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Vale do Piancó

“Pedra bonita” de braços abertos

publicado: 15/04/2024 13h50, última modificação: 15/04/2024 13h53
Celebrações religiosas, festejos juninos e um torneio esportivo popular estão entre os atrativos de Itaporanga
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Com cerca de 30 metros de altura, o Cristo Rei foi construído para cumprir uma promessa e passou a atrair centenas de fiéis em um dos maiores eventos religiosos da região | Foto: Wikipédia/Domínio Público
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Primeiro doutor em trombone do Brasil, Radegundis Feitosa é reconhecido como fundamental na formação musical de Lucy Alves, que também tem em Itaporanga uma referência para a carreira | Foto: Funesc/Divulgação
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por Sara Gomes*

Localizada no Vale do Piancó, a 414 km de João Pessoa, Itaporanga deriva seu nome do tupi-guarani – significa “pedra bonita”, em alusão aos tabuleiros pedregosos e ondulados de considerável elevação. Com 159 anos de emancipação política e uma média de 23.940 habitantes, em uma área territorial de 460.210 km², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade é conhecida por seu turismo religioso, pela tradicional Festa de São Pedro e por realizar o maior campeonato de futebol amador da Paraíba. Além disso, é onde nasceu Radegundis Feitosa, o primeiro doutor em trombone do Brasil.

Tradição têxtil

Na economia de Itaporanga, destacam-se o comércio local e, principalmente, a indústria têxtil. Lá atuam, em média, 20 empresas têxteis, que representam mais de 20% da economia do município. Os principais produtos comercializados são panos de chão e de pratos e flanelas, assim como artigos de utilidade doméstica, como panos de microfibra e coadores de café.

Com 28 anos de mercado, a Itatex é a fábrica pioneira que impulsionou o segmento na cidade, como lembra a CEO da empresa, Danielle Dantas. “Isso gerou oportunidades de emprego e renda e, consequentemente, foi desenvolvendo o comércio, formando uma cadeia de desenvolvimento econômico. Com o tempo, outros negócios se instalaram na cidade”, conta. Hoje, a Itatex emprega pouco mais de 200 funcionários e gera, em média, 100 toneladas de produtos por mês.

Monumento à fé

Itaporanga também prospera em torno do Cristo Rei, monumento religioso que fica no alto da Serra do Cantinho. De acordo com o projeto Paraíba Criativa, a obra de cerca de 30 metros de altura foi construída pelo arquiteto Alexandre Azedo Lacerda, entre 1985 e 2000, para cumprir uma promessa: como a cidade era uma das mais violentas do estado por causa de conflitos por terra, o padre José Sinfrônio de Assis Filho prometeu erguer uma estátua do Cristo caso a situação melhorasse.

Mesmo antes de sua finalização e inauguração, em novembro de 2000, o monumento já atraía centenas de fiéis para a Romaria ao Cristo Rei, que ocorre há 28 anos e é considerada um dos maiores eventos religiosos do Vale do Piancó. Organizada pela Diocese de Cajazeiras e a Paróquia de Itaporanga, a Romaria abre oficialmente as comemorações da Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de dezembro.

Futebol amador

Fundado em maio de 1976 por Heleno Feitosa Costa, o Poeirão é um campeonato de futebol amador que ocorre anualmente na cidade. Em média, 150 equipes, incluindo times de outros estados, se inscrevem a cada edição para disputar premiações em dinheiro – o vencedor deste ano vai embolsar R$ 17 mil. A competição se estende durante o mês de maio, com partidas realizadas de terça-feira a domingo, no Estádio José Barros Sobrinho – o Zezão –, e costuma receber diariamente cerca de dois mil espectadores, que chegam a 12 mil no duelo final.

Em 2022, o Poeirão foi reconhecido como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial da Paraíba. Segundo a Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Itaporanga, o campeonato ganhou repercussão nacional, tanto que já recebeu ex-jogadores renomados, como Marcelinho Paraíba.

São Pedro

Além da Festa da Padroeira, em 8 de dezembro, e a Festa da Emancipação Política, em 9 de janeiro, Itaporanga sedia várias festividades, como a Festa de São Pedro, considerada pela gestão municipal o terceiro maior evento local.

Consagrada como mais um Patrimônio Histórico Cultural Imaterial da Paraíba, a festa, que ocorre entre os dias 28 e 30 de junho, atrai muitos turistas com sua programação de shows, aquecendo a economia da cidade no período. Uma novidade do evento é a Vila São Pedro, onde se apresentam artistas locais e nacionais e quadrilhas juninas.

Como define Calina Dantas, chefe de gabinete da Prefeitura de Itaporanga, o município é um lugar atrativo no Vale do Piancó, “tanto pelo seu turismo religioso, a exemplo da Romaria, como por ser uma cidade muito acolhedora, que valoriza a cultura nordestina e possui um viés empreendedor”.

Filho ilustre ganhou o mundo e inspira jovens artistas 

Natural de Itaporanga, o trombonista Radegundis Feitosa começou a tocar o instrumento na adolescência, na banda do colégio e em orquestras de carnaval. Em 1981, passou a estudar no Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), formando-se em 1983. Como sempre se preocupou em ampliar seus conhecimentos, Radegundis cursou mestrado na Juilliard School, em Nova Iorque (1987), e doutorado na Catholic University of America, em Washington (1991). Tornou-se, então, o primeiro brasileiro doutor em trombone.

Ele também foi presidente e fundador da Associação Brasileira de Trombonistas, além de professor e chefe do Departamento de Música da UFPB. Radegundis faleceu aos 47 anos, em um acidente de carro, no dia 1o de julho de 2010. Ele e os músicos Luís Benedito, Adenilton França e Roberto Ângelo estavam viajando a Itaporanga para tocar no aniversário de 150 anos da paróquia local.

Outro expoente musical da Paraíba, a cantora, atriz e multi--instrumentista pessoense Lucy Alves também tem uma relação forte com Itaporanga, tanto por seus familiares residirem na cidade, como por esta ser referência em sua carreira.

“Eu e minhas irmãs passávamos as férias lá. Tive uma infância muito feliz por ter crescido em contato com esse ambiente rural, tendo a possibilidade de uma infância mais livre: tirar leite da vaca, comer a fruta do pé e tomar banho de açude. Isso foi muito importante para a construção da minha identidade, como também foi em Itaporanga que tive a primeira referência de sanfoneiro com o tio de meu pai, tio Biu. Eu já tocava piano, mas tive a curiosidade de experimentar a sanfona”, relembra Lucy, que cita ainda a influência de Radegundis Feitosa em sua arte.

“Ele foi fundamental na minha formação musical na UFPB. Era uma pessoa muito agregadora, tanto profissionalmente quanto como ser humano. Foi ele quem apresentou nossa família ao mestre Sivuca, que nos convidou para fazer uma participação no seu DVD”, revela, referindo-se ao início de sua trajetória artística com o Clã Brasil, grupo que integrou ao lado de seu pai, mãe e irmãs.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de abril de 2024.