Um poeta sentencia: “Eles não leem a Bíblia!” Refere-se a uma vertente do Cristianismo que sobrevive graças à ignorância. À tradução ora equivocada, ora mal-intencionada do Texto Sagrado. Uma bricolageminteligente, minuciosa, arquitetada para obter certos efeitos e alcançar determinados objetivos.
Propósitos e consequências carreiam moedas, não apenas trinta, mas bilhões de símbolos monetários, para cofres secretos aos quais os fiéis não têm acesso. Ora, os fiéis. Talvez nem a Receita saiba quantificar. E político faz vista grossa, porque sabe muito bem que cada devoto representa, na verdade, um voto.
O poeta protesta, negando, para, na verdade, afirmar que eles leem a Bíblia, sim. Estudam a Palavra com disciplina espartana, para fazer tudo ao contrário do que ali está preconizado. Porque um dos paradoxos do ensinamento bíblico é, exatamente, o egoísmo, pecado que gera a cobiça pela fortuna.
Isto ocorre também com o Alcorão. E dessa Hermenêutica nefasta, em vez de Paraíso, fazem da Terra Inferno. Porque neste forno não se cremam apenas corpos. Mentes são destruídas ou delas subtraem o dispositivo criativo que ali foi instalado, para que pudessem reinventar a vida, inspiradas no Amor.
Usando uns o verbo como arma, outros a arma como verbo, falsos profetas - demônios camuflados? -, criam dependência psicológica, utilizando, para isso, as tecnologias da ultramoderna Sociedade da Informação, que prossegue com o sonho de morar em Marte e o Grande Dia da Conectividade Total.
E essa dicotomia vai corroendo ideais, solapando esperanças. A Grande Fragmentação dilui, no dia a dia, o Sonho da Arte, da Religião, da Filosofia. A condição humana – que não muda no tempo e no espaço -, fica de fora quando se cruza o pórtico do Gran Circo Virtual, mastro de cobre, lona de plasma.
E o monstro engorda e cresce, enquanto observa tumultos em frente às lojas, na Sexta-feira Negra. Dia de atiçar instintos selvagens. Criar novas necessidades, para fazer girar mais rápido a Grande Engrenagem do Consumo Desenfreado, que tritura e reduz a vida a um mero sistema de trocas.
Mahatma Gandhi já alertava para o fato de as matrizes religiosas terem o mesmo núcleo, ou seja, um substrato comum, que seria o Amor Compassivo. Viver pelo bem-estar do outro. Doar-se, enfim. Mas assassinaram a Grande Alma, do mesmo modo que, séculos antes, açoitaram e mataram Jesus.
Assim caminha a Humanidade. Pensando, dizendo, para fazer diferente. Um jovem empresário revela que o sucesso de sua marca se deve ao fato dele ter criado um produto igual àquele que gostaria que lhe fosse oferecido. Babel se cala. E olha, desconfiada, para aquele sujeitinho sem Ética atrofiada.