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A saga de quem depende de ônibus

publicado: 02/05/2023 10h39, última modificação: 02/05/2023 10h39
Usuários se queixam da redução do número de linhas e de veículos, especialmente nos horários de pico e à noite
Ônibus Pegando Passageiros na Via_F. Evandro (5).JPG

Usuários do sistema de transporte coletivo da capital se queixam da demora dos veículos de várias linhas - Foto: Evandro Pereira

por Carol Cassoli*

Em 2019, 465 ônibus circulavam pelas 99 linhas que existiam em João Pessoa. Nessas linhas, trabalhadores, estudantes, idosos, crianças, turistas e demais cidadãos dividiam espaço nos carros que rodavam pela cidade das 5h às 22h e também nos tetéus, veículos que circulavam madrugada adentro para atender a demanda de passageiros que precisavam de transporte depois da meia-noite. De lá para cá, muitas foram as mudanças no transporte público pessoense. Atualmente 408 veículos dão suporte às 82 linhas ativas na capital. Juntos, esses carros representam pouco mais de 87,7% da quantidade de veículos existente antes da pandemia, quando 465 carros operavam 99 linhas na cidade. Os dados são do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa (Sintur-JP).

Impactada pela pandemia de Covid-19, a frota sofreu reduções na quantidade de linhas em 2020 e, desde o fim do isolamento social, os passageiros demandam não apenas pelo retorno de rotas específicas, mas também pelo aumento na frota e pela melhoria no serviço.

Todos os dias de manhã Maria Eduarda Santos utiliza dois ônibus para ir até ao Centro de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde estuda. O primeiro deles é o 102, que ela pega perto de casa, no conjunto João Paulo II. Quando chega ao Mercado Central, no Centro, a estudante desce e espera por algum veículo que faça o corredor da avenida D. Pedro II; sobe no primeiro que vier ou no primeiro que parar, já que muitos deles ficam lotados em horário de pico e, por isso, “queimam” algumas paradas.
“O caos começa já no primeiro ponto, com os ônibus lotados! Nesse período chuvoso só piora. Semana passada estava literalmente chovendo dentro do ônibus”, reclama a estudante ao relatar que, na linha 102, um mesmo ônibus tem atendido seis bairros.

Muitos usuários compartilham as mesmas dificuldades que Maria Eduarda. É que, embora o serviço atual represente pouco mais de 82,8% da atividade desenvolvida no pré-pandemia, ele ainda não é o suficiente para suprir a demanda dos horários de pico.

Moradora do Colinas do Sul, Brenda Ramiro utiliza ônibus de duas linhas diferentes diariamente. Para ir à UFPB, pega o 523. Já a caminho do trabalho, utiliza a linha circular 1519, que passa por Valentina Figueiredo, Cruz das Armas, Lagoa, avenida Epitácio Pessoa e, também, pela UFPB e pelo Unipê. Mesmo tendo queixas a respeito do 523, que demora muito para passar, é o 1519 que marca diariamente a jovem. Segundo Brenda, os carros desta linha passam apenas uma vez por hora e é isso que faz com que eles estejam sempre superlotados. “Como é que um ônibus com um fluxo tão grande, ainda mais em horário de pico, só passe de uma em uma hora? Isso é inadmissível”, se revolta.

Para quem, assim como Maria Eduarda, espera algum carro que pertença às linhas 300, a situação é a mesma que a de Brenda no 1519. “No Mercado Central os ônibus estão lotados e ainda tem a demora. Já aconteceu de eu dividir carro de aplicativo com outros estudantes”, conta a estudante.

Passageiros reclamam de serviço precário

As reclamações a respeito do serviço prestado no transporte coletivo da capital são muitas. Moradora do bairro de Mangabeira VIII, Heloísa Araújo, de 25 anos, também depende dos ônibus de João Pessoa para acessar a maioria dos espaços e denuncia os problemas estruturais com os veículos da frota. “Tem um restaurante popular perto da minha casa e sempre que o 302 parava lá um senhor cadeirante tinha que usar a rampa de acesso. O problema é que mais de cinco vezes já vi todo mundo tendo que descer do ônibus, porque a rampa emperra e não é possível continuar a viagem”, conta.

Quem também sofre com a precariedade do serviço à noite é o estudante Vitor Gomes, de 21 anos. Ele depende do serviço público para se deslocar do Cristo até a universidade e também para outros espaços. E embora tenha uma opção disponível para sair do bairro onde reside, Vitor não está satisfeito, pois ela é a única: “A rota é ruim. Onde eu moro só passa um ônibus, mais nada”. Como estuda à noite, Vitor frequenta aulas que vão das 19h às 22h20, horário em que o último ônibus da linha 204 passa.

“Minha mãe até ligou no Sintur-JP para pedir que considerassem mais um horário, mas quem a atendeu disse que era fácil resolver: Era só eu pegar um ônibus da UFPB para a Lagoa, e um da Lagoa para o Cristo. Isso às 23h? O último ônibus passa às 22h20”, explica.

Preço da passagem
Atualmente 408 veículos dão suporte às 82 linhas ativas na capital. Juntos, esses carros representam pouco mais de 87,7% da quantidade de veículos existente antes da pandemia, quando 465 carros operavam 99 linhas na cidade. Os dados são do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa (Sintur-JP) e mostram que a mudança aconteceu durante os períodos mais ávidos da doença, quando o transporte coletivo operou apenas para funcionários do sistema de saúde. Ao retornar, a frota já não era mais a mesma.
“As passagens só aumentam e o serviço diminui. Tenho para mim que, à noite, as frotas são reduzidas. Ou seja, a frota que mal funciona durante o dia é reduzida à noite”, reflete Maria Eduarda Santos.

Nos pontos de ônibus é comum ouvir dos passageiros a mesma reclamação feita pelas estudantes. A comparação entre o preço da passagem e a qualidade do serviço oferecido no transporte público pessoense é recorrente e se tornou mais comum em fevereiro deste ano, quando as passagens sofreram reajuste de R$ 0,30. De acordo com os usuários, o valor cobrado nas viagens realizadas dentro da cidade não condizem com o estado de conservação dos carros, tampouco com o atendimento prestado por motoristas e funcionários do Sintur-JP, a exemplo dos auxiliares que ficam nas paradas onde há maior circulação de pessoas, como a Lagoa e a antiga Integração do Varadouro.

Em retrospecto, enquanto 57 carros saíram da frota nos últimos quatro anos, a passagem aumentou R$ 0,75. Este ano, um reajuste médio de 6,8% foi realizado em março e elevou o custo do transporte público de R$ 4,40 para R$ 4,70.

Mais 20 ônibus novos serão entregues hoje

A Prefeitura de João Pessoa fará, hoje, o lançamento da edição municipal do Movimento Maio Amarelo, que neste ano tem como tema “No trânsito, escolha a vida”. O evento será marcado pela entrega oficial de 20 ônibus zero quilômetro que serão incluídos imediatamente na operacionalidade do transporte público da capital, melhorando a prestação do serviço aos passageiros. O evento ocorrerá às 7h30, no Parque Solon de Lucena. O prefeito Cícero Lucena participará da solenidade.

De acordo com Expedito Leite Filho, superintendente da Semob-JP, além dos 20 ônibus zero quilômetro que serão entregues, outros 20 veículos seminovos já estão em circulação integrando a frota. “A aquisição dos ônibus foi uma determinação acordada durante a reunião do Conselho Municipal de Mobilidade Urbana no início deste ano e que está sendo cumprida. Teremos até julho mais 20 veículos novos, totalizando 40 ônibus zero quilômetro reforçando o sistema que atende a cidade”, ressaltou o responsável pelo trânsito e transporte de João Pessoa.

Em março deste ano, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), anunciou um acordo para que as empresas concessionárias de transporte coletivo da capital obtivessem direito à isenção de 50% no Imposto Sobre Serviço (ISS). Pela resolução, as empresas deveriam entregar 80 ônibus (40 veículos novos e 40 seminovos) à capital. À época, de acordo com o Sintur-JP, existiam 79 linhas com 400 veículos e a estimativa era que R$ 35 milhões fossem investidos no transporte público.

Pouco depois do anúncio do acordo, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP), divulgou, também, um ajuste em 24 das linhas da capital. Com as mudanças, alguns horários foram readequados e houve ampliação da atuação da frota à noite e em feriados. 89 novas viagens também foram inseridas no sistema. E, conforme cronograma publicado no Diário Oficial do Município em 18 de abril, 20 ônibus devem ser entregues até 31 de maio e outros 20 até 31 de julho.

Maio Amarelo
O Movimento Internacional Maio Amarelo tem como objetivo conscientizar a população sobre comportamentos prudentes no trânsito para evitar acidentes de trânsito. De acordo com levantamento do Comitê de Estudos e Monitoramento de Acidentes de Trânsito (Cemat/Semob-JP), entre janeiro e março de 2023, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu-JP) atendeu 1.043 vítimas de acidentes de trânsito.

Comparando ao mesmo período do ano passado, quando foram socorridas 918 pessoas, constata-se um acréscimo de 13,62% no número de pessoas acidentadas. E, segundo dados do Instituto de Polícia Científica (IPC), houve uma redução do número de mortes no trânsito, no mesmo período entre janeiro e março, onde no ano passado, 24 pessoas morreram após ocorrências no trânsito e, em 2023, ocorreram 19 óbitos.

Para trabalhar pela redução do número de acidentes e vítimas, durante este mês de maio, equipes de educação de trânsito da Semob-JP estarão realizando ações em escolas, vias públicas e instituições privadas.

*Matéria publicada na edição impressa de 02 de maio de 2023.