O município de Belém, que liga a Paraíba ao estado do Rio Grande do Norte, vai sediar, no período de 11 a 14 de dezembro, a etapa local da Rota Cultural Raízes do Brejo deste ano. Chegando a mais uma cidade da região, o festival itinerante promoverá uma agenda que se destaca pelas atrações culturais e pelo turismo ecológico. “A expectativa é de recebermos o público das cidades circunvizinhas. Temos o privilégio de estarmos localizados a 30 km da divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte”, explicou a secretária de Cultura de Belém, Márcia Regina Soares.
Como apontou a representante da Prefeitura Municipal, a valorização dos artistas belenenses — como artesãos, músicos e cordelistas — é a grande distinção do evento, que vai enfocar também a culinária local, além de dar visibilidade a toda cadeia produtiva da cultura e do turismo regional. “Estamos nos preparativos da programação, para que possamos receber os turistas e os conterrâneos e celebrarmos a gastronomia, a fé, a arte e a cultura”, complementou Márcia. Entre os destaques da agenda, estão visitações à Indústria Alimentícia Três de Maio, conhecida por seus famosos biscoitos, e ao engenho da cachaça artesanal D’dil.
Em sua sétima edição, a Rota Cultural Raízes do Brejo é uma iniciativa do Fórum Regional de Turismo Sustentável do Brejo Paraibano (FRTSB-PB), realizado com apoio do Governo do Estado e das prefeituras dos 10 municípios participantes. Aberto no dia 17 de outubro, em Lagoa de Dentro, o circuito já passou por Alagoinha, Serra da Raiz, Dona Inês e Juarez Távora. Após Guarabira, que recebe a agenda neste fim de semana, será a vez de Pirpirituba (de 5 a 7 de dezembro), seguida por Belém, Duas Estradas (19 a 21 de dezembro) e, finalmente, Pilõezinhos, que encerra a programação com atividades de 26 a 28 de dezembro.
Para Josenildo Fernandes, presidente do FRTSB-PB, a intenção da iniciativa é dar visibilidade, especialmente, aos pequenos municípios da região, que podem divulgar suas tradições, vivências e pontos turísticos, encantando visitantes de outras localidades. Sobre isso, a secretária de Cultura de Belém reforçou que o desenvolvimento da interiorização do turismo e o fortalecimento da cultura, proporcionando o senso de pertencimento da população, também são benefícios que o festival gera para as cidades-sede.
Agenda inclui musical e caminhada ecológica
A abertura oficial do Raízes do Brejo em Belém está prevista para as 19h de 12 de dezembro (sexta-feira), na Praça 6 de Setembro, com uma apresentação da banda marcial Raul Barbosa. Na ocasião, os moradores e turistas ainda poderão presenciar um concerto da saxofonista Giovanna Rocha, com seu projeto Sax Celebration. O musical “Saudade da Porta de Casa” é outra atração da abertura. “O espetáculo conta a história do município de Belém, quando era um povoado e tinha o nome de ‘Gengibre’, erva ardente cultivada pelos indígenas potiguaras que habitavam a Serra da Copaoba”, detalhou a secretária Márcia Regina. Para encerrar a primeira noite do evento, haverá shows com os cantores Ramon Bernardo e Paula Dayana.
Mas, apesar de a solenidade de lançamento acontecer no próximo dia 12, as atividades ligadas ao circuito cultural começam em 11 de dezembro. Às 8h desse dia, ocorrerá uma visita à Indústria Três de Maio. A fábrica, que nasceu como uma pequena panificadora, foi inaugurada em 1953 e, hoje, projeta-se nacionalmente na produção de produtos como pães e biscoitos. Ao longo do dia, estão programadas ações na Biblioteca Municipal Professora Maria Lira, com a exposição de artes visuais do artista belenense Porpino Filho e a exibição de um curta-metragem.
O principal atrativo da agenda de 13 de dezembro (sábado) é uma caminhada ecológica pela trilha de escrituras rupestres que fica na Zona Rural de Belém. Lá, é possível observar gravuras ancestrais em formas de mãos e representações geométricas. O município abriga, a propósito, quatro sítios arqueológicos, com vestígios de três mil a nove mil anos. Após o passeio, será a vez de a Praça 6 de Setembro tornar-se palco de um sarau cultural e de um aulão de zumba, além dos shows de Gabriel Alves e da dupla Renan e Júlia.
Já o último dia do Raízes do Brejo em Belém vai ser marcado pela visita ao Engenho Retiro, onde é feita a cachaça D’dil. O forró de Patrícia Martins e do dueto Vânia e Marcelino animará os participantes do passeio.
Tradição religiosa reflete origens históricas
A região onde hoje se encontra Belém foi habitada inicialmente por indígenas potiguaras, que vivenciaram, na Serra da Copaoba, inúmeras disputas de terras contra tabajaras e colonizadores. Conforme indicado pela secretária de Cultura do município, o povoado construído em forma de cruz que se originou no local foi nomeado inicialmente de “Gengibre”, possivelmente pela abundância do seu cultivo pelos indígenas.
De acordo com a professora de História Djanira Meneses, no início do século 20, os frades capuchinhos frei Herculano e frei Martinho, convidados para pregar Santas Missões na região, sugeriram uma mudança de nome para a localidade, ao se deparar com uma população marcada por confrontos constantes. “Era uma cidade onde havia muita briga. Mas, quando eles vieram para fundar uma capelinha, a de Nossa Senhora da Conceição, nomearam o lugar de ‘Belém’, com o intuito de apaziguar os conflitos”. Assim, o título local passou da raiz forte e ardente para Belém (“casa do pão”), termo associado à cidade natal de Jesus Cristo e a uma ideia de paz e mansidão. Conta-se também que todas as armas encontradas na área foram enterradas sob a nova capela. Ainda segundo a professora, a intervenção religiosa surtiu efeito e a região ficou mais pacata, sendo, até hoje, caracterizada como um lugar de bastante fé.
Até meados do século passado, Belém era apenas um distrito da cidade de Caiçara, sem maior expressão, contando apenas com quatro ruas, que se cruzavam entre si. Eram elas: a Rua do Sossego, a Rua Paraguai, a Rua Gameleira e a Rua da Empresa. Em 1957, finalmente, foi efetivada a emancipação política do distrito de Belém de Caiçara, que se tornou município.
Conforme o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade abriga uma população de cerca de 16 mil habitantes.
Paradas de sucesso
Entre os pontos turísticos mais populares de Belém, desponta a Pedra do Cordeiro, formação rochosa de aproximadamente 240 m de altura que oferece, especialmente aos adeptos do turismo de aventura, espaço para a prática de rapel e trilhas ecológicas por belas paisagens, com vistas deslumbrantes de todo o município. Ao longo do percurso, também é possível contemplar pinturas rupestres preservadas em superfícies de pedra.
Símbolo máximo da religiosidade belenense, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição é considerada o marco zero da cidade. A edificação foi erguida em 1934 e possui uma arquitetura neoclássica. Relatos apontam que a comunidade de moradores e de fiéis locais desejava tanto que o templo fosse levantado que muitos deles contribuíram diretamente com as obras, mobilizando-se em um mutirão para carregar tijolos e materiais de construção.
Outra parada de sucesso entre os visitantes de Belém é o já citado Engenho Retiro, onde é fabricada a Cachaça D’dil. No estabelecimento, é possível conferir os bastidores do processo artesanal e 100% natural de produção da bebida, elaborada sem aditivos químicos desde 1920 e comercializada, inclusive, para além das fronteiras paraibanas. Por meio de visitas guiadas no espaço, os turistas podem acompanhar a etapa crucial da moagem até a degustação do produto final.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de novembro de 2025.
