José Alves
Um protesto clamando por justiça e pela revogação do habeas corpus concedido pelo desembargador Joás de Brito Pereira a Rodolpho Gonçalves Carlos da Silva - neto do empresário José Carlos da Silva Junior, do grupo São Braz, também ligado à Rede Paraíba de Comunicação -, suspeito de ter atropelado e matado o agente de trânsito Diogo Nascimento de Souza, ao fugir de uma blitz da Operação Lei Seca na madrugada de sábado (21), mudou ontem a rotina do trânsito e dos pessoenses. O protesto feito por agentes de trânsito teve início às 8h em frente à sede do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PB), no bairro de Mangabeira, e seguiu em carreata até o prédio do Tribunal de Justiça da Paraíba, com a seguinte faixa: “Se o Judiciário comete Injustiça. A quem recorremos?”.
Para os trabalhadores do Detran-PB, Diogo Nascimento era uma pessoa que amava o que fazia, era um bom trabalhador e bom pai de família. O agente de trânsito Wilham Alves, coordenador da Lei Seca na Paraíba, afirmou que Diogo perdeu a vida quando trabalhava buscando salvar a vida de outras pessoas.
“Perdemos um irmão, mas nossa luta vai continuar com mais rigor e mais segurança. O cara que atropelou nosso irmão é um criminoso, porque um homem que sai de casa para ingerir bebida alcoólica e para dirigir é um marginal. Ele não atropelou um agente de trânsito, ele matou um trabalhador de forma brutal e covarde”, desabafou Wilham, falando em um carro de som em frente ao Tribunal de Justiça.
Diogo Nascimento, de 34 anos, morreu após ser atropelado enquanto trabalhava na fiscalização da Operação Lei Seca, no Bessa, em João Pessoa, na madrugada de sábado passado. Após ser atropelado de forma violenta e sem que o suspeito prestasse socorro, ele foi socorrido em estado grave para o Hospital de Trauma, mas não resistiu aos ferimentos e foi a óbito no início da noite de domingo.
O Porsche
Rodolpho Gonçalves Carlos, suspeito de atropelar o agente de trânsito, dirigia um carro de luxo da marca Porsche, placas PXB-0909, registrado em nome de Ricardo de Oliveira Carlos da Silva. O Porsche é um carro super veloz e tem a facilidade e a potência de sair de zero a 100 quilômetros por hora em menos de cinco segundos.
Ao atropelar o agente Diogo, ele fugiu do local sem prestar socorro à vítima, mas foi descoberto rapidamente porque com o impacto da batida a placa do veículo caiu e foi apreendida pelas autoridades. Rodolpho vai responder criminalmente por homicídio doloso qualificado pelo atropelamento e morte do agente da Lei Seca, segundo informações do delegado Marcos Paulo, superintendente da Polícia Civil na Região Metropolitana de João Pessoa.
Óbito
A morte do agente da Lei Seca foi anunciada oficialmente às 18h de domingo passado pela direção do Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. Segundo a nota, o paciente Diogo Nascimento de Souza, vítima de atropelamento, veio a óbito às 18h do domingo (22). Porém, antes de anunciar a morte do agente, os médicos do hospital informaram que foram realizados novos exames, que mostraram não mais haver fluxo cerebral, confirmando-se, portanto, o óbito do paciente. Os primeiros a receber a informação sobre a morte de Diogo foram seus familiares.
Protesto
O anúncio da morte de Diogo provocou o protesto realizado ontem, com a participação de representantes de trabalhadores de trânsito, da Polícia Rodoviária Federal, Semob, Polícia Civil, Polícia Militar e Detran, além de todos os funcionários do órgão onde Diogo trabalhava. O protesto teve início às 8h em frente a sede do Detran, em Mangabeira, e seguiu pelas principais ruas e avenidas de João Pessoa até a frente do Tribunal de Justiça da Paraíba, onde se encerrou ao meio-dia.
O desejo dos participantes era que a justiça fosse feita e que a tragédia que acometeu a família de Diogo servisse como marco para estimular uma mudança de consciência sobre o consumo de álcool ao volante e o respeito aos profissionais que diuturnamente trabalham para tornar as ruas mais seguras.
Eles também pediam punição para o estudante Rodolpho Gonçalves Carlos, com a finalidade de impedir que outras famílias venham a chorar a perda de seus familiares para a guerra do trânsito.
Expediente
Em razão da morte do agente de trânsito Diogo Nascimento, durante todo o dia de ontem não houve expediente no Detran, nem nos postos do órgão espalhados por todo o Estado. O superintendente do Detran-PB, Agamenon Vieira, informou ontem que os usuários que tinham processos cujos vencimentos estavam previstos para ontem (segunda-feira), poderão, sem prejuízo de seus direitos, realizar os procedimentos hoje (terça-feira), quando o expediente volta à normalidade.
Novo protesto hoje
“Eu quero paz no trânsito” é o título do protesto que será realizado hoje, a partir das 15h, no Parque Solon de Lucena (Lagoa), no Centro de João Pessoa, pelos agentes de trânsito do Detran-PB e da Semob-JP. A manifestação terá a participação de agentes de trânsito de Patos, Cajazeiras, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo e Olinda, e de outros municípios dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, como também de agentes da Polícia Rodoviária Federal, BPTran, Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e Semob. O objetivo é pedir justiça pela morte do agente Diogo.
Em nota, os agentes do Detran e da Semob-JP disseram contar com a presença de todos os trabalhadores de trânsito na Lagoa, onde estarão reunidos familiares e amigos de Diogo, além de parceiros de outros órgãos de trânsito, para realizar, a partir das 15h, ações em alusão ao Dia Municipal de Paz no Trânsito. “Todos juntos por um trânsito mais seguro e humanizado”, diz a nota.
Dor e emoção marcam velório e sepultamento (Rachel Almeida - Especial para A União)
O velório de Diogo Nascimento foi realizado ontem, na Escola Técnica Estadual, em Mangabeira, e o sepultamento no cemitério do Cristo Redentor. Familiares, amigos e companheiros de trabalho homenagearam Diogo em um coral uníssono, ao som da música “Raridade”. O velório teve a presença de agentes de trânsito do Detran, da Semob e do Corpo de Bombeiros. O governador Ricardo Coutinho também esteve no local, juntamente com o secretário de Estado da Segurança, Cláudio Lima.
Para o superintendente do Detran-PB, Agamenon Vieira, o atropelamento foi brutal e inesperado, pois era “um agente que estava em seu trabalho com a missão de salvar vidas”. Ele disse que o motorista aparentemente ia parar, mas quando o agente Diogo se aproximou, ele acelerou e fugiu, em “um ato criminoso”. “Estamos em uma guerra silenciosa, em que as pessoas transformam carros em armas. Esperamos que a justiça seja feita, pois no mínimo esse motorista deveria ter ficado recolhido, até apurar tudo”, disse.
O secretário de Estado da Segurança, Cláudio Lima, afirmou que a perda de um ser humano é irreparável, principalmente de um agente público, então, para ele, essa situação não deve ser “só lamentada, mas jamais deve ocorrer algo igual”.
Dedicado, alegre, motivador. Foi desta maneira que o agente de trânsito da Lei Seca, Felipe Toni Braz, caracterizou Diogo. Juntamente com a dor da perda, Felipe ainda sentiu a sensação de “culpa”, pois Diogo estava lhe substituindo naquele dia. “Eu não estava no momento em que o acidente aconteceu, mas ele estava me substituindo, por isso sofro ainda mais porque ele se foi no meu lugar. Eu tenho certeza que onde ele estiver vai querer que a gente continue o trabalho de salvar vidas. Quero apenas justiça, pois a soltura do responsável pelo acidente faz com que a gente sofra duas vezes mais”.
O diretor da Lei Seca, Maurício Alves, deixou claro que mesmo diante de um momento de profunda dor e pesar, vivenciado por todos, a operação terá continuidade. Será uma forma de homenagear Diogo e todas as famílias que perderam entes queridos pela mistura do álcool e direção. “Após este acidente temos a obrigação de intensificar mais ainda essa operação. A Paraíba pode ter a certeza que essa luta jamais irá acabar, pois é uma determinação do governador, objetivado em lutar pela preservação da vida da sociedade. Espero que seja feita justiça e que o autor desse assassinato não seja mais um nas estatísticas de impunidade”, finalizou.