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censo na paraíba

Baixo envelhecimento nos quilombos

publicado: 06/05/2024 09h42, última modificação: 06/05/2024 09h42
Dados do IBGE apontam que povos tradicionais do estado envelheceram menos em relação à média nacional e do NE
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O Censo Demográfico 2022 marca a primeira vez em que o IBGE levanta dados específicos sobre quilombolas, que correspondem a 1.330.186 brasileiros | Foto: Weverson Paulino/Agência Brasil

por João Pedro Ramalho e Redação*

A população quilombola da Paraíba envelheceu menos que os quilombolas de todo o país e do Nordeste. De acordo com os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de envelhecimento desse grupo populacional no estado é de 47 – o 7o menor entre as Unidades Federativas (UFs) do país e o 3o menor entre as UFs nordestinas. Na região, apenas os quilombolas de Sergipe (44,26) e Alagoas (46,04) têm uma taxa de envelhecimento inferior.

Esses números indicam que, na Paraíba, a cada 100 crianças e adolescentes quilombolas com até 14 anos, há 47 pessoas com 60 anos ou mais. O índice de envelhecimento nacional é de 55, enquanto que, no Nordeste, ficou em 54. Vale ressaltar que o Censo 2022 marca a primeira vez em que o IBGE levantou dados específicos sobre as populações moradoras e remanescentes de quilombos.

Faltam médicos que entendam a demanda dos quilombolas, e, por estarmos distantes dos centros urbanos, temos dificuldade de ser atendidos
- Luciene Tavares

Para Luciene Tavares, pedagoga e quilombola de Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande, o baixo envelhecimento entre os quilombolas da Paraíba aponta para o menor acesso a políticas públicas, especialmente de saúde. Isso acontece, segundo a pedagoga, tanto porque as comunidades rurais, maioria entre os quilombos do estado, ficam distantes dos hospitais, quanto por haver um menor preparo dos profissionais para abordar questões específicas dos quilombolas.

“Ainda faltam médicos que entendam a nossa demanda, enquanto população quilombola. Temos doenças que nos afetam muito, como a anemia falciforme, a hipertensão arterial, a miomatose. E, por estarmos distantes dos centros urbanos, também temos dificuldade de chegar [ao atendimento médico], porque o acesso é por estrada de terra”, explica Luciene. A quilombola de Caiana dos Crioulos também frisa que, em muitos casos, as famílias se veem obrigadas a deixar as comunidades, migrando para as grandes cidades, na tentativa de obter melhores condições de cuidar dos idosos.

Indígenas

Já entre os indígenas paraibanos, o fenômeno observado pelo IBGE foi diferente. O índice de envelhecimento dessa população no estado, segundo o Censo 2022, é de 47, ainda inferior à taxa observada entre os indígenas no Nordeste (61,5), mas superior ao total nacional (35,6). Na comparação com o Censo 2010, quando o índice foi de 33, nota-se um crescimento de 14 pontos percentuais – que representam, segundo o IBGE, um rápido envelhecimento da população indígena da Paraíba, no período de 12 anos.

A superioridade das taxas de envelhecimento dos indígenas paraibanos e nordestinos sobre o índice registrado nacionalmente pode ser sintoma de um fenômeno migratório. O antropólogo e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Estêvão Martins Palitot, conta que muitos indígenas do Nordeste deixaram suas terras, entre as décadas de 1970 e 1990, para buscar emprego nas capitais da região ou até no Sudeste. Na Paraíba, isso também aconteceu com moradores de Baía da Traição, que partiram para Santa Catarina, com o objetivo de trabalhar na indústria pesqueira. Recentemente, porém, percebe-se que uma parte desses migrantes tem retornado aos seus locais de origem.

“Esse é um fenômeno real, que talvez o IBGE esteja conseguindo quantificar, de pessoas retornando para viver a aposentadoria em sua terra natal. Passaram a vida toda fora, e, às vezes, retornam com filhos, às vezes, só como casal, mas voltam para viver com os parentes, para viver na aldeia”, relata o antropólogo.

Idade mediana e sexo

Na pesquisa divulgada ontem pelo IBGE, também foi revelada a idade mediana dos indígenas e quilombolas do estado. O índice refere-se à idade que separa a metade mais jovem da metade mais velha da população. Em ambos os casos, a taxa foi de 30 anos.

Outros dados do Censo 2022 lançaram luz sobre a proporção entre pessoas do sexo masculino e feminino nessas populações, revelando uma predominância de mulheres nos dois segmentos. Entre os indígenas da Paraíba, 51% são mulheres e 49% são homens. Já entre os quilombolas, a proporção é de 50,9% para pessoas do sexo feminino, contra 49,1% do sexo masculino.

Perfil mais jovem e maioria masculina são destaque nacional

Segundo os dados nacionais do Censo 2022, 56,10% dos indígenas do Brasil – população que corresponde a 1.694.836 pessoas (0,83% do total nacional) – têm menos de 30 anos de idade (sendo que, de toda a população brasileira, 42,07% correspondem à mesma faixa). Quando considerados apenas os residentes em terras indígenas (36,73% dessa população), o percentual sobe para 68,9%.

Já a idade mediana é de 25 anos entre os indígenas do país – 10 anos abaixo da mediana de toda a população nacional. Entre aqueles que habitam áreas demarcadas, o índice cai para 19 anos, saltando para 30 entre os que residem fora dessas terras. Quanto ao indicador de envelhecimento, se a taxa referente aos indígenas brasileiros é de 35,6, entre aqueles residentes em áreas certificadas, o número cai para 14,52. O índice geral da população brasileira é de 80.

Quanto ao sexo, o Censo 2022 mostra que a população indígena é mais masculina na comparação com o total de residentes no Brasil. Enquanto o país possui 94,25 homens para cada 100 mulheres, especificamente entre os indígenas, há 97,07 homens para cada 100 mulheres. Considerando apenas os residentes em áreas demarcadas, a proporção aumenta ainda mais: 104,9 homens para cada 100 mulheres. Por outro lado, o recorte com indígenas que vivem fora dessas terras demonstra o inverso: são 92,79 homens para cada 100 mulheres.

Os dados do IBGE sobre os quilombolas trouxeram conclusões similares, apontando para um perfil mais jovem e presença elevada de homens. De 1.330.186 quilombolas do Brasil – que representam 0,66% de todos os residentes no país –, 48,44% têm 29 anos ou menos e 38,53% situam-se na faixa entre 30 e 59 anos, enquanto os idosos correspondem a 13,03%. 

Mais da metade dos indígenas do país (56,10%) tem menos de 30 anos, mesma faixa etária de 42,07% do total nacional | Foto: Roberto Guedes

A idade mediana dos quilombolas é de 31 anos, e, quando se consideram apenas os residentes em terras quilombolas delimitadas (que abrigam 12% do total desses povos), o índice cai para 28 anos. No recorte sobre sexo, há 100,08 homens para cada 100 mulheres quilombolas, sendo que, nas áreas demarcadas, a proporção cresce para 105,89 homens a cada 100 mulheres.

Pesquisadores do IBGE destacam a necessidade de novos estudos para investigar as causas desse cenário, mas sugerem como possíveis explicações para os dados levantados, tanto entre os indígenas quanto entre os quilombolas: uma menor mortalidade masculina entre os que vivem em terras delimitadas, graças a uma maior segurança nessas áreas, e uma maior migração de mulheres – que estariam partindo, por exemplo, para trabalhar nas cidades –, além de uma maior mortalidade materna, ligada à distância entre muitos desses locais e serviços de saúde mais completos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 04 de maio de 2024.