O Instituto Cândida Vargas (ICV), serviço de referência, dispõe de atendimento multiprofissional destinado a mulheres vítimas de violência sexual e/ou doméstica. No ano passado, 207 mulheres foram atendidas pelo serviço oferecido pela Prefeitura de João Pessoa (PMJP) por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em 2022, o número foi mais alarmante, chegando a 213 mulheres que sofreram com esse crime.
Nos anos anteriores, a quantidade de registro também foi relevante. Segundo o levantamento do ICV, que notifica usuárias em situação de violência, 152 mulheres foram atendidas em 2019; no ano seguinte foram 143 vítimas; em 2021 foram 159 vítimas. Os dados da maternidade Cândida Vargas mostram que as mulheres adultas na faixa etária (20 a 34 anos) lideram em número de atendimentos, o equivalente a 41,1%; em segundo lugar vêm as meninas de 10 a 14 anos, relacionada ao estupro de vulnerável, representando 24,6%.
Tipos
O ICV atende mulheres vítimas de violência sexual/e ou doméstica. As usuárias podem ser atendidas por demanda espontânea, acompanhada de uma amiga/familiar ou encaminhada pela Delegacia da Mulher. Esse tipo de atendimento é considerado um caso de urgência, logo, o serviço encaminha a vítima diretamente à sala de acolhimento.
A psicóloga e coordenadora multiprofissional do Serviço de Atendimento a Adolescentes e Mulheres vítimas de violência do ICV, Sandra Garcia, explica que a equipe multiprofissional (assistente social, psicóloga, médica e enfermeira) realiza uma escuta humanizada. “Essa escuta é feita por mulheres, para que ela se sinta acolhida, protegida e não julgada por sua fala, evitando a revitimização”, disse Sandra Garcia.
De acordo com ela, o aumento das notificações de casos de violência doméstica e sexual possui inúmeros fatores, pois é um fenômeno complexo. Entre eles estão a divulgação dos serviços de referência e de políticas públicas de proteção, como também a contribuição da mídia, que dá visibilidade ao tema. Ela ainda acrescentou outros motivos para o acréscimo no número de atendimentos. “A qualificação profissional para saber identificar ciclos de violência e, por fim, a conscientização da mulher que sofre violência também tem aumentado, logo, isso contribui para a desnaturalização do processo”, elencou.
Protocolo de atendimento
Em caso de violência sexual, o atendimento deve acontecer em até 72h, conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS).
A paciente realizará todos os exames necessários, incluindo teste de gravidez, como também teste para diagnóstico de hepatite, Aids e Infecções Sexualmente Transmissíveis. É feita a profilaxia com um coquetel de medicações como forma de prevenção das ISTs e gravidez indesejada. Após o atendimento hospitalar e escuta humanizada, a usuária fará acompanhamento médico e psicossocial ambulatorial por seis meses.
Caso a mulher grávida tenha sido vítima de estupro, a gestante poderá escolher fazer o pré-nantal no ambulatório do ICV, podendo optar em ficar com o recém-nascido ou fazer a doação mediante fluxo do projeto “Entrega protegida”. Caso esteja até 20 semanas de gestação, a mulher terá direito ao aborto legal previsto em lei. Se for adolescente, a sequência do atendimento será no Hospital Arlinda Marques- serviço estadual.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de fevereiro de 2024.