprar erva-doce, mas está tão cheirosa que vou levar. Para mim, feira livre sempre é a melhor opção”, ressalta.
Mercado da Torre
O Mercado da Torre, com cerca de 300 comerciantes cadastrados, tem a mesma variedade dos demais, mas cada mercado tem seu diferencial. Por lá, por exemplo, tem um box onde a farmacêutica Lucinha de Fátima Fonseca trabalha há 32 anos. Ela vende rações, acessórios, medicamentos veterinários. “Fui a pioneira aqui a trabalhar com esses produtos. Graças a Deus, tenho clientes todos os dias”, declara.
Há mais de 50 anos no Mercado da Torre, a aposentada Terezinha Clemente Dias, de 86 anos, é a mais antiga no local. Ela comercializa cereais e alguns itens da cesta básica. “Temos fregueses certos”, contou ela, que trabalha das 6h às 14h.
Apesar de ter uma grande variedade de produtos, o grande destaque do Mercado da Torre é a praça da alimentação. Carlos Alberto do Nascimento, há 25 anos por lá, destacou que os turistas estão procurando bastante o espaço. “Temos muita coisa a oferecer, comidas tradicionais do Nordeste como bode, rabada, churrasco, no almoço. No café da manhã, macaxeira, inhame, batata doce, cuscuz com rabada, bode, galinha, tem comida de milho, tapioca. É por isso que todo mundo vem”, afirma. Pelo seu estabelecimento passam, por dia, em torno de 250 clientes.
Sócio de um dos restaurantes no Mercado da Torre, Josinaldo Tavares garante que o movimento é muito bom. O café da manhã começa a ser servido cedinho, às 5h, e vai até as 9h30. Inhame, mocotó, picado de bode e arroz são alguns dos pratos que fazem parte da primeira refeição do dia. Às 10h, inicia o almoço, que é servido até as 14h. Por lá, a média é de 300 clientes por dia entre café e almoço. Ele ressalta que, além da variedade, o preço acessível é um grande atrativo, principalmente para quem trabalha próximo. “É uma comida boa, nova e feita com carinho”, ressalta.
Aos 76 anos, a aposentada Irene Feitosa está há 55 trabalhando no local. Ela conta que, ao longo desse tempo, muita coisa mudou. “Antigamente, eram barraquinhas de tábua. Hoje, temos um conforto maior e pretendo ficar enquanto puder. Eu acho que as pessoas preferem fazer compras no mercado e nas feiras porque os produtos são novos”, diz ela, que comercializa feijão verde já descascado.
Para os clientes, o espaço é muito agradável, em especial, a praça da alimentação. “O Mercado da Torre é completo. Nos intervalos do trabalho, venho para cá e almoço. É um local muito bom para bater um papo e tem uma comida excelente”, diz o motorista de aplicativo Ademar Martins. “O preço é acessível e o atendimento é como se fosse uma família. Se tornou um aconchego”, emenda o comerciário Lindemberg Silva, que trabalha próximo ao local.
Importância das feiras livres
“A procura pelas feiras livres hoje acredito que esteja vinculada a preços mais acessíveis e mais opção para escolha, principalmente no quesito hortifruti. A gente acompanha permissionários de mercados públicos que atuam no segmento há mais de 30 anos. Isso é um recorte de como esses espaços são característicos da nossa cultura e como se reinventaram com o tempo, oferecendo mais preço e qualidade”, afirma o secretário de Desenvolvimento Urbano de João Pessoa (Sedurb), Fábio Carneiro.
O importante é escolher bem
Muitos consumidores preferem comprar frutas, verduras, legumes, raízes nas feiras livres. Segundo eles, são produtos frescos e, por isso, mais saudáveis, diferente dos supermercados onde alguns itens, como carnes, são congelados e acabam ficando velhos. Por um lado eles têm razão, mas há ressalvas. Conforme a nutricionista Heloísa Helena Espínola, mesmo comprando produtos na feira, a recomendação é que seja observado o estado de conservação, se estão, de fato, frescos, se estão amassados, deteriorados. Por outro lado, ela afirma que chegar no final da feira é se arriscar a encontrar alimentos um pouco estragados, já que os melhores foram escolhidos ao longo do dia e ficam aqueles que, na maioria das vezes, não estão tão bons.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 2 de julho de 2023.