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Vivendo em casas com rachaduras e que ameaçam desabar, famílias relatam noites em claro e temor da chuva

Barreira do Castelo Branco: medo é companhia dos moradores

publicado: 01/06/2022 09h34, última modificação: 01/06/2022 09h34
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Foto: Edson Matos

por Lucilene Meireles*

As chuvas que caíram em João Pessoa nos últimos dias provocaram lentidão no trânsito, alagamentos em alguns trechos e aumentaram o risco de deslizamentos. Para quem mora sobre a barreira do bairro Castelo Branco, na Rua Joaquim Pedro da Silva, o perigo é iminente. Mesmo interditadas pela Defesa Civil Municipal, duas casas permaneciam ocupadas pelos moradores até ontem - segundo os moradores, à espera do auxílio-aluguel. A Defesa Civil de João Pessoa anunciou que as quatro casas interditadas inicialmente e já desocupadas serão demolidas.

“Estamos discutindo a probabilidade de demolição imediata para diminuir a pressão na barreira que, além de estar muito encharcada, está sob pressão, porque tem aquele peso sobre ela”, constatou. A intenção é diminuir o peso para que se porventura ocorrer outro deslizamento, seja de terra e não de escombros”, declarou o coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, coronel Kelson Chaves.

O cabeleireiro José Bruno Simões Candeia relatou ter recebido a visita de representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da própria Defesa Civil. “Interditaram para derrubar. Pediram para esperar 15 dias, mas estou com muito medo, porque a barreira continua encharcada. Passei a noite em claro”, disse.

Para a dona de casa Maria Augusta Gomes de Araújo, a preocupação é ainda maior porque tem duas crianças em casa. “A preocupação é enorme, porque as paredes estão rachadas e eu vejo a hora desabar tudo. À noite, enquanto um dorme o outro tem que ficar acordado. Difícil demais nossa situação”, contou ela, que mora com o marido e os filhos.

“Vamos retirar essas famílias. Em verdade, nós já deveríamos ter retirado, mas como o local de abrigamento ainda não foi definido e tem uma criança muito pequena, não podemos colocar em qualquer lugar. É uma questão de humanidade. Vou cobrar isso com urgência”, garantiu o coronel Kelson.

Ele explicou que, em parceria com outras secretarias, como a de Desenvolvimento Social (Sedes), está estudando um local adequado para relocar as famílias. As demais foram para casas de parentes. Disse ainda que outras famílias que ainda estão nas casas em risco sobre a barreira serão levadas para a Comunidade São Luiz, no bairro do Bessa.

Na barreira do Castelo Branco, que é de responsabilidade da União, Kelson afirmou que o município não tem responsabilidade direta para construir, por exemplo, um muro de arrimo. Explicou que a presença da Defesa Civil é para preservar a integridade física das pessoas, tanto as que trafegam na BR-230 quanto as que estão sobre a barreira. As decisões com relação à barreira foram tomadas através de um colegiado que envolveu, entre outros, Defesa Civil, Dnit e Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Sem vítimas

A Defesa Civil recebeu dois chamados na manhã de ontem, uma da comunidade São Luiz, no Bessa, e outra na Penha. Porém, conforme Kelson Chaves, sem gravidade, sem vítimas ou necessidade de relocar famílias. Ele explicou que a Penha tem situação idêntica à da ladeira entre Mangabeira e Valentina, assim como o Parque do Sol. “São situações exatamente iguais, antigas passagens molhadas que foram concebidas num passado distante e mantidas até hoje. As águas de riachos foram se avolumando, mas esses locais ganharam pavimentação, e a capacidade de absorver a água da chuva, porque havia solo, foi perdida. Assim, toda vez que chove em Mangabeira, Valentina, Bancários e Quadramares, a água escoa para o rio”. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 1 de junho de 2022