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bancos de leite

Ampliar doações é fundamental

publicado: 14/10/2025 08h29, última modificação: 14/10/2025 08h29
Alimento supre as necessidades de bebês, especialmente prematuros, cujas mães não tiveram produção suficiente
2025.10.13 Banco de leite materno Hospital da Mulher © Leonardo Ariel (6).JPG

Estoque flutuante atual do Banco de Leite Anita Cabral é de 90 l, suficiente para 30 dias | Foto: Leonardo Ariel

por Bárbara Wanderley*

Nem todas as mães conseguem produzir leite materno suficiente para alimentar seus filhos recém-nascidos, principalmente nos casos de prematuros que ficam internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Nesse cenário, entram em ação os bancos de leite, recebendo doações de mães que têm o alimento em um volume excedente. Na Paraíba, o instituto referência é o Banco de Leite Humano Anita Cabral, de João Pessoa. De acordo com a coordenadora da Rede Estadual de Bancos de Leite, Thaíse Ribeiro, o estoque flutuante atual é de 90 l de leite, suficiente para suprir as demandas por até 30 dias, caso não sejam realizadas mais doações. Apesar disso, aumentar esse estoque com novas doações é fundamental.

Segundo explica Thaíse, o volume necessário para atender a demanda por leite humano está condicionado ao número de nascimentos de bebês prematuros e de baixo peso que precisarão do banco. “Por isso, a importância constante de ampliar o número de doadoras e o volume da coleta de leite materno, para manter o estoque disponível para a necessidade desses bebês”, afirma.

A coordenadora da Rede Estadual de Bancos de Leite conta, ainda, que, na Paraíba, mais de oito mil litros de leite são doados por ano. Esse alimento é processado pelos laboratórios dos bancos de leite e distribuído para mais de 12 mil bebês recém-nascidos, prematuros e de baixo peso, que estão internados nas UTIs neonatais. Só no Anita Cabral, são processados cerca de 400 l de leite por mês. Além de abastecer o Hospital da Mulher, na capital paraibana, esse banco também distribui, em média, 280 l para seis instituições hospitalares em João Pessoa.

Uma questão importante a ser ressaltada é que há uma grande rotatividade de doadoras, já que a mulher precisa estar amamentando para conseguir doar. “Geralmente, as mulheres doam por quatro, cinco meses. É muito raro alguma doar por mais de um ano”, aponta a nutricionista Rosa Melo, responsável técnica pelo controle de qualidade do Anita Cabral.

Atualmente, cerca de 250 doadoras são atendidas durante a rota domiciliar para a coleta do leite, na Região Metropolitana de João Pessoa. “Hoje, contamos também com o auxílio de duas viaturas dos bombeiros militares para coleta domiciliar do leite materno doado”, conta Thaíse. O projeto, chamado Bombeiro Amigo do Peito, foi ativado há pouco mais de um mês.

Nutrição

O leite materno é o alimento ideal para o bebê e fornece todos os nutrientes necessários até os seis meses de vida. Ele também protege de diversas enfermidades e ajuda, inclusive, a prevenir doenças crônicas na vida adulta. Com a oferta do leite aos recém-nascidos necessitados, os bancos proporcionam uma recuperação mais rápida.

“Quando a gente pensa em um bebê de UTI que não está mamando, precisa ofertar para ele o melhor alimento que a gente puder ter. O leite doado é um leite materno processado, que perde pouquíssimas características e é muito diferente de uma fórmula, que é artificial. Então, [essa] é a forma que a gente encontrou de dar o melhor alimento, que não está no peito da mãe, mas é de extrema qualidade. Em combinação com a medicação que ele toma, a gente vai ter uma evolução de bebês de UTI muito mais rápida”, afirma Rosa Melo.

Como doar

Para doar, a mãe precisa estar saudável e amamentando seu bebê. A comprovação de saúde vem por meio dos exames de sífilis, HIV e hepatite B, que são realizados quando ela se cadastra como doadora.

Se estiver na Região Metropolitana de João Pessoa, a mulher interessada nem precisa sair de casa. Basta entrar em contato com o Banco de Leite Anita Cabral, pelo WhatsApp 83 9103-0059, e expressar a vontade de ser doadora. “A gente vai até a casa dela para deixar o material, dar as orientações e depois, regularmente, uma vez por semana, a gente passa naquela região para coletar o leite. E, todas as vezes que a gente coleta, deixa um novo material, tudo já estéril”, detalha Rosa. O kit entregue pela equipe é composto por pote, máscara e touca.

A nutricionista conta que a prioridade para receber as doações é sempre do prematuro de baixo peso que não suga, ou seja, que está internado em UTI neonatal. “A gente, tendo estoque, consegue atender outros bebês por condições médicas, mas esses [prematuros] são a prioridade do leite pasteurizado”, frisa.

Rosa também explica que, como esses bebês não sugam diretamente do seio materno, as mães não têm tanto estímulo para a produção de leite, que, por vezes, é insuficiente, sendo preciso recorrer ao banco. “Apesar disso, tirando manualmente ou com bomba, há um certo estímulo. Temos projetos, em UTI, nos quais a mãe fica ao lado do bebê fazendo essa retirada, que é o que a gente chama de beira-leito. Ali, ela tem o estímulo de visualizar o bebê, tocar nele, o que também é importante para continuar produzindo leite. Por isso, aqui no Hospital da Mulher, a gente tem a Casa da Gestante, onde a mãe que está com o bebê internado em UTI pode ficar na instituição, para que ela tenha esse acesso livre em horários de dieta”, comenta.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de Outubro de 2025.