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Passageiros reclamam dos constantes atrasos, excesso de lotação e desativação de linhas, inclusive à noite

Transporte público na capital: poucos, caros e ineficientes

publicado: 25/04/2022 08h41, última modificação: 25/04/2022 08h41
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Foto: Marcos Russo

por Ítalo Arruda*

Sem o direito de ir e vir. É assim que a estudante Emanuelle Costa e outros milhares de usuários do transporte público de João Pessoa se sentem diante da situação com a qual os ônibus urbanos vêm operando na capital. Além da demora e dos atrasos – decorrentes, principalmente, da redução e desativação de determinadas linhas durante a pandemia de coronavírus –, o preço da tarifa a R$ 4,40, a superlotação, a infraestrutura precária da frota de coletivos (com poltronas, janelas, sinalizadores e elevadores para cadeirantes quebrados) e a falta do transporte no período noturno em algumas regiões da cidade representam, segundo a jovem, o descaso do poder público para com a população pessoense.

Emanuelle conta que, depois de um determinado horário, fica sem a linha 502 (Geisel/Epitácio), cujo ônibus passa na parada instalada mais próxima à sua casa. Além de ter a última viagem às 18h (em dias úteis), a linha não opera nos domingos e feriados. A situação tem dificultado o deslocamento da estudante, que tem aula à noite, no Castelo Branco, e, durante a semana, precisa recorrer às linhas alternativas, como os circulares 5110 e 1510, para poder voltar para casa.

“Para retornar da universidade ou de algum ponto da (Avenida Epitácio Pessoa, preciso pegar outro ônibus que para a cerca de um quilômetro ou mais da minha residência, me expondo à insegurança, com riscos de assalto e outras violências que nós, mulheres, sofremos”, reclama Emanuelle Costa, acrescentando que, nos feriados e fins de semana, a insuficiência de ônibus acaba privando-a das opções de lazer fora do bairro. Outras linhas que deixam de circular em feriados são, por exemplo: a Jaguaribe (003), a Distrito Industrial (115), Treze de Maio (513) e Bancários/Epitácio (518) e a Circular 1510.

Insuficiência

Atualmente, existem 461 ônibus cadastrados no sistema de transporte coletivo convencional. Deste total, 455 são considerados eficientes para operar com as 74 linhas que estão em circulação em todos os bairros da capital, de acordo com informações disponíveis do site da Superintendência de Mobilidade Urbana do município (Semob-JP).

Entretanto, a frota não tem sido suficiente para atender às necessidades dos milhares de passageiros que são transportados diariamente. Desde 2020, com a eclosão da pandemia, várias mudanças ocorreram no sistema de operação do transporte público. Cerca de 15 linhas saíram de circulação ou passaram por algum tipo de atualização, afetando diretamente a rotina de trabalhadores, estudantes e demais usuários do serviço.

Assim como Emanuelle, o estagiário de Administração, Allan Oliveira, também está entre os cidadãos atingidos. Ele mora no bairro de Água Fria, na Zona Sul, e precisa se deslocar todos os dias, de segunda à sexta-feira, para o Instituto Federal da Paraíba (IFPB), em Jaguaribe, onde estuda e estagia. Antes da pandemia, a linha 201 (Ceasa) interligava os dois bairros, e Allan não sentia dificuldade para fazer o trajeto.

“Agora, eu e outros estudantes que moram na mesma rua que a minha, passamos um verdadeiro sufoco para chegar ao destino, tendo que pegar dois ônibus e dando uma volta enorme pela Epitácio Pessoa”, afirma.

Além disso, a desativação do ônibus circular do bairro, que saía do ponto final da linha 201 (antigo terminal de integração dos Bancários, ao lado do Shopping Sul), e fazia o trajeto pelas imediações dos bairros Água Fria, Anatólia e Jardim São Paulo, dificultou o deslocamento das pessoas que residem naquela região para outras áreas da cidade.

O jovem também se queixa da baixa oferta da linha durante a noite – já que a última viagem acontece às 19h – e do “caos” que é ter que esperar pelo transporte em meio à insegurança nas paradas de ônibus. O tempo de espera, segundo ele, é de uma hora ou mais. “Com a violência do jeito que está, as pessoas estão tendo que se virar pegando carona, organizando grupos para fazer determinado trecho a pé. Nos sentimos humilhados”, desabafa.

Integração temporal

Outro problema que tem afetado os passageiros de ônibus, em João Pessoa, é o fim da integração física. Com a pandemia, a prefeitura implantou o sistema de integração temporal, no qual os usuários precisam do cartão de passagem para garantir a gratuidade do segundo embarque em qualquer lugar da cidade, desde que a troca de uma linha para outra seja feita em um intervalo de até 60 minutos.

Porém, muitas pessoas estão se queixando de que não tem sido possível integrar as viagens, e isso acaba resultando na cobrança dobrada da tarifa, que, com o valor atual de R$ 4,40, é considerada a mais cara do Nordeste, junto com a capital Salvador.

“Tem ônibus que demora demais e não dá para fazer essa integração. Já aconteceu de esperar mais de uma hora e ter que pagar outra passagem porque o ônibus não passou no horário previsto”, relata Gabriellen Costa, que achava melhor o funcionamento da integração física, no Terminal do Varadouro.

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de João Pessoa (Sintur-JP) informa que a frota em operação é uma adequação ao período pós-pandemia e “que a volta das atividades ainda está se verificando de forma gradual”. O órgão também afirma que está analisando o quantitativo de ônibus para cada linha, bem como o número de viagens para cada uma, a fim de regularizar a situação.

Além disso, o Sintur-JP destaca que quando são constatados danos ou irregularidades em algum ônibus, o problema é devidamente corrigido ou consertado. “Há programa de prevenção, porém, é possível ocorrer danos a equipamentos durante a viagem e, ao chegar à garagem, à noite, é feito o reparo no veículo”, diz trecho da nota.

A reportagem de A União procurou a Semob-JP para esclarecimentos, mas, até o fechamento desta edição, o órgão não se pronunciou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de abril de 2022