Quando soube que teria que ficar distante de casa, Maria das Graças Silva pensou em não fazer o tratamento médico para o câncer de mama. Moradora do município de Itaporanga, Sertão paraibano, todo o domingo ela viaja para João Pessoa para ser atendida no Hospital Napoleão Laureano. Sem parentes ou amigos na cidade, ela foi acolhida na Rede Feminina de Combate ao Câncer, uma organização não governamental que oferece estadia, alimentação e atividades para os pacientes do interior que fazem tratamento na capital.
A casa tem capacidade para abrigar até 40 pessoas, entre homens e mulheres, que são direcionados pelo serviço social do Hospital Napoleão Laureano, desde o ano de 1999. As casas de acolhimento são equipamentos que possibilitam aos pacientes do interior paraibano a realização do tratamento contra o câncer sem nenhum custo com hospedagem ou alimentação.
Maria das Graças, que já fazia tratamento desde 2022 no Hospital São Vicente de Paulo, conheceu a Rede Feminina há um mês, quando passou a ser atendida no Laureano. Na última sexta-feira ela concluiu a radioterapia e se preparava para retornar ao Sertão. “Estou saindo uma pessoa diferente. No início eu não queria vir, pela distância, pelas dificuldades, mas fui convencida e foi a melhor coisa que eu fiz. Foi maravilhoso. Aqui nós somos tratadas com muito amor, é um lugar muito acolhedor”, avaliou.
Encarar a distância de casa foi para Maria Gilvaneide, de 51 anos, um dos maiores obstáculos. Casada, ela mora no município de Boa Ventura, também no Sertão, e precisou fazer quatro ciclos de quimioterapia, totalizando 38 sessões, para combater o câncer de mama. “A distância é muito ruim, mas tive que encarar”, pontuou.
Na quarta sessão de quimioterapia ela teve uma forte reação e foi quando conheceu a Rede Feminina. “A minha sorte foi encontrar esse lugar, caso contrário eu não teria conseguido. Fui muito bem acolhida e isso nos conforta, mesmo estando distantes de casa. Aqui a gente não tem tempo para pensar na doença, porque estamos sempre conversando, fazendo alguma coisa”, disse Gilvaneide.
Todos os dias são oferecidos diferentes tipos de terapias e atividades para quem está na casa, a exemplo de oficina de artesanato, reiki, encontro ecumênico e musicoterapia. Para se deslocarem ao hospital, os pacientes são acompanhados pela técnica em enfermagem Elizângela Fontes. Eles também são levados para um passeio pelos principais pontos turísticos da cidade e atendidos por uma psicóloga.
As refeições são preparadas com carinho por funcionários e voluntários. Preparar o lanche dos pacientes acolhidos na casa é o compromisso de Marlene de Souza todas as quintas-feiras, há 14 anos. Ela conheceu a ong após ser diagnosticada com câncer e a partir da cura, decidiu ser voluntária. “É uma honra ajudar ao próximo e eu faço com muito amor. Se eu pudesse faria todos os dias”, afirmou Marlene.
Voluntariado, acolhimento e luta pelos direitos das pessoas com câncer
Zenaide Andrade é a presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, que tem como missão acolher as pessoas com câncer, contribuindo com sua recuperação e bem-estar. Além disso, a entidade busca fazer valer os direitos dos pacientes, participar de campanhas e ações preventivas e angariar recurso para assegurar a assistência ao paciente. O espaço acolhe pessoas dos 223 municípios paraibanos.
“É muito desafiador ser presidente, mas ao mesmo tempo é uma satisfação imensa poder fazer esse trabalho gratuito como voluntária de amor ao próximo”, contou Zenaide, que há 26 anos coordena a visita domiciliar aos pacientes em cuidados paliativos. “É gratificante acompanhar esse paciente dando o melhor conforto. Nós levamos a cesta básica, verdura, fruta, produtos de higiene, fralda. Se precisar de uma cama hospitalar nós levamos”, explicou Zenaide.
A voluntária mais antiga da Rede é Etiene Coutinho. Nas visitas aos pacientes internados no hospital ela sempre levava uma mensagem de apoio. Na casa de acolhimento ela conta que faz o que for preciso. “É muito gratificante. Você pensa que a gente tá fazendo bem para elas? Estamos fazendo para a gente. Quem ajuda, se sente bem. É bom fazer a caridade. Uma grande amiga um dia me falou: Etiene, é bom ser bom. E é verdade”, disse.
A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma ong que depende de doações para manter seus serviços. Amanhã a entidade realiza um evento para arrecadar fundos, na casa de eventos Sonho Doce, com palestra de Juliette e shows de Belle Soares e Sandra Belê. As doações podem ser feitas diretamente pelo PIX 22.222.879/0001-59.
Hospital do Bem reduz número de deslocamentos de pacientes
Desde 2018, o funcionamento do Hospital do Bem - unidade de Oncologia do Sertão, reduziu o número de pacientes que precisam se deslocar até João Pessoa ou Campina Grande para realizar tratamento contra o câncer. Até o mês de setembro foram realizadas na unidade hospitalar 49.004 atendimentos ambulatoriais, 19.262 sessões de quimioterapia, 3.706 cirurgias e 4.295 internações.
O secretário de Estado da Saúde, Jhony Bezerra, afirmou que o Hospital do Bem possibilita aos pacientes do Sertão a realização do tratamento oncológico mais perto de suas casas. Segundo ele, isso impactou positivamente na melhoria da qualidade de vida das pessoas que precisam do atendimento.
A oncologista do hospital, que atua na unidade desde sua inauguração, a médica Nayarah Xavier, lembra a importância do Hospital do Bem e do quanto a disponibilidade de serviços oncológicos no Sertão mudou a rotina dos pacientes do interior.
“O Governo do Estado foi muito assertivo em trazer um hospital deste porte e com esse foco para o interior do estado, com um serviço tão complexo e com uma qualidade desta, pois nossos protocolos são os mesmos dos melhores hospitais referência para pacientes com câncer do país, nossa equipe multiprofissional é bastante competente e comprometida e nossa estrutura também é muito boa”, afirmou a médica.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de outubro de 2023.