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Ataques de abelhas somam 47 casos

publicado: 20/03/2023 12h49, última modificação: 20/03/2023 12h49
Levantamento foi realizado pelo Hospital de Trauma de CG. Orientação é que vítimas busquem atendimentos
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Frequência dos animais no Sertão é maior nos períodos de chuva por ser a época ideal para a criação e multiplicação de abelhas - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

por Sara Gomes*

O Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande contabilizou 47 atendimentos envolvendo acidentes com abelhas, de janeiro até a primeira quinzena de março. No mesmo período de 2022, a unidade não registrou nenhum caso.

Caso presencie a passagem de uma “nuvem” de abelhas, o Corpo de Bombeiros recomenda que a população mantenha uma distância segura e espere os insetos passarem, e caso esteja próximo dos insetos voadores, é aconselhável deitar ou se sentar em um local até que elas terminem o seu trajeto. Em João Pessoa, o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) é referência para acidentes por animais peçonhentos.

Quando há uma maior oferta de néctar das flores para as abelhas transformarem em mel, acontece o processo de migração das abelhas para a formação de novas colmeias e também para fugir da seca com destino ao Brejo paraibano e Litoral. Este período de deslocamento das abelhas pode gerar ataques de abelhas.

O Corpo de Bombeiros da Paraíba, Centro de Assistência Toxicológica de João Pessoa (Ceatox) e especialistas orientam como se comportar diante de um exame e o que fazer após uma picada de abelha. Afinal, 5% da população mundial têm alergia severa às picadas de abelhas, embora, seja uma parcela pequena da população, os alérgicos sofrem sérios riscos de vida em caso de acidente em locais remotos e longe de atendimento especializado.

Antes de atacar um ser humano, as abelhas emitem sinais de comportamento, segundo o apicultor Edivaldo Ferreira Pacheco, especialista em própolis vermelha no Litoral da Paraíba. “Elas geralmente avisam, fazendo zumbindo em volta da pessoa, que ela pensa estar ameaçando a colmeia. A primeira providência é proteger o rosto e sair rapidamente do local, de preferência no sentido a favor do vento”. Segundo o apicultor, “isso evita que as abelhas sigam o rastro do cheiro. Se houver mata no local, recomenda-se passar entre as folhas das árvores, pois elas criam uma barreira para as abelhas não acompanharem”.

O tenente do Corpo de Bombeiros, Hellyson Guedes, enfatiza que em nenhuma hipótese as pessoas devem tentar matar uma abelha dentro do enxame, pois ela vai liberar o odor, atraindo outras abelhas. “Se for uma colmeia isolada, o ideal é evitar barulho, tentar mexer, capturar ou exterminar e ligar para o 193”.

Mas se, ainda assim, a pessoa sofrer um ataque de abelhas, a orientação do coordenador do Ceatox-Jp, Hemerson Iury Magalhães, é a de que a vítima deve se dirigir imediatamente ao hospital para remover os ferrões o mais rápido possível.

“O paciente, no ambiente hospitalar, terá os ferrões removidos com lâmina. Não se deve utilizar pinça ou tentar removê-los com os dedos, sob o risco de injetar mais veneno no organismo, nem adicionar qualquer produto sobre o local afetado. Paralelo a isso, o paciente terá suas funções vitais monitoradas pelo profissional de saúde”. Poderá ser aplicado no local afetado compressa gelada, administração de anti-histamínico e corticosteróides (medicamentos feitos com acompanhamento médico-ambulatorial)

Interferência humana é causa das ocorrências

Os principais motivos que levam um ser humano a ser atacado por abelhas estão relacionados à interferência do homem sobre seu habitat natural. De acordo com o apicultor Edivaldo Ferreira Pacheco, especialista em própolis vermelha no Litoral da Paraíba, as abelhas não são agressivas, mas sim, defensivas por diversos fatores como cheiro forte, corte de árvore, pancada no chão por enxada, trator ou quando pessoas fazem trilha nas proximidades das colmeias da natureza.

“A natureza é habitat natural dos animais e o ser humano deve estar preparado para enfrentar esses desafios, pois não são só abelhas que devem preocupar, mas também cobras, aranhas, entre outros peçonhentos”.

No Litoral, durante o inverno, existe pouca oferta de néctar e os enxames tendem a diminuir na natureza, não ocorrendo com frequência a enxameação das abelhas. Já no Sertão, segundo o apicultor Edivaldo Ferreira, o tempo de chuvas é o melhor para a criação e multiplicação das abelhas, dada a oferta abundante de flores, consequentemente, ocorrem naturalmente enxameações pela necessidade de sobrevivência da espécie.

O veneno das abelhas Apis Melliferas chama-se Apitoxina e é extremamente perigoso para pessoas alérgicas, mas mesmo não alérgicos podem sofrer risco se forem picados, simultaneamente por 200 ou mais abelhas. Esse veneno compõe um complexo de compostos bioativos que em grandes quantidades podem intoxicar o organismo, porém o apicultor Edivaldo Ferreira explica que em doses terapêuticas podem representar excelente terapia para pessoas.

“A exemplo de doenças autoimunes, tipo artrite, artrose, viroses, esclerose múltipla, lupus, entre outras, inclusive lesões nas articulações, fraturas e alívio de dores crônicas. Existe uma terapia holística chamada Apiterapia, onde o Apiterapêuta utiliza todos os produtos das abelhas, como mel, própolis, pólen, apitoxina (o próprio ferrão ou substâncias elaboradas com apitoxina), cera, entre outros, para fins de tratamento da saúde, beleza e estética”, destacou.

De acordo com informações do Ceatox, os acidentes podem provocar reações alérgicas graves em curto prazo (anafilaxia), como também alterações locais como dor, edema, lesões na pele e até alterações sistêmicas, como ação hemolítica do veneno, alterações hemodinâmicas como hipotensão, bradicardia, chegando até insuficiência renal.

Relembre o caso
Em menos de 15 dias, foram registrados dois casos envolvendo ataques de abelhas na Paraíba. Em um dos casos, um idoso com mais de 80 anos morreu com mais de dois mil ferrões pelo corpo.

As picadas ocorreram na tarde da última terça-feira, quando o idoso estava no sítio onde morava e foi surpreendido por um enxame de abelhas. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande, mas veio à óbito algumas horas depois.

*Matéria publicada orginalmente na edição impressa de 18 de março de 2023.