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Cidadania

A força dos cidadãos voluntários

publicado: 26/03/2023 00h00, última modificação: 28/03/2023 11h03
Eles se unem em coletivos para desenvolver ações que resultam em benefícios para a população e o meio ambiente
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Dezenas de voluntários optam por dedicar tempo e esforço para transformações sociais a partir de ações coletivas; na foto, voluntários da Associação Guajiru. Fotos: Acervo pessoal.
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Érica Marques analisando rastreio da desova de tartarugas.
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Marcela distribuindo kits de higiene e fraldas geriátricas. Foto: Acervo pessoal.
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Projeto Ecolero do grupo de voluntários Engenheiros sem fronteiras. Fotos: Acervo pessoal.
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por Sara Gomes*

Coletar o cocô de cães nas ruas, recolher o lixo nas praias durante a caminhada matinal, ser gentil e ceder o lugar aos mais velhos são atitudes simples, mas necessárias para se manter um ambiente coletivo saudável. Atitudes socialmente responsáveis são aquelas que visam contribuir para o bem-estar da sociedade como um todo, seja por meio da adoção de comportamentos éticos, pela promoção de ações solidárias ou pelo engajamento em causas que buscam melhorias sociais, ambientais ou políticas.

De acordo com a professora de Sociologia do Instituto Federal do Rio Grande do Norte Zona Norte, Anna Kristyna Barbosa, essas atitudes são importantes não apenas para o coletivo, mas também para a construção da identidade individual.

“Adotar atitudes socialmente responsáveis são importantes tanto para a construção da identidade individual quanto para o bem-estar da sociedade. Essas ações podem gerar um sentimento de dever cumprido e também o direito de cobrar medidas por parte das autoridades competentes”, explicou.

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Érica Marques analisando rastreio da desova de tartarugas.
Natural de São Paulo, a administradora Érica Marques, 51 anos, mora em João Pessoa há 25 anos. Ela é voluntária da Associação Tartarugas Urbanas Guajiru porque sempre se preocupou com o meio ambiente. O lixo deixado na praia, produzido pela sociedade civil e ambulantes, destrói todo o ecossistema marinho. “Eu não consigo ir à praia e ignorar o lixo ao redor. Enquanto pessoa civil a minha preocupação é minimizar os danos provocados à natureza, pois a resposta da degradação ambiental vem gradativamente”, afirmou.

A Associação vai completar 21 anos de existência e, atualmente, conta com 85 voluntários, que são divididos em equipes. Uma das atividades é o monitoramento dos ninhos nas praias do litoral paraibano. As áreas de monitoramento são: Ponta de Campina, Intermares, Bessa, Cabo Branco, Seixas, Lucena, Tambaú e Jacarapé. Antes a área de monitoramento era só Cabedelo e João Pessoa. Ano passado, o projeto expandiu o monitoramento para Baía da Traição e Jacarapé.

Carla Marques e seu grupo se subdividem para monitorar o trecho de Ponta de Campina até o Mag Shopping. Três vezes na semana, a voluntária caminha das 5:30 às 6:30 para procurar rastro de possível desova de tartarugas. “Cada voluntário monitora um trecho. Geralmente, as desovas acontecem de madrugada, então, temos que ir cedinho para ver se ocorreu alguma alteração no ninho, monitorando até o nascimento. Eu me sinto realizada em contribuir com a preservação das tartarugas marinhas”, declarou.

Ela participa também do projeto “Limpar Mar” - ação social de limpeza das praias. Na última edição foram recolhidos 36,445kg de lixo nas áreas monitoradas pela associação. Além da limpeza, os voluntários promovem a educação ambiental dos banhistas. “Sou do Sudeste e vejo que as praias paraibanas são um presente de Deus. Acho um absurdo presenciar pessoas em pleno século 21 jogando lixo em qualquer ambiente”, criticou.

Quando era criança, Érica almoçava com desconhecidos que batiam na porta de sua casa pedindo comida. “Meu pai nunca negou um prato de comida a quem sentia fome, então, ajudar o próximo faz parte da minha educação familiar”, relembrou.  Atualmente, é voluntária do projeto “Multiplika Pão”, idealizado por sua amiga Kláudia Andrea. Érica auxilia na arrecadação de alimentos para que a equipe de voluntários distribua as refeições para os moradores de rua no Centro de João Pessoa, em frente ao Teatro Santa Roza.” Consigo doações entre os meus amigos e no contexto em que estou inserida. Se a pessoa não tiver tempo de comprar o alimento, pode fazer um pix diretamente para o Multiplika Pão”, revelou.

Sempre que possível, Érica acompanha o grupo na distribuição das refeições. Ela gosta de ouvir a história dos moradores de rua, demonstrando respeito e empatia. “Eu gosto de ouvi-los, mas também dar um abraço reconfortante. Gosto de brincar com as crianças, mas também perguntar quais os sonhos delas, incentivando-as a sair daquela situação através da educação”, concluiu.

Uma sociedade civil organizada, engajada e consciente pode promover um impacto positivo nas atitudes coletivas. Para a socióloga Ana Kristyna, quando as pessoas se organizam em torno de pautas comuns, podem se tornar agentes de mudança e promover transformações em diversas áreas, tais como social, política, ambiental.

“Elas podem promover ações coletivas que visam a melhoria das condições de vida da população, a garantia de direitos, a proteção do meio ambiente, entre outros objetivos", destacou. As atitudes socialmente responsáveis também podem trazer consigo o direito de cobrar das autoridades medidas que visem o bem-estar da sociedade.

“Quando os indivíduos percebem que estão fazendo a sua parte e que ainda há problemas a serem resolvidos, é natural que busquem ações das autoridades competentes, uma vez que as mesmas possuem o poder e a responsabilidade de implementar políticas públicas que beneficiem a sociedade como um todo”, avaliou Kristyna.

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Marcela distribuindo kits de higiene e fraldas geriátricas. Foto: Acervo pessoal.
A administradora e gestora de Pessoas do Engenheiros sem Fronteiras, Marcela Paulino, também teve uma educação familiar baseada em valores humanitários, de empatia e respeito ao próximo. Seus avós e pais a ensinaram a ajudar quem precisa desde pequena, tanto é que esses princípios acompanham sua formação pessoal e profissional.

“Todos os dias tento ser um ser humano melhor pensando no bem comum, no coletivo e nas possibilidades que eu tenho em contribuir para o desenvolvimento da minha região e das pessoas que vivem nela. Ajudar o próximo hoje me faz ser um ser humano melhor que ontem!”, declarou.

Há alguns anos, Marcela realiza a ação solidária “Arraiá da Marcela” no mês de seu aniversário com os idosos da Vila Vicentina, que se encontra na sua sétima edição. Desde 2015, Marcela monta kits de higiene pessoal e oferece um lanche aos idosos, com música ao vivo e muita diversão. “A ação solidária no Vila Vicentina é um momento que me faz reviver as memórias afetivas da minha infância na casa dos meus avós. É aprender com a experiência e histórias destas pessoas, que retribuem com um sorriso doce ao viver um dia cheio de amor e alegria”, afirmou.

Responsabilidade social

Você sabia que as tampinhas de garrafas podem ajudar a causa animal? A Empadinha Barnabé recolhe as tampas e entrega à Ong JP Amor de Pets, que vende para uma cooperativa de reciclagem. O dinheiro é revertido para comprar ração e castração de animais.

Outro projeto social que vem ganhando destaque é o Engenheiros Sem Fronteiras - Núcleo João Pessoa, que é uma organização sem fins lucrativos vinculada à rede Engenheiros Sem Fronteiras Brasil, que tem por objetivo promover o desenvolvimento humano e sustentável por meio da engenharia, trabalho em equipe e voluntariado. A organização desenvolve projetos nas áreas de sustentabilidade, gestão e empreendedorismo, educação e infraestrutura.

A Diretoria-Geral do Engenheiros Sem Fronteiras - Núcleo João Pessoa- menciona alguns projetos atuais em desenvolvimento na Grande João Pessoa, a exemplo do Projeto Gaivotas, Ecoeletro, Plantio Urbano, Papo do Ongueiro, entre outros.

O projeto Ecoeletro visa a conscientização da população local acerca do descarte adequado de resíduos eletroeletrônicos (REE), que são gerados cada vez em maiores quantidades, em consequência ao seu elevado volume de consumo, e são resíduos que têm características tóxicas e têm potencial de causar danos à saúde humana e ao meio ambiente. O projeto atualmente está trabalhando na construção de coletores de REE e na promoção de educação ambiental em parceria com o Projeto de Extensão TREE, da UFPB.

Já o Projeto Plantio Urbano, iniciado em 2021, envolve o plantio de mudas em locais públicos - recomendados pela Secretaria de Meio Ambiente (Seman), e locais de interesse coletivo em João Pessoa. O projeto já proporcionou oito ações de plantio e mais de 50 mudas plantadas por membros do núcleo e voluntários externos, e visa incentivar também o engajamento do público geral dentro da temática da arborização urbana e reflorestamento.

*Matéria publicada na edição impressa de 26 de março de 2023.