Vandalismo, pichações e bancos quebrados estão entre os principais problemas encontrados nas praças históricas do Centro de João Pessoa. A informação é da Secretaria de Desenvolvimento e Controle Urbano (Sedurb) a qual registrou ainda que esta situação atinge todas as mais de 220 praças da capital paraibana.
No caso das praças de bairro, a depredação atinge também os brinquedos que são quebrados em pouco tempo após sua manutenção. Em nota, a assessoria da Sedurb informou que as manutenções das praças pessoenses acontecem de maneira periódica, seguindo um cronograma específico que contempla não apenas as áreas históricas, mas todas as praças da cidade.
“O calendário de zeladoria executado pela Sedurb inclui reparos estruturais, pintura, conserto de equipamentos e brinquedos, além de poda e paisagismo. No entanto, às vezes a manutenção é concluída em uma praça em um dia, mas na outra semana ela já está depredada”, descreveu.
O núcleo de manutenção e o de paisagismo possuem calendários diferentes envolvendo todas as praças. Os setores são pautados por solicitações da população que chega via ouvidoria e pelo site da prefeitura, na aba de atendimento ao cidadão. No entanto, a maior parte das situações encontradas pelas equipes não envolvem a ação do tempo, já que os objetos quebrados são repostos em uma semana e na semana seguinte novas depredações são registradas.
De acordo com a coordenadora do Patrimônio Cultural de João Pessoa, Daniella Bandeira, da mesma forma que a manutenção, reparos e paisagismo, o orçamento para recuperação/restauração dos monumentos históricos das praças (ex: imagens de bronze e bustos) também fazem parte da competência da Sedurb-JP. Porém, a gestora lembra que o vandalismo é um problema recorrente nestes espaços públicos. “Estas pessoas agem, normalmente, sem sequer conhecer o valor histórico do bem atingido. Costumeiramente, não é um protesto contra um ato histórico, mas um ato de violência”, declarou.
O Parque Solon de Lucena (Parque da Lagoa), por exemplo, é considerado um “cartão-postal” da cidade e é protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep). O espaço possui aproximadamente 35 mil metros quadrados de passeios pavimentados ligados às suas quatro entradas e conta com ciclovia, pista de cooper, pista de skate, área para esportes, quiosques, banheiros públicos e um posto da Guarda Civil Municipal e Polícia Militar. Este parque é frequentado diariamente por crianças e adultos e recebe shows musicais, apresentações de teatro e dança, atrações circenses, danças indígenas, maracatus, rodas de capoeira, ciranda, parques de diversão, dentre outras programações.
A Secretaria do Meio Ambiente (Semam) registrou no Parque da Lagoa 64 árvores oiti, mais de 210 palmeiras e mais de 735 árvores nativas como pau-brasil, sibipiruna, gameleiras, oitizeiros, pitombeiras, ipês amarelos, róseos e roxos, dentre outras espécies incluindo sombreiros, oliveiras, caraibeira, urucum, aroeira da praia, bambu castanholas, ficusbenjamina, ficusmicrocarpa, mangueira e cássea ferruginha.
Comerciantes criticam falta de manutenção
A Lagoa é classificada pelos visitantes como uma segura opção de lazer para moradores e turistas. No entanto, algumas pichações já podem ser percebidas na pista de Skate e depredações na parte de jogos (de dama e xadrez) e em alguns bancos.
A Praça da Independência, por sua vez, é um local de lazer frequentado para a prática de esportes e encontro entre pessoas de todas as idades, especialmente, os estudantes das instituições de ensino das proximidades. Hoje, a praça tem alguns lixeiros retirados do lugar e, segundo a assessoria da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), há muito furto e depredação destes equipamentos, mas a reposição é contínua na cidade. “Quanto à Praça da Independência, novos equipamentos devem ser instalados até o fim desta semana”, informou o órgão, através de nota.
Já na Praça João Pessoa, estão localizados o Palácio da Redenção e a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB). Neste local, os bancos não estão quebrados, mas a placa com a sua descrição já está totalmente apagada. O espaço tem um monumento em homenagem ao presidente do Estado, João Pessoa, assassinado em Recife, fato que alterou o nome da cidade em setembro de 1930. Esta morte foi uma das causas imediatas da Revolução de 3 de outubro daquele ano.
A trabalhadora autônoma Nairana Silva passa todos os dias por essa praça e acredita que hoje não existem mais tantos problemas relacionados à iluminação e que a presença de várias empresas favorece o movimento nesse local. “Mesmo assim, acredito que a estrutura da praça mereça uma atenção constante para evitar que se perca com o tempo”, observou.
A Praça Pedro Américo é frequentada por aposentados e também por aqueles que estão fazendo compras nas lojas próximas. No entanto, o vendedor Adilson Souza, lamenta a quantidade de objetos quebrados e a dificuldade na restauração dos monumentos neste local. “As pichações são comuns em várias partes. Tentam destruir o patrimônio”, conta.
Ao lado da Praça Pedro Américo está a Praça Aristides Lobo, local onde Valmir Batista trabalha há quase 20 anos. “Há muito tempo, o braço da estátua foi arrancado. É um monumento histórico importante e quem passa por aqui percebe o abandono”, lamentou.
Já a Praça Venâncio Neiva, também conhecida como Pavilhão do Chá, é muito arborizada com acácias, flamboyants, palmeiras e canteiro de flores. Porém, a descrição do equipamento está apagada e de acordo com o comerciante Genival Lima, atualmente o local convive com a depredação, mas, principalmente, com a sujeira. “É uma praça abandonada. Falta limpeza e a poda das árvores, que antes era feita com frequência, hoje quase não acontece. Há também a falta de banheiros que estão fechados e no lugar do banheiro utilizam o chão ou a parte do coreto”, relatou.
Genival mora em Cruz das Armas e desde 1998 trabalha na praça. Ele ressalta que quando começou a frequentar o Pavilhão do Chá, o local era muito diferente e lhe traz boas recordações. Hoje, lamenta a falta de manutenção. “Comecei aqui vendendo fichas telefônicas, depois cartões telefônicos e hoje recarga para celular e trabalho com moedas antigas.
Acompanhei muitas mudanças nesta praça, desde o piso, até a estátua, os bancos, as diversas reformas. É uma das praças mais antigas da cidade e com certeza é uma das que mais precisam de cuidados”, afirmou.
A Venâncio Neiva já passou por algumas restaurações ao longo dos anos e, inclusive, o Coreto teve sua restauração viabilizada em abril de 2000 pelo convênio Brasil/Espanha, e executada pelos alunos da Oficina Escola de João Pessoa. Hoje, a parte de cima do Coreto está tomada pela sujeira.
População cobra maior ocupação do Centro de JP
A venda e consumo de drogas em qualquer horário gera insegurança em algumas pessoas que trabalham ou visitam as praças da área histórica do Centro de João Pessoa. A afirmação é de Adilson Souza que há um ano trabalha próximo à Praça Pedro Américo e diz que vem perdendo clientes que não querem mais fazer compras naquela área. “Às 16h30 muitos já começam a fechar suas lojas porque o movimento é pouco embora tenha iluminação na praça. Todas as praças do Centro de João Pessoa estão sofrendo com a falta de visitantes e algo que as torne mais movimentadas”, explicou.
Inaldo Nunes é proprietário de uma loja de móveis próximo à Praça Pedro Américo e junto com outros lojistas, vendedores ambulantes e moradores do Centro Histórico pessoense organizou um grupo buscando a retomada do comércio e programações culturais, evitando o esvaziamento dessa área. “Existem empresários, moradores e pessoas que trabalham na rua (vendedores ambulantes, flanelinhas) tentando salvar o Centro, já que grandes empresas estão saindo daqui e o Centro ficou esquecido. Com essa saída, a aproximação de criminosos também se torna mais fácil”, destacou.
Para o empresário, as praças estão entre os espaços mais penalizados por essas mudanças, já que aumentam o vandalismo e as perdas na estrutura. “É preciso olhar o Centro com maior atenção evitando problemas como o esquecimento das praças, as depredações na estrutura e a insegurança das pessoas”, defendeu.
Já o comerciante Genival Lima acredita que o Parque da Lagoa e as praças Rio Branco, da Independência e João Pessoa possuem grandes movimentos proporcionados pela maior presença do comércio, serviços e órgãos públicos no seu entorno. Já em outras praças e parques há uma considerável queda no movimento. “Muitas empresas se mudaram para a região da praia, diminuindo o movimento nas praças. Por isso, a partir das 16h quase ninguém tem coragem de passear perto delas”, opinou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de julho de 2023.