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Poesia

Amor em diferentes escalas

publicado: 24/07/2023 08h39, última modificação: 24/07/2023 08h39
Escritora e poeta paraibana Débora Gil Pantaleão apresenta sua quinta obra poética, ‘Amorzinho’, resultado de uma pesquisa das várias formas afetivas
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Reunindo textos inéditos criados desde 2021, livro aborda temas que vão desde o amor narcísico, passando pelo teor mais irônico, até o amor pelos animais, numa pegada antiespecista e vegana - Imagem: Quintal Edições/Divulgação
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Débora Gil Pantaleão desenvolve os poemas por uma ótica cada vez mais psicanalítica, uma das suas formações acadêmicas - Foto: Bruna Dias/Divulgação
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por Joel Cavalcanti*

“Não me deixa esquecer, amor / que o tempo é curto e a saia justa / que não devemos nos entregar às mesquinharias dessa gente / que os nossos corpos juntos / são como as folhas destinadas ao chão / é preciso que estejamos atentas / ao tempo mas não só / as ampulhetas não são nada lineares / e os nossos corpos derretem com a chuva / lembremos do amor / até ele esquecer de nós”

Lembrar do amor até ele se esquecer de nós. Esse é o poema nomeado apenas com o algarismo V, e um dos 37 presentes em Amorzinho, (Quintal Edições, R$ 36), quinto livro de poemas da paraibana Débora Gil Pantaleão, que está em pré-venda no site da editora mineira composta só por mulheres (quintaledicoes.com.br). Reunindo textos inéditos criados desde 2021, a obra é resultado de uma pesquisa sobre o amor em suas mais diferentes formas, e que a escritora vem desenvolvendo por uma ótica cada vez mais psicanalítica, uma de suas formações acadêmicas.

“Esse foi um tema que me permeou muito nos últimos anos. Ele tem muito a ver com todas as formas do amor, desde o amor narcísico que minimamente a gente precisa para sobreviver, e de ter sido amada pelos pais. De ter um corpo que foi ‘libidinado’, amado. Mas ele também passa pelas lutas políticas que a gente tem na vida, pelas relações amorosas. Pelo amor aos animais porque tem alguns poemas que têm essa pegada antiespecista e vegana”, descreve a autora sobre os temas que mais a movem subjetivamente, e que estão amadurecidos pelos pensamentos psicanalíticos de forma mais consciente em sua carreira bibliográfica.

Cercados de afetos, o “amorzinho” é analisado por diversas perspectivas que aproxima o leitor do universo do livro e que estão condensadas nas variadas acepções que o título no diminutivo incita, inclusive pela ironia. “Nós tentamos diminuir o quão enorme a gente faz com que alguns amores sejam em nossas vidas, que muitas vezes é destrutivo. Tem essa ironia de uma coisa que é tão importante na vida da gente ser chamado de ‘amorzinho’. E ao mesmo tempo tem essa coisa ‘fofa’ de como muitas vezes os casais se chamam”, explica Pantaleão.

Amorzinho possui em sua epígrafe um soneto da carioca Ana Cristina César, uma das claras referências para esse mais recente trabalho de Débora Gil, que também vem se debruçando sobre a obra da mineira Ana Martins Marques. “São pessoas que têm um texto que me interessa, que eu acho livre e me capta emocionalmente”, resume a paraibana.

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Débora Gil Pantaleão desenvolve os poemas por uma ótica cada vez mais psicanalítica, uma das suas formações acadêmicas - Foto: Bruna Dias/Divulgação

O livro contém ainda dois posfácio, do antropólogo Hermes de Sousa Veras e da psicanalista Giulliana Karla Marques, que trata como o corpo da mulher negra é visto sob a perspectiva do amor e do abuso. Os textos adicionam mais uma camada de reflexão sobre o amor, como uma despedida do livro com uma visão aprofundada do feminismo. “Tudo que eu acredito não consegue se dissociar do feminismo, mas são coisas que vão se acrescentando, e não mudando”. Dentro das perspectivas do amor, a autora fala também de seu amor complexo pela Paraíba, depois de ter em pouco tempo mudado a paisagem pessoense pela de Recife e de Salvador.

“No poema Hidrografia, falo da Paraíba e de João Pessoa. Quando a gente está longe de nossa terra, a gente a enxerga de forma bem interessante. De colocar os pés bem firmes na terra da gente. De como a gente sofre preconceitos em outros espaços. De como a gente lida com isso e tem que ser mais forte para que sou paraibana mesmo e amo minha terra”, afirma a escritora, que descreve assim sua relação com o estado-natal: “parahyba nunca me confiastes teus rios / embora eu reconheça teu potencial hidráulico / paraíba minha capital parahyba / eu choro e tu não reconheces meu pranto / embora tu precises de mim e eu seja o teu próprio corpo”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de julho de 2023.